Produção atual de arroz no Crato é apenas para ao consumo familiar. (FOTO: ANTÔNIO RODRIGUES) |
Pela
abundância de água que corria nos rios, o Crato sempre teve o arroz como uma
das principais produções. Há 10 anos, ainda que pequena em relação as outras
plantações, o cultivo do cereal ocupava 500 hectares do Município, segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A diminuição de chuvas
e o baixo volume dos mananciais, entretanto, foi tornando extinto o cultivo.
A
mandioca, que por muito tempo ficou esquecida na Chapada do Araripe,
ultrapassou a plantação do grão com ocupação de 135 hectares, contra, apenas,
80 hectares do arroz.
A
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Agrário e Recursos Hídricos (SMDARH)
estima que, em todo Crato, existam apenas 30 produtores. "Hoje, está em
extinção não no só no Crato, mas em todo Cariri, a agricultura familiar de uma
forma geral. O homem do campo que trabalhava em 10 tarefas, hoje trabalha em
duas", afirma Zilcélio Alves, titular da SMDARH. O secretário lembra que,
há 30 anos, o município era um grande produtor de arroz e a produção era
altamente comercializada. Cada comunidade, inclusive, tinha suas máquinas para
beneficiar o produto. "Hoje, só têm duas ou três, em todo o município. Os
que cultivam, estão com dificuldade", lamenta.
Consumo
familiar
No
sítio Malhada, a 22 quilômetros da sede do Município, cerca de seis
agricultores mantém a plantação de arroz no vale do Rio Carás. O grupo cultiva
três espécies: vermelho, dourado e mitica. Como as chuvas deste ano a
expectativa do grupo é ultrapassar 13 toneladas.
O
agricultor José Humberto Sebastião Agostinho, de 54 anos, e seus irmãos
cresceram plantando o cereal. Depois de ver sua família ir embora, foi o único
que continuou. "Diz que o agricultor tem fé, mas não é fé. É obrigação. Eu
mesmo não estudei, então o que a gente sabe fazer é isso aqui", enfatiza.
Além do arroz, o agricultor planta feijão, milho, amendoim e fava. "Hoje
ainda vendo por aqui mesmo, já que a maioria não produz", explica.
Praticamente
todos os moradores da comunidade da Malhada trabalhavam com arroz e largaram
pela diminuição do volume do Rio Carás. O aposentado José Monteiro foi um
deles, que saiu do Crato para morar em São Paulo e tentar uma nova vida como
operador de máquinas. "Quando saí daqui em 1974, o rio tinha muita água,
muito peixe. Todo mundo plantava", recorda.
Antônio
Joaquim Monteiro, 51, irmão de José, não abandonou a cultura mesmo com a
escassez de chuvas. "O serviço meu é esse. Meu pai que ensinou pra gente.
Na época, esse baixio era completo de arroz. Hoje, da Ponta da Serra pra cá, só
tem plantação em três lugares", descreve. Com o elevado custo da produção,
ele se mostra pessimista com o futuro. "Não tem que compre e quem quer
ainda pede para vender 60 quilos por R$ 60. Futuramente vai acabar isso
aqui", opina.
Incentivo
A
SMDARH tem utilizado políticas públicas para tentar resgatar a produção de
arroz no Município. Uma delas foi a criação do Programa de Aração de Terras dos
Agricultores Familiares (Proara), que beneficiou 2 mil pessoas com a preparação
da terra para a plantação, destes 33 agricultores no Sítio Malhada.
Outras
políticas de incentivo que poderão contemplar os produtores de arroz a partir
do ano que vem é o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa
Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Porém, a compra desta produção para a
merenda nas escolas e equipamentos públicos ainda esbarra no uso de agrotóxicos
de parte dos agricultores. "Se tornou uma coisa cultural o uso do veneno.
Mas uma orientação nossa é acabar com a total utilização. Só podemos levar se
não tiver o uso", reforça Zilcélio. Diário do Nordeste
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