Padre Ibiapina fundou 22 casas de caridade
pelo Nordeste.
(Fotos: Antonio Rodrigues)
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No
ano de 1819, José Antônio de Maria Ibiapina, o Padre Ibiapina, ainda
adolescente, aos 13 anos, mudou-se para o Crato, quando seu pai foi nomeado
tabelião vitalício da Comarca local. Mais de quatro décadas depois, o “apóstolo
do Nordeste” retorna ao Cariri, em outubro de 1864, já em trabalho missionário,
e funda 4 das 22 casas de caridade, voltadas para o acolhimento de
crianças órfãs, espalhadas por Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do
Norte.
Em
Crato, onde Ibiapina morou na juventude, iniciou a construção de uma delas, em
1868, e a inaugurou no ano seguinte, no dia 7 de março.
Passados
150 anos, a Casa de Caridade de Crato é uma das poucas ainda de pé pelo
Nordeste e que, até pouco tempo, cumpria seu papel principal: o acolhimento de
mulheres pobres, em maioria órfãs. Mas se antes a edificação era imponente em
um vasto terreno sem muitas ocupações ao redor, hoje, o prédio se esconde atrás
de outros tantos, como a Rádio Educadora. Sua marcante história foi, de certa
forma, um pouco esquecida já que a data de inauguração foi sequer celebrada
pelo Município.
Com
o lema “Ora e labora”, isto é, “Ora e trabalha”, ali, as meninas receberiam uma
educação religiosa e seriam preparadas para serem boas esposas e mães de
família. A acolhida era feita pelas “beatas do Padre Ibiapina”, como eram
conhecidas, que ensinavam as moças a costurar, cozinhar, cuidar da casa e
aprender as primeiras letras. “Para a época, isso era avançado pro sistema
patriarcal”, conta o pesquisador e advogado Heitor Feitosa, presidente do
Instituto Cultural do Cariri (ICC).
Nas
Casas de Caridade havia também a “roda de enjeitados”, uma estrutura cilíndrica
fechada do lado de fora em que as pessoas colocavam os bebês, rodavam, e
tocavam a campainha, entregando as crianças. A maioria eram mães que não tinhas
condições de criá-los. “Havia muitas mulheres que tinham uma gravidez
indesejada, seja por estupro ou por uma relação”, completa Heitor.
Fachada da Casa de Caridade encoberta pelo prédio da Rádio Educadora |
Foi
lá que, após ser condenada pela Igreja Católica, a beata Maria de Araújo,
protagonista do episódio conhecido como “Milagre de Juazeiro”,
iniciou sua reclusão que durou até o fim de sua vida. Alguns pesquisadores
acreditam que ela chegou a ser torturada enquanto era interrogada pelos bispos
que investigavam o suposto milagre da hóstia que teria se transformado em
sangue na sua boca.
Manutenção
A
madre Maria Carmelina Feitosa chegou ao Crato em 1938, aos 16 anos, para
estudar no Colégio Santa Teresa de Jesus e a Casa de Caridade estava em pleno
funcionamento, ainda sob cuidados das beatas. Ela lembra que o primeiro
noviciado da instituição aconteceu no equipamento fundado pelo Padre Ibiapina.
“Não tinha prédio para as irmãs residirem”, conta.
Até
a década de 1950, as beatas controlavam a Casa de Caridade com apoio das irmãs
formadas no Santa Teresa de Jesus, em frente à Casa de Caridade. “Eu
vinha prestar serviço, organizar as prestações de conta”, lembra Madre Feitosa.
Sem condições de administrar a instituição, que recebia apoio da Diocese, o
espaço passou a ser gerido pelas irmãs da escola vizinha. “Elas (beatas) mesmas
pediram para entregar as filhas de Santa Teresa”, completa.
Madre Maria Carmelina Feitosa
mostra a capela que tem 150
anos
|
A
partir da Casa de Caridade do Crato, surgiu a Fundação Padre Ibiapina, em 1956,
que deu origem à Rádio Educadora, ao Cine Teatro e, também, ao Colégio Pequeno
Príncipe, inaugurado em 25 de março de 1969. Antes disso, em 1961, Madre
Feitosa assumiu a direção da instituição. “Eu trabalhava com a classe média,
rica, no Santa Teresa. Aqui só tinha menina pobre. Quando cheguei, ainda haviam
mais de 40 meninas”, descreve.
As
salas do Colégio Pequeno Príncipe foram criadas ainda no prédio da Casa de
Caridade, que sofreu poucas alterações. A capela, por exemplo, só teve seu piso
reformado, mas ainda preserva parte do chão original. Até a década de 1960, o
local era mantido com apoio Cúria Diocesana e o trabalho das próprias irmãs que
promoviam cursos particulares, como de culinária, por exemplo, para manter o
lar de acolhimento.
Influência
Alguns
estudiosos acreditam que Padre Ibiapina inspirou o Padre Cícero Romão Batista,
que ainda jovem, aos 20 anos de idade, assistiu à inauguração da Casa
de Caridade de Missão Velha. No ano seguinte, se matricularia no seminário A
pregação, a comunicação e o serviço ao povo pobre e humilde de Ibiapina, fez o
“patriarca de Juazeiro do Norte” se tornar um dos líderes religiosos mais
importantes da região. Outro personagem importante influenciado pelas missões
foi o beato José Lourenço, seguidor do sacerdote cratense. Por
Antônio Rodrigues – Blog Diário Cariri
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