(Foto: Alex Gomes) |
O
empresário cearense Mauro Petri Gonçalves Feitosa Filho, hoje com 30 anos de
idade, tem a crença de que sua cura de um tumor no cérebro, diagnosticado em
2002, foi um milagre atribuído à Irmã Dulce. Nesta segunda-feira, o Vaticano
anunciou para o dia 13 de outubro a cerimônia oficial de canonização, em Roma,
que elevará a religiosa baiana à condição de primeira brasileira a se tornar
santa.
O
caso chegou a ser analisado, naquele ano, por uma comissão de peritos médicos,
nomeada pela Igreja Católica ainda no Brasil. A situação foi acompanhada à
distância pelo Vaticano e esteve prestes a ser levada para mais avaliações da
Congregação para a Causa dos Santos, em Roma - que monitora possíveis
santificados. Se passasse no crivo da Cúria e dos sacerdotes designados,
Maurinho teria sido o primeiro milagre oficial conferido a Dulce.
Por
se tratar de um câncer, havia o risco de recidiva da doença dentro de um prazo
de dez anos. O tratamento mais comum adotado pelo Vaticano era analisar e
aguardar. Foi uma das primeiras documentações juntadas para análise. A cura de
Mauro acabou sendo substituída no agendamento de Roma por um episódio com
desfecho mais rápido - o da sergipana Cláudia Cristina Santos, desenganada ao
sofrer uma hemorragia pós-parto em janeiro de 2001, no Interior da Bahia. A
sobrevivência de Cláudia esteve sob análise até 2010, quando foi reconhecido
como o milagre da beatificação da freira.
Em
maio de 2019, um segundo milagre acatado confirmou a canonização da religiosa,
para alçá-la ao altar de santa. O maestro baiano José Maurício, cego durante 14
anos devido a um glaucoma, voltou a enxergar em 2014. Ele fazia orações com a
imagem da beata encostada nos seus olhos, pedindo alívio às dores que sentia
frequentemente até então. O nome do músico brasileiro, hoje residente em Recife
e agraciado com o milagre, foi anunciado ontem, em Roma, pelo papa Francisco.
A
celebração especial de canonização de Irmã Dulce, em outubro, será presidida
pelo Sumo Pontífice. Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes nasceu em 1914 e
ficou conhecida como o “Anjo Bom da Bahia”. A obra de Dulce foi iniciada em
1949, quando um dia passou a abrigar doentes das ruas de Salvador na área onde
havia um galinheiro, ao lado do convento Santo Antônio, onde atuava. Ela será
proclamada santa juntamente com outros quatro beatos: o anglicano John Henry
Newman, a italiana Giuseppina Vannini, a indiana Maria Teresa Chiramel
Mankidiyan e a suíça Margherita Bays.
Apesar
do rito burocrático, a família do cearense Mauro Filho nunca deixou de atribuir
o feito do seu restabelecimento à Irmã Dulce, falecida em 1992 aos 77 anos e
àquela época já adorada em território nacional. Então com 13 anos em junho de
2002, o adolescente soube pelos pais e seus médicos que seria submetido a uma
cirurgia de grande complexidade.
A
intervenção deveria durar pelo menos 19 horas. E a previsão mais dolorosa era
que o procedimento talvez apenas atenuasse o quadro descoberto. “Disseram aos
meus pais que, sem a cirurgia, eu teria apenas mais três meses de vida e que
parte do tumor poderia continuar presente, mesmo depois da operação”, relembra
o empresário.
O
dia da cirurgia de Mauro, em São Paulo, seria numa sexta-feira. No dia
anterior, ele acabou sendo diagnosticado com doença de pele,a Escarlatina, rara
e até considerada erradicada no Brasil. Por conta disso, a operação para
extrair o tumor foi remarcada para a semana seguinte e, nesse meio tempo, ele
conta de um momento que teria sido especial. “Meus pais receberam uma relíquia
com um pedaço do véu de Irmã Dulce e, em oração, pediram a intercessão dela no
meu caso”. O presente dado pela mãe de um amigo, ele acredita, teria sido o elo
entre a fé e a cura.
No
centro cirúrgico, Mauro Filho chegou a receber a anestesia com dosagem para 19
horas de efeito sedativo. “Quando abriram minha cabeça, o tumor estava todo
solto e bem fácil de ser extraído. A cirurgia durou cerca de três horas”,
descreve o empresário. No dia seguinte, os sintomas que mais o incomodavam e
que foram decisivos para o diagnóstico do câncer cerebral - a visão duplicada e
a dor de cabeça intensa - haviam sumido completamente.
“Foi
como se não tivesse acontecido nada”. Após 12 anos, Mauro foi considerado
curado de algum risco quanto ao mesmo tumor. Em janeiro de 2015, o empresário
teve detectado um outro tumor no cérebro. “Completamente diferente do
anterior”, afirmou-lhe a mesma equipe médica.
Descobriram
quando ele teve convulsões enquanto jogava squash. Operado, a extração foi mais
simples. O primeiro caroço tinha a dimensão de um ovo de galinha, o segundo era
do tamanho de um feijão.
Maurinho
nunca mais teve nenhum sintoma associado ao tumor, mas, desde então, sua
família se envolveu completamente com o trabalho das Obras Sociais Irmã Dulce
(OSID). Seu pai, o empresário e advogado Mauro Feitosa, falecido em 2015, virou
embaixador da Casa de Irmã Dulce no Ceará. Maurinho hoje é casado e pai de
Dulce, de um ano e dois meses. “A Irmã Dulce mudou completamente nossa vida”. O Povo
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