Tallyta Barbosa afirma que hoje consegue viver livre de surtos depois do diagnóstico correto. (Foto: Helene Santos) |
Anos
de diagnóstico errado, tristeza e apreensão em não saber o que tinha de
"errado" marcaram a vida de Tallyta Érica Barbosa da Silva, 26. A
cearense do município de Jaguaribara chegou a ficar 24 horas sem conseguir
andar e enxergar com clareza. Os primeiros sintomas preocupantes foram
ignorados pelos médicos da cidade, que consideraram o caso como uma
"garganta inflamada". À época com 17 anos, ela não sabia que se
tratava de lesões causadas pela esclerose múltipla (EM).
Após
ter se mudado para a Região Metropolitana de Fortaleza em 2010 por conta da
doença, Tallyta é uma das 515 pessoas em tratamento no Ceará, de acordo com a
Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). O número é o maior entre os estados do
Nordeste. "Coisa de interior, né? Esses diagnósticos errados. Eu não
fiquei satisfeita e vim para Fortaleza sozinha tentar descobrir. Fui a uma
clínica popular e tive sorte de encontrar um bom médico. Na minha primeira
ressonância já deu lesões desmielinizantes (tipo de lesão da EM)", relata.
Nesta
sexta-feira (30), é comemorado o Dia Nacional de Conscientização sobre a
Esclerose Múltipla. A data alerta a sociedade para os sintomas da doença e a
importância do diagnóstico precoce.
Alívio
Com
a descoberta da doença autoimune e crônica, Tallyta não se abalou. Ao
contrário, considerou um "alívio". "Para mim, a maior libertação
foi ter o diagnóstico. Quando eu descobri a doença, eu pensei: 'Poxa!
Finalmente, eu sei o que eu tenho e, finalmente, acreditam em mim'. Ninguém me
entendia. Achavam que eu estava inventando", desabafa. Ela relata que já
chegou a ser diagnosticada com depressão por um médico de sua cidade natal, no
interior do Ceará.
Hoje,
Tallyta, que já passou três anos sem escrever devido a tremores na mão, conta
que "quase não tem sequelas" e está livre dos surtos da EM. Ela se
trata há nove anos no Centro de Tratamento de EM do Hospital Geral de Fortaleza
(HGF). "Hoje, eu posso dizer que tenho praticamente zero sintomas. Apenas
a minha memória que falha e a fadiga que me incomoda", pondera a dona de
casa, que mora com o marido em Pacajus, na Região Metropolitana de Fortaleza.
15
mil
Pessoas
com a doença estão em tratamento no SUS. De acordo com o Ministério da Saúde,
estima-se que, no total, 35 mil brasileiros convivam com a doença.
Segundo
Carina Spedo, neurocientista e neuropsicóloga, é possível ter êxito no
tratamento e viver uma vida saudável assim como Tallyta. Entretanto, é preciso
ficar atento a sintomas como disfunções motoras, perda de equilíbrio,
sensibilidade ocular, perda de memória e fadiga intensa. "É uma doença que
não tem causa definida, é uma mistura de fatores genéticos e ambientais. Quanto
antes identificar, você começa o tratamento e consegue perceber novos surtos e
novas lesões para tratar", afirma.
Margarida
Moróró, presidente da Associação dos Amigos e Portadores de Esclerose Múltipla
do Ceará (Aapemce), também vive com a doença e é categórica: "É uma doença
silenciosa e fácil de confundir".
Números
1.766
pessoas estão em tratamento no Nordeste. Atrás do Ceará, onde o número é maior,
estão Pernambuco, com 408 e Bahia com 258, segundo o DataSus.
Tratamento
Na
Capital, quatro hospitais tratam pessoas com esclerose múltipla. O Hospital
Geral de Fortaleza (HGF) atende 264; o Hospital Universitário Walter
Cantídio 162 e o Hospital Geral César Cals e o Hospital Infantil Albert
Sabin atendem 3. O interior tem 83 pacientes. Diário do
Nordeste
Nenhum comentário:
Postar um comentário