A
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a comercialização
da primeira insulina inalável do País. A resolução que concede o registro ao
produto foi aprovada na última quinta-feira (30) e publicada nesta
segunda-feira (3), no Diário Oficial da União.
Batizada
de Afrezza, a nova insulina é comercializada em pó, em cartuchos com três tipos
de dosagem. Para utilização, o paciente com diabete deve encaixar o cartucho no
inalador e aspirar o pó. A substância chega ao pulmão e é absorvida pela
corrente sanguínea, onde cumpre a função de reduzir os níveis de açúcar no
sangue. Hoje, as insulinas disponíveis no mercado brasileiro são todas
injetáveis.
Segundo
especialistas, embora represente uma alternativa no tratamento do diabete e um
ganho na qualidade de vida por reduzir o número de injeções, a Afrezza tem
limitações. Ela não é capaz de substituir todas as aplicações diárias de
insulina, tem pouca variedade de dosagens e é contraindicada para pacientes com
problemas pulmonares e menores de 18 anos. Por outro lado, por não exigir
refrigeração, é mais fácil de transportar e armazenar e poderá reduzir o número
de picadas de agulha a que o paciente tem que submeter-se diariamente.
A
insulina inalável pode substituir somente as aplicações de insulina de ação
rápida ou ultrarrápida, também chamadas de bolus. Esse tipo de insulina é
utilizada geralmente antes de cada refeição, quando o organismo precisa de um
volume maior do hormônio para compensar o açúcar ingerido.
O
outro tipo de insulina, a basal, de ação mais lenta, é geralmente aplicada
somente uma vez por dia e não poderá ser substituída pelo produto inalável,
como explica Lívia Porto, endocrinologista do Centro Especializado em Obesidade
e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
"Se
o paciente diabético tem um tratamento nesse esquema basal-bolus, ele costuma
fazer pelo menos quatro aplicações por dia: uma basal e três bolus, no café da
manhã, almoço e jantar. Se passar a usar a inalável, ele diminuiria de quatro
aplicações diárias para uma aplicação. Seria um ganho de qualidade de vida, mas
não substituiria totalmente a injetável", diz a médica.
Para
Heraldo Marchezini, CEO da Biomm, empresa responsável pela fabricação e
distribuição do produto no Brasil, a facilidade de manuseio e uso da Afrezza
representa um avanço na qualidade de vida dos pacientes. "No momento das
refeições, o paciente muitas vezes tem que utilizar a insulina em uma situação
social, fora de casa, e, com a inalável, o procedimento pode ser mais rápido e
discreto. O inalador cabe na palma da mão. É uma grande inovação na forma de
aplicar", afirma.
Ele
afirma que o produto pode ser usado tanto por pacientes com diabete tipo 1
quanto por portadores do tipo 2 da doença. Considerando, no entanto, que a
maioria dos diabéticos tipo 2 fazem tratamento com comprimidos e não com
insulina, os principais beneficiados pelo novo produto seriam os pacientes com
diabete tipo 1, cujo tratamento obrigatoriamente inclui aplicação de insulina.
"No
caso do diabético tipo 2, a Afrezza seria indicada somente para aqueles
pacientes que não estão conseguindo controlar a glicemia somente com medicação
via oral", explica o endocrinologista Freddy Eliaschewitz, assessor
científico da Sociedade Brasileira de Diabetes e diretor do Centro de Pesquisa
Clínicas CPclin, instituição brasileira que participou dos estudos da insulina
inalável. Segundo o especialista, dos cerca de 15 milhões de brasileiros que
têm diabete, estima-se que 10% possua o tipo 1 da doença e 90%, o tipo 2.
Contraindicações
Os
médicos explicam que pacientes com problemas pulmonares não poderão utilizar o
Afrezza por duas razões. "A absorção pelo pulmão pode não ser a adequada e
a insulina inalável pode deflagrar crises de asma, com broncoespasmos",
diz Eliaschewitz. Estão incluídos na contraindicação pacientes com asma, Doença
Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e fibrose pulmonar, além de fumantes. No
caso de menores de 18 anos, a Afrezza é contraindicada porque o produto não foi
estudado em pacientes desta faixa etária. Estadão
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