Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC). (Foto: Bruno Gomes) |
Progressiva
e incurável, a obesidade afeta 20,2% da população de Fortaleza, conforme o
Ministério da Saúde. Para controlá-la e tentar reverter suas comorbidades, como
o diabetes e a hipertensão, é necessário tratamento clínico e, caso indicada, a
cirurgia bariátrica. No Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), 89
pessoas aguardam na fila de espera para passar pelo procedimento.
O
HUWC, da Universidade Federal do Ceará (UFC), é uma das duas únicas unidades de
saúde pública no Ceará que realizam cirurgia bariátrica. O G1 demandou à Secretaria
da Saúde do Estado (Sesa) quantas pessoas compõem a fila de espera pela
cirurgia no Hospital Geral César Cals (HGCC), onde também é realizado o
procedimento, mas não obteve a resposta.
Em
nota, a Secretaria informa que está reestruturando a rede para ampliar o acesso
aos serviços de saúde, inclusive cirurgias eletivas, e pretende expandir o
número de hospitais que realizam cirurgias bariátricas no Ceará. Conforme a
pasta, de janeiro a agosto deste ano, foram realizados 59 procedimentos no
Hospital Geral César Cals.
"O
paciente chega e diz que quer fazer. A gente vê se ele tem a indicação para a
cirurgia, e ele passa por três consultas com psicólogo, três com nutricionista,
tem que passar por psiquiatra. Então, a gente define se essa pessoa é candidata
ou não, pede exame de sangue, do coração, endoscopia. Isso é o preparo",
explica a endocrinologista Ana Flávia Torquato, do HUWC.
Etapas
Uma
vez terminadas as consultas, o paciente é encaminhado para a fila de espera na
unidade. Até a realização da cirurgia, demora cerca de um ano. A espera, porém,
é assistida, com o acompanhamento de endocrinologistas, nutricionistas,
psicólogos e psiquiatras, que atuam de forma a evitar que o paciente ganhe mais
peso até a data marcada para o procedimento.
Durante
o tratamento clínico, anterior à cirurgia, o foco é a mudança de hábitos
alimentares e a prática regular de atividades físicas. A meta, segundo Ana
Flávia, é perder peso para evitar riscos à saúde, e não pela estética. "A
gente prescreve remédio para controlar a fome, dependendo da indicação, e
procura controlar as complicações da obesidade, que geralmente são o diabetes e
a pressão alta. A obesidade aumenta o risco de vários tipos de câncer, doenças
cardiovasculares, cirrose hepática e infertilidade".
Perfil
Caso
não tenham conseguido emagrecer por meio do tratamento clínico — após um mínimo
de dois anos tentando —, os pacientes são admitidos para a cirurgia a partir de
dois critérios: caso tenham um índice de massa corpórea (IMC) acima de 40, ou
um IMC entre 35 e 40 com a presença de comorbidades.
Foi
o caso do produtor de eventos Thiago Belfort. Há sete anos, com 145 quilos, ele
sofria com apneia do sono e tomava remédios para controlar a pressão alta.
"Eu tinha uma alimentação bem errada. Essa coisa de fast food, lanches.
Não tinha tempo de almoçar, aí comia um sanduíche. Não tinha tempo de jantar,
aí comia uma pizza. Quando fazia os exames, via as taxas todas
descontroladas", conta.
Ele
passou pelo procedimento em 2012 e, em seis meses, perdeu 40 quilos. Ao
completar um ano desde a operação, Thiago pesava 70 quilos. "É uma nova
vida. Minha pressão costumava registrar 26 por 19. Hoje é 12 por 9. Consigo
dormir uma noite inteira sem a sensação de estar sufocando, voltei a gostar de
esporte. Antes, andava um quilômetro e sentia dores absurdas nas costas, na
bacia. Agora tenho vida ativa, corro, jogo futebol, caminho".
Ele
ressalta, ainda, a importância de seguir recomendações médicas e mudar hábitos
após a operação. "Muita gente acha que só a cirurgia resolve, mas, na
verdade, ela te dá outra chance. Você tem que manter e fazer sua parte".
Focos
Na
rede de saúde privada do Ceará, estima-se que sejam realizadas, por mês, uma
média de 160 a 200 cirurgias bariátricas, segundo o presidente da Sociedade
Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) no Ceará, Felipe Vento.
Ele explica que, enquanto a cirurgia bariátrica é focada na obesidade e no
controle do peso, a metabólica é voltada ao controle de diabetes e hipertensão.
"Tecnicamente,
são procedimentos semelhantes, mas com focos diferentes. A bariátrica ainda é
mais frequente, principalmente no Sistema Único de Saúde (SUS). Na rede privada,
está bem dividido", diz. "O foco é ajudar o paciente a mudar o estilo
de vida dele ao longo do tempo. Quando a gente consegue em conjunto uma boa
cirurgia, mais atividade física regular, e uma alimentação regrada, conseguimos
manter o paciente bem por muito mais tempo".
G1
CE
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