sábado, 24 de agosto de 2019

Governo Bolsonaro quer ampliar educação a distância no ensino superior federal


O governo Jair Bolsonaro (PSL) vai apostar na expansão do ensino a distância no sistema federal de ensino superior. O plano, ainda em desenvolvimento, ocorre em meio ao bloqueio de verbas que preocupa reitores. Segundo o ministro da Educação, Abraham Weintraub, o governo prepara um modelo de universidade federal e institutos federais digitais.

Avaliações do próprio governo federal mostram que cursos a distância têm menor qualidade na comparação com os presenciais. "Estamos estudando, está incipiente ainda, a Universidade Federal Digital e Instituto Técnico Digital através de plataforma para o Brasil todo. É pra lá que a gente vai caminhar", disse Weintraub nesta sexta-feira (23).

O ministro falou sobre o assunto durante entrevista em Brasília para anunciar o repasse de recursos para instalação de internet em escolas rurais de educação básica. De acordo com Weintraub, a plataforma vai prever módulos para que os alunos, sobretudo de áreas distantes dos grandes centros, possam seguir os cursos que desejam.

O ministro não deu detalhes se haverá novas instituições para oferta dos cursos ou se a expansão ficará a cargo das universidades e institutos. "[O estudante] vai poder [estudar] ficando com a família, tendo renda lá, sem se deslocar para os centros. E cai muito o custo, questão de dormitório, refeitório, [o aluno] pode eventualmente ir a simpósios, seminários, e juntar todo mundo para períodos mais curtos. O que barateia e facilita a interação", disse o ministro.

Weintraub ressaltou que o modelo pode ampliar a oferta de carreiras em regiões afastadas, embora tenha exemplificado a inviabilidade para cursos como de piloto de avião. O ministro chegou a comentar que o assunto da entrevista coletiva, de conectividade nas escolas, era mais importante do que as queimadas que ocorrem em florestas na região amazônica e que se tornaram uma crise internacional. Ele minimizou a situação e atribuiu a repercussão a uma suposta atuação de ONGs e ao interesse do agronegócio europeu.

"Hoje estamos falando de algo mais importante, que é a forma de mudar nossa forma de educar nossos jovens nas próximas gerações, que é a distância, via internet, de forma mais eficiente, mais humana, que permite cada uma dessas crianças sonhar alto", disse ele.

Situação atual
Na última avaliação federal com alunos concluintes do ensino superior, o Enade de 2017, 6,1% dos cursos presenciais tiveram conceito máximo; no ensino a distância, o percentual foi de 2,4%.

Cursos não presenciais têm sido aposta das instituições privadas para expansão das matrículas — além de poder facilitar o acesso do aluno, representarem ainda custos menores de operação. A modalidade já representa 25% dos alunos em instituições privadas.

As universidades federais já adotam o ensino a distância, mas em menor extensão. Em 2017, registrou-se 101.395 alunos na modalidade, o que representa 8% do total de matrículas. Os dados são da Sinopse Estatística da Educação Superior de 2017, do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais).

O bloqueio de recursos no MEC atinge ações que vão da educação infantil à pesquisa. Nas universidades federais, o bloqueio foi de R$ 2,2 bilhões, referente a cerca de 30% dos valores discricionários (que não contam salários, por exemplo). O MEC tem reafirmado que o dinheiro pode ser liberado até o fim do ano.

Iniciativa
Na campanha eleitoral, Bolsonaro havia indicado que o ensino a distância seria uma das apostas de seu governo. A entrevista coletiva foi convocada para o anúncio de liberação de R$ 60 milhões para a instalação de infraestrutura de conexão de internet em escolas rurais. Essa será a primeira execução no ano nesse programa.                      Folha de São Paulo

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