Os quartos que recebem os hóspedes são exclusivos para esta finalidade. (FOTO: ANTÔNIO RODRIGUES) |
Há
20 anos, um grupo de mães dos jovens que participam da Fundação Casa Grande -
Memorial Homem Kariri, em Nova Olinda, começou a abrigar os primeiros
visitantes que chegavam ao Município como forma de suprir a carência de hotéis
e pousadas existentes na localidade. O trabalho foi dando certo e se tornou uma
rede de turismo comunitária que inclui roteiros para pontos importantes como
Geossítios, Ponte de Pedra, Pedra Kariri, Parque dos Pterossauros, Pontal da
Santa Cruz e o ateliê do artesão de couro Espedito Seleiro.
Ao
todo, 12 domicílios se revezam para receber turistas do Brasil e do mundo no
aconchego de casa, vivendo a rotina de seus moradores. Italianos, franceses,
norte-americanos, canadenses, portugueses são só alguns dos visitantes que já
se hospedaram nas pousadas domiciliares. O valor da diária custa R$ 70 e inclui
o café da manhã feito pela receptora. "Com a vinda das pessoas para a
cidade, sentimos a necessidade de criar um lugar para elas ficarem",
detalha a professora aposentada Maria Macêdo, que adaptou sua casa para receber
os turistas.
Surgimento
Tudo
começou por acaso, quando um grupo de 10 crianças, da cidade de Caldeirão
Grande (PI), foi premiado com uma visita a Nova Olinda e não tinha onde se
hospedar. A ideia foi colocar os filhos para dormir nas casas de parentes e
receber os meninos piauienses. "Colocamos os de dentro para fora e os de
fora para dentro", brincou Maria. A ideia evoluiu e este grupo de mulheres
recebeu capacitação ao longo do trabalho de implantação. "Não senti nenhuma
dificuldade. Eu, como educadora, sou acostumada. Mas a gente não recebe todo
mundo, só recebe quem tem a ver com a Fundação Casa de Grande", pondera.
Relevância
As
pousadas domiciliares entram como um "turismo de conteúdo", como
define o coordenador do projeto, Júnior do Santos, em que o visitante tem
acesso ao acervo cultural e interage com as atividades desenvolvidas nestes
espaços. "É um meio de hospedagem que o turista está mais voltado a ter
experiência, contato com a cultura, a vida tradicional de cada lugar. Ele vem
para agregar a uma formação que já existe com os filhos dessas famílias. As
crianças e os jovens estão inseridos numa formação inclusiva de gestão
social", explica Santos.
Em
formato de rodízio, a rede oferece mais de 50 leitos. Porém, em meses como julho,
nas férias, e dezembro, quando acontece a renovação da Fundação Casa Grande,
evento que marca o aniversário da Instituição, as casas ficam lotadas. "É
uma extensão da casa deles. Tradições como alimentação e saberes acabam sendo
socializadas. Há muitas mães que são bonequeiras, fabricam bonecas. Acaba
havendo um resgate. Se torna um produto. As coisas foram surgindo de acordo com
a necessidade. Ampliar a memória sobre Espedito Seleiro, mostrar o ciclo do
couro foi uma delas", completa.
Laços
No
aconchego da casa de Maria, que é muito receptiva e prepara café com bolo para
os visitantes, vínculos foram criados. Antigamente, o almoço também era
oferecido nos domicílios, mas, agora acontece na sede da Casa Grande.
"Ficou até melhor para não preencher muito a casa e ficar cansada ou até
estressada para receber as pessoas", acredita a moradora.
Ao
longo destes 20 anos, com a diversidade de turistas de outros países, claro,
sempre houve obstáculos na comunicação entre a família acolhedora e os
hóspedes, mas sempre se deu um jeito. "De primeiro, os meninos falavam
alto. Eu dizia: "eles não são 'mouco', só não entendem o que a gente
diz", brinca.
Um
hóspede canadense, por exemplo, quando não entendia, desenhava para Maria.
Outra mulher da Califórnia (EUA) passou quase uma semana com o cabelo
assanhado, amarrado na cabeça, porque não conseguia pedir uma escova ou um
pente. Resultado: teve que usar o mesmo recurso. O convívio, embora com algumas
dificuldades, criou afetividade entre os pares. "As pessoas sempre voltam.
O bom é isso. Se voltam, é porque gostaram", exalta a professora. Diário
do Nordeste
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