sábado, 3 de agosto de 2019

Indicação de Eduardo Bolsonaro para Embaixada nos EUA preocupa bancada do Ceará


A expectativa da indicação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL), para ser embaixador do Brasil nos Estados Unidos tem preocupado a bancada cearense no Senado. Embora ainda não esteja oficializada, parte dos governistas dá como certa a indicação. A possibilidade é que o trâmite já tenha início na próxima semana.

Mesmo sendo uma indicação da presidência da República, a nomeação só ocorre após aprovação dos senadores. Antes de chegar ao plenário, a sugestão precisa ser discutida e votada na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional. Nenhum cearense é membro do colegiado.

A bancada do Ceará, que conta com três parlamentares, deve votar a matéria em plenário caso haja a concretização das articulações no Palácio do Planalto.

Procurado, o senador Eduardo Girão (Podemos) adiantou que deve votar contra a indicação no plenário. O parlamentar justificou a decisão ao defender a nomeação de profissionais de carreira diplomática.

"Existe um preparo, todo um procedimento para a pessoa ser embaixador. Não tiro o mérito do filho, absolutamente. Agora, existe uma carreira de diplomata. Se quiser alguém que seja alinhado com as ideias dele, com a visão de mundo do presidente, que identifique na carreira diplomática alguém, mas que tenha um preparo porque não é só falar inglês", afirmou o senador do Podemos.

Girão assinou Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do senador Styvenson Valentim (Podemos-RN), que proíbe indicações de parentes a cargos públicos.

"O nepotismo é um flagelo que, no Brasil, deita raízes no período colonial. Uma prática secular como essa tende a se perpetuar se as alterações normativas destinadas a combatê-la não vierem acompanhadas de um processo de mudança de mentalidade. Isso não diminui a importância das alterações normativas, que certamente podem operar como agente catalisador das transformações culturais", justifica o senador na proposta.

Em entrevista ao Diário do Nordeste, o senador Tasso Jereissati (PSDB) foi cauteloso quando questionado sobre o assunto. "Precisa chegar o nome, que vai para a comissão. Eu não sou da comissão, essa decisão vamos tomar no plenário, mas, a princípio, vejo com muita cautela essa indicação e muita preocupação".

Também procurado, Cid Gomes (PDT) preferiu não se manifestar sobre o tema antes da oficialização da indicação. Para ser nomeado embaixador, Eduardo Bolsonaro precisa conseguir aprovação na comissão e ter maioria simples dos votos no plenário do Senado. A votação é secreta.

EUA
Na semana passada, o Brasil encaminhou uma consulta aos Estados Unidos para avaliar o grau de aceitabilidade do filho do presidente ao posto de embaixador no País aliado. Embora ainda não haja uma resposta sobre a solicitação, o presidente Donald Trump chegou a elogiar a possível indicação de Eduardo.

"Eu conheço o filho dele e é provavelmente por causa disso que ele o escolheu", disse. Questionado pelos jornalistas se não era caso de favorecimento a um membro familiar, o que poderia caracterizar nepotismo, Trump discordou.

"Eu não acho que seja nepotismo, porque o filho o ajudou muito na campanha. O filho dele é excepcional. É uma escolha excelente, eu não sabia disso", afirmou.

"Privilégios"
O presidente da Comissão de Relações Exteriores, senador Nelsinho Trad (PSD-MS), adiantou que, se confirmada a indicação, não haverá tratamento especial para o deputado no colegiado. O parlamentar prometeu que serão analisadas primeiramente as mensagens de outras cinco embaixadas, já na pauta.

"O rito legal da tramitação será cumprido. Não haverá benefício por ele ser o filho do presidente. Vai ter que entrar na mesma linha que os outros já entraram. Ou seja, não vai passar na frente de ninguém. Vai ser tudo dentro da maior transparência e normalidade", disse o presidente.

Polêmicas
Em meados de julho deste ano, o presidente Jair Bolsonaro iniciou mais uma polêmica no Governo ao considerar a indicação do filho para o posto nos Estados Unidos. Embora haja a carreira da diplomacia, a nomeação não necessariamente precisar ser de um profissional que faça carreira na área. Eduardo tem atuado como uma espécie de "chanceler informal" do pai nas viagens internacionais - o que ocorreu nas visitas de Bolsonaro aos Estados Unidos, Israel e Argentina.

O Psol chegou a entrar com uma representação na Procuradoria Geral da República (PGR) ao pedir investigação sobre a possível indicação. A legenda considerou o ato "ilegal" e "imoral". O parlamentar tem se defendido das críticas. Em uma das declarações, chegou a afirmar que a indicação não deve ocorrer por ser filho do presidente.

"Não sou um filho de presidente que está do nada vindo a ser alçado a essa condição. Tenho uma vivência pelo mundo, já fiz intercâmbio, já fritei hambúrguer lá nos Estados Unidos", argumentou.

Bolsonaro espera apoio do Senado para a nomeação
Apesar de ainda não ter se concretizado a oficialização da indicação de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) à embaixada brasileira nos Estados Unidos, o presidente tem dado declarações no sentido de que deverá manter a decisão.

Nas redes sociais, na última quinta-feira (1°), Jair Bolsonaro (PSL) disse estar otimista na análise dos senadores sobre o assunto. É o Parlamento que deve autorizar a nomeação.

“O tal de Eduardo Bolsonaro é presidente da Comissão de Relações Exteriores e Comércio Internacional da Câmara. Antes de ir para os Estados Unidos — tem que passar pelo Senado (a indicação) e a gente acredita que ele seja aprovado — ele aprova lá na Comissão e esse acordo aí vai nos dar nova esperança de começar a entrar nesse mundo dos satélites”, declarou em uma live nas redes sociais.

Demonstrando esse apoio que espera o presidente, o senador Marcos Rogério (DEM-RO) afirmou que o deputado tem condições de assumir o posto. “Há uma histeria muito grande, desnecessária. O Eduardo é um deputado federal que está no seu segundo mandato, é alguém que conhece os Estados Unidos. Se essa é uma escolha do presidente da República há de ser respeitada. É uma escolha discricionária dele”.                                   Diário do Nordeste

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