Lula em sua última aparição pública, ao ser autorizado a sair para ir ao velório do neto(Foto: Miguel Schincariol / AFP) |
Criados
para discutir os rumos das investigações da Lava Jato, os grupos formados por
integrantes da Força Tarefa da Operação em Curitiba não pouparam o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nem durante os períodos de
luto enfrentados do político. Novas mensagens reveladas pelo portal Uol, em
parceria com o site The Intercept Brasil, mostram que os
procuradores criticaram a postura do petista no velório do
neto, Artur, ironizaram o falecimento de Marisa Letícia,
ex-primeira-dama, e disseram que o ex-presidente, a quem se referiram como
"safado", "só queria passear" ao pedir para viajar até
o velório do irmão, Vavá.
"A
morte da Marisa ainda liberou ele pra gandaia"
Marisa
sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) em 24 de janeiro de 2017 e foi
internada. No mesmo dia, o coordenador da Força Tarefa da Lava Janto em
Curitiba Deltan Dallagnol comentou: "Um amigo de um amigo de uma
prima disse que Marisa chegou ao atendimento sem resposta, como vegetal".
Januário Paludo reagiu à frase dizendo: "Estão eliminando as
testemunhas". No mesmo grupo, Jerusa Viecili ironizou: "Querem
que eu fique pro enterro?".
No
dia do velório, Lula disse que a então esposa morreu "triste por
causa da canalhice e maldade que fizeram contra ela". "Quero que
os facínoras que fizeram isso contra ela tenham um dia a humildade de pedir
desculpas. Se alguém tem medo de ser preso, este que está aqui enterrando sua
mulher não tem. Eu tenho a consciência tranquila. Não tenho que provar que sou
inocente. Eles que têm que provar que as mentiras que estão contando são
verdade. Então, Marisa, descanse em paz, porque esse Lulinha paz e amor vai
continuar brigando muito por sua honra", disse o político à época.
No
Telegram, os procuradores reagiram. Deltan classificou a fala do petista como
"bobagem". "Niguém mais dá ouvidos a esse cara",
continuou. Já para o procurador Antônio Carlos Welter, a morte da Marisa
fez uma mártir petista e ainda liberou ele pra gandaia sem culpa ou
consequência politica". Nas falas reproduzidas pela reportagem foram
preservadas as grafias das mensagens tal qual constam nos arquivos enviados ao
Intercept. Erros ortográficos não foram corrigidos.
No
mesmo dia do velório, em 4 de fevereiro, os procuradores comentaram sobre uma
coluna da jornalista Mônica Bergamo narrando a angústia enfrentada nos últimos
dias de vida por Marisa após a busca realizada na casa dela pela Polícia
Federal (PF) e o depoimento de Lula mediante condução coercitiva. "Ridículo...
Uma carne mais salgada já seria suficiente para subir a pressão... ou a
descoberta de um dos milhares de humilhantes pulos de cerca do Lula",
afirmou Laura Tessler.
Na
conversa, o procurador Januário Paludo ainda questionou as circunstâncias
da morte de Marisa Letícia. "A propósito, sempre tive uma pulga atrás da
orelha com esse aneurisma. Não me cheirou bem. E a segunda morte em
sequência", disse.
"O
safado só queria passear"
Em
29 de janeiro deste ano, foi a vez do ex-presidente lidar com a perda do
irmão, Genival Inácio da Silva, o Vavá. À época, Lula não foi autorizado a
ir ao local onde estava sendo realizado o velório. A liberação ou não do
político dividiu opinião no grupo. Em uma sequência de mensagens, Diogo
Castor defendeu a liberação do ex-presidente. "Todos presos em regime
fechado tem este direito", ponderou.
Por
outro lado, o procurador Orlando Martello disse achar "uma temeridade
ele sair". "Não é um preso comum. Vai acontecer o q aconteceu na
prisão" e conclui: "A militância vai abraçá-lo e não o deixaram
voltar. Se houver insistência em trazê-lo de volta, vai dar ruim!!".
Athayde
Ribeiro Costa tentou achar um meio-termo: "Como disse um de nós, leva
o morto la na pf", finalizou.
Após
a Polícia Federal dizer que não tinha como atender a logística para o translado
do ex-presidente, os procuradores voltaram ao tema. Antônio Carlos Welter
disse que Lula tinha o direito de ir ao enterro do irmão. "Eu acho que ele
tem direito a ir. Mas não tem como". Januário Paludo ironiza logo em
seguida: "O safado só queria passear e o Welter com pena". Laura
Tessler completa: "O foco tá em Brumadinho...logo passa...muito
mimimi".
"Estratégia
para se 'humanizar', como se isso fosse possível no caso dele rsrs"
Menos
de dois meses após perdeu o irmão, o ex-presidente Lula soube da morte do neto,
Arthur, de 7 anos. Jerusa Viecili foi a primeira a comentar no grupo com
os colegas da Força Tarefa: "Preparem para nova novela ida ao
velório". "Putz... no meio do carnaval", respondeu Athayde
Ribeiro Costa. Deltan Dallagnol comentou em seguida: "Tem q fazer
igual o Toffoli deu", disse. À época da morte de Vavá, o ministro
do Supremo Tribunal Federal (STF) permitiu que Lula fosse até uma base
militar na cidade onde ocorria o velório. Contudo, a autorização ocorreu quando
o corpo já estava sendo sepultado e o petista não foi.
Dallagnol
ainda compartilhou uma notícia sobre um contato telefônico feito entre
Lula e o ministro do STF Gilmar Mendes em que o ex-presidente teria se
emocionado. O procurador Roberson Pozzobon criticou: "Estratégia para se
'humanizar', como se isso fosse possível no caso dele rsrs".
Em
outro grupo, Monique Cheker também atacou a fala do presidente afirmando que o
neto sofria bullying na escola devido aos familiares. "Fez discurso
político (travestido de despedida) em pleno enterro do neto, gastos públicos
altíssimos para o translado, reclamação do policial que fez a escolta... vão
vendo", disse Cheker.
Sem comentários
Ao
Uol, a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba disse que não poderia se
manifestar sem ter acesso integral às conversas. As procuradoras Thaméa
Danelon e Monique Cheker responderam que não iriam se manifestar.
Jornal
O Povo
Nenhum comentário:
Postar um comentário