A Comissão de Mortos e Desaparecidos havia emitido, em 24 de julho, um atestado de óbito que contrastava com a versão do presidente sobre a morte de Santa Cruz |
Na
mesma semana em que fez ironias sobre a morte de Fernando Santa Cruz,
perseguido político durante a ditadura e pai do atual presidente da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB), Jair Bolsonaro decidiu trocar quatro dos sete
membros da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos. O ato
que muda o quadro da comissão é assinado por Bolsonaro e pela ministra da
Mulher e dos Direitos Humanos, Damares Alves, e foi publicado no Diário Oficial
da União desta quinta-feira, 1º.
A
(ex) presidente da comissão, Eugênia Augusta Fávero, que esta semana criticou
Bolsonaro pelas declarações, está entre as excluídas. Ela foi substituída por
Marco Vinicius Pereira de Carvalho, advogado, filiado ao PSL e assessor de
Damares. Carvalho foi procurador municipal de Taió, interior de Santa Catarina,
e, segundo a imprensa local, foi investigado em 2018 por vazamento de edital de
concurso do Município.
Outras
mudanças
Ex-integrante
da Comissão da Verdade e defensora de perseguidos políticos, Rosa Maria Cardoso
da Cunha dará lugar a Weslei Antônio Maretti , coronel reformado do Exército.
Já João Batista da Silva Fagundes, coronel da reserva e ex-deputado, deixará o
posto para Vital Lima Santos, oficial do Exército. O deputado federal Paulo
Roberto Severo Pimenta (PT-RS) foi trocado pelo parlamentar Filipe Barros
Baptista de Toledo Ribeiro, do PSL.
Contexto
A
mudança na composição da comissão chega dois dias depois de Bolsonaro
contrariar dados de documentos oficiais e atribuir a morte do ex-militante
Fernando Santa Cruz, desaparecido desde 1974, a militantes de esquerda. Em
nota, a presidente substituída, Eugênia Gonzaga, disse que lamentava pelas
famílias de mortos e desaparecidos.
A
Comissão de Mortos e Desaparecidos havia emitido, em 24 de julho, um atestado
de óbito que contrastava com a versão paralela do presidente. O documento
afirma que o estudante "faleceu provavelmente no dia 23 de fevereiro de
1974, no Rio de Janeiro/RJ, em razão de morte não natural, violenta, causada pelo
Estado brasileiro, no contexto da perseguição sistemática e generalizada à
população identificada como opositora política ao regime ditatorial de 1964 a
1985".
A
Comissão
Em
18 de dezembro de 1995, um decreto criou a Comissão Especial sobre Mortos
e Desaparecidos Políticos. Em 14 de agosto de 2002, a Comissão passou a
examinar e reconhecer casos de morte ou desaparecimento ocorridos até 5 de
outubro de 1988, data de promulgação da Constituição Federal vigente.
Dois
anos depois, os critérios para reconhecimento das vítimas da
ditadura foram ampliados e dezenas de pessoas vitimadas por agentes
públicos em manifestações públicas, conflitos armados ou que praticaram
suicídio na iminência de serem presas ou em decorrência de sequelas
psicológicas resultantes de atos de torturam, foram reconhecidas. Desde
então, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos passou a
estar vinculada ao Ministério dos Direitos Humanos. O Povo
Nenhum comentário:
Postar um comentário