terça-feira, 27 de agosto de 2019

Procuradores da Lava Jato ironizaram mortes de familiares do ex-presidente Lula, revela site

Lula em sua última aparição pública, ao ser autorizado
a sair para ir ao velório do neto(Foto: Miguel Schincariol / AFP)

Criados para discutir os rumos das investigações da Lava Jato, os grupos formados por integrantes da Força Tarefa da Operação em Curitiba não pouparam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nem durante os períodos de luto enfrentados do político. Novas mensagens reveladas pelo portal Uol, em parceria com o site The Intercept Brasil, mostram que os procuradores criticaram a postura do petista no velório do neto, Artur, ironizaram o falecimento de Marisa Letícia, ex-primeira-dama, e disseram que o ex-presidente, a quem se referiram como "safado", "só queria passear" ao pedir para viajar até o velório do irmão, Vavá.

"A morte da Marisa ainda liberou ele pra gandaia"
Marisa sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) em 24 de janeiro de 2017 e foi internada. No mesmo dia, o coordenador da Força Tarefa da Lava Janto em Curitiba Deltan Dallagnol comentou: "Um amigo de um amigo de uma prima disse que Marisa chegou ao atendimento sem resposta, como vegetal". Januário Paludo reagiu à frase dizendo: "Estão eliminando as testemunhas". No mesmo grupo, Jerusa Viecili ironizou: "Querem que eu fique pro enterro?".

No dia do velório, Lula disse que a então esposa morreu "triste por causa da canalhice e maldade que fizeram contra ela". "Quero que os facínoras que fizeram isso contra ela tenham um dia a humildade de pedir desculpas. Se alguém tem medo de ser preso, este que está aqui enterrando sua mulher não tem. Eu tenho a consciência tranquila. Não tenho que provar que sou inocente. Eles que têm que provar que as mentiras que estão contando são verdade. Então, Marisa, descanse em paz, porque esse Lulinha paz e amor vai continuar brigando muito por sua honra", disse o político à época.

No Telegram, os procuradores reagiram. Deltan classificou a fala do petista como "bobagem". "Niguém mais dá ouvidos a esse cara", continuou. Já para o procurador Antônio Carlos Welter, a morte da Marisa fez uma mártir petista e ainda liberou ele pra gandaia sem culpa ou consequência politica". Nas falas reproduzidas pela reportagem foram preservadas as grafias das mensagens tal qual constam nos arquivos enviados ao Intercept. Erros ortográficos não foram corrigidos.

No mesmo dia do velório, em 4 de fevereiro, os procuradores comentaram sobre uma coluna da jornalista Mônica Bergamo narrando a angústia enfrentada nos últimos dias de vida por Marisa após a busca realizada na casa dela pela Polícia Federal (PF) e o depoimento de Lula mediante condução coercitiva. "Ridículo... Uma carne mais salgada já seria suficiente para subir a pressão... ou a descoberta de um dos milhares de humilhantes pulos de cerca do Lula", afirmou Laura Tessler.

Na conversa, o procurador Januário Paludo ainda questionou as circunstâncias da morte de Marisa Letícia. "A propósito, sempre tive uma pulga atrás da orelha com esse aneurisma. Não me cheirou bem. E a segunda morte em sequência", disse. 

"O safado só queria passear"
Em 29 de janeiro deste ano, foi a vez do ex-presidente lidar com a perda do irmão, Genival Inácio da Silva, o Vavá. À época, Lula não foi autorizado a ir ao local onde estava sendo realizado o velório. A liberação ou não do político dividiu opinião no grupo. Em uma sequência de mensagens, Diogo Castor defendeu a liberação do ex-presidente. "Todos presos em regime fechado tem este direito", ponderou. 

Por outro lado, o procurador Orlando Martello disse achar "uma temeridade ele sair". "Não é um preso comum. Vai acontecer o q aconteceu na prisão" e conclui: "A militância vai abraçá-lo e não o deixaram voltar. Se houver insistência em trazê-lo de volta, vai dar ruim!!".

Athayde Ribeiro Costa tentou achar um meio-termo: "Como disse um de nós, leva o morto la na pf", finalizou. 

Após a Polícia Federal dizer que não tinha como atender a logística para o translado do ex-presidente, os procuradores voltaram ao tema. Antônio Carlos Welter disse que Lula tinha o direito de ir ao enterro do irmão. "Eu acho que ele tem direito a ir. Mas não tem como". Januário Paludo ironiza logo em seguida: "O safado só queria passear e o Welter com pena". Laura Tessler completa: "O foco tá em Brumadinho...logo passa...muito mimimi".

"Estratégia para se 'humanizar', como se isso fosse possível no caso dele rsrs"
Menos de dois meses após perdeu o irmão, o ex-presidente Lula soube da morte do neto, Arthur, de 7 anos. Jerusa Viecili foi a primeira a comentar no grupo com os colegas da Força Tarefa: "Preparem para nova novela ida ao velório". "Putz... no meio do carnaval", respondeu Athayde Ribeiro Costa. Deltan Dallagnol comentou em seguida: "Tem q fazer igual o Toffoli deu", disse. À época da morte de Vavá, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) permitiu que Lula fosse até uma base militar na cidade onde ocorria o velório. Contudo, a autorização ocorreu quando o corpo já estava sendo sepultado e o petista não foi. 

Dallagnol ainda compartilhou uma notícia sobre um contato telefônico feito entre Lula e o ministro do STF Gilmar Mendes em que o ex-presidente teria se emocionado. O procurador Roberson Pozzobon criticou: "Estratégia para se 'humanizar', como se isso fosse possível no caso dele rsrs".

Em outro grupo, Monique Cheker também atacou a fala do presidente afirmando que o neto sofria bullying na escola devido aos familiares. "Fez discurso político (travestido de despedida) em pleno enterro do neto, gastos públicos altíssimos para o translado, reclamação do policial que fez a escolta... vão vendo", disse Cheker.

Sem comentários
Ao Uol, a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba disse que não poderia se manifestar sem ter acesso integral às conversas. As procuradoras Thaméa Danelon e Monique Cheker responderam que não iriam se manifestar.

Jornal O Povo

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