O
Ceará é uma rota estratégica para a entrada e saída de cocaína no mapa do
tráfico de entorpecentes do País. A proximidade geográfica com a Europa
facilita o envio quando as substâncias não ficam no estado para consumo
interno. Mas o repasse nem sempre chega ao destino final. Com uma atuação mais
incisiva, as forças de segurança do Ceará têm interrompido a distribuição da
droga. Foram retidos, em 2018, 367,350 kg de cocaína. Já neste ano, o número
ultrapassa uma tonelada, totalizando 1.428,185 kg.
Comparando
os períodos, 2019 registra um salto de 288,7% no quantitativo de cocaína
apreendida, sendo quase quatro vezes maior que o anotado no ano passado. A
estatística, analisada, faz parte do balanço da Polícia Federal (PF), Polícia
Rodoviária Federal (PRF) e Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social
(SSPDS). Conforme os órgãos, o incremento do efetivo em fiscalizações de
rotina, operações temáticas, novas estratégias de monitoramento e até mudanças
no Sistema Penitenciário contribuíram para o aumento nas apreensões.
Rodovias
As
rodovias federais que cortam o Ceará foram as principais portas de entrada das
drogas. De acordo com a PRF, agentes localizaram, até o fim de agosto, 564,185
kg de cocaína nas rodovias, ao passo que em igual período de 2018, apenas 6,550
kg haviam sido flagrados nas BRs. A apreensão mais recente aconteceu no dia 29
de agosto, quando 45 kg foram encontrados em São Gonçalo do Amarante, na Região
Metropolitana de Fortaleza.
Um
homem de 28 anos (identidade não divulgada) vinha do estado de Rondônia rumo à
capital cearense. No
quilômetro 65 da BR-222, ele foi parado e os policiais rodoviários federais
encontraram 43 tabletes da droga. O suspeito disse à Polícia que iria
comprar roupas para revender na cidade de Marabá, no Pará. Informou ainda que
era fotógrafo, mas acabou autuado em flagrante por tráfico interestadual de
entorpecentes.
Conforme
o inspetor Alexsandro Luís Batista, chefe da sessão de operações da PRF, as
rodovias BR-116, BR-222 e BR-020 são os principais eixos de atuação dos
criminosos. Para conseguir mais flagrantes, a Polícia mudou a metodologia de
fiscalização mapeando outros pontos por onde os traficantes tentam se
desvencilhar das ações.
“Passamos
a mapear pontos mais sensíveis e a alocar nossos recursos operacionais. Por
sermos uma Polícia em nível federal, sem fronteiras e com uma capilaridade
muito vasta, nosso sistema de comunicação interna ajuda, recebendo apoio de
outros estados”, reforça o inspetor. Ainda segundo o agente, melhorias internas
também foram responsáveis pelo crescimento das apreensões. “Requalificamos e
capacitamos o nosso policial, sobretudo, no enfrentamento ao crime organizado,
no qual está inserido o tráfico de drogas”, pontua.
Prisões
Já
a PF, que controla o fluxo de drogas em âmbito interestadual e internacional,
registrou, neste ano, volume apreendido sete vezes maior do que no ano passado,
passando de 89,800 kg para 640 kg. Até a publicação desta matéria, 44 suspeitos
haviam sido detidos, sendo 34 brasileiros e 10 estrangeiros. Parte do
material, cerca
de 330 kg, foi detectado no dia 16 de agosto, em contêineres que armazenavam
mel no Porto do Pecém. Avaliada em R$ 49 milhões, a droga seria enviada de
navio para a Bélgica e foi localizada por inspetores da Receita Federal.
“Ainda
está em fase de investigação. Estamos levantando algumas informações, mas estão
bem encaminhadas”, disse, sem dar detalhes da apuração da carga apreendida no
Porto, o chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da Polícia
Federal, Samuel Elânio, apontando ainda os motivos que culminaram na alta das
quantidades apreendidas. “A gente aumentou a fiscalização no Aeroporto de
Fortaleza, nas rodovias com troca de informações junto à PRF, além dos
trabalhos no Porto do Mucuripe e Porto do Pecém”, cita.
Baixa
Além
dos dois órgãos federais, as polícias Militar e Civil do Ceará também estão na
linha de frente do combate ao tráfico de cocaína. Os números contabilizados
pela SSPDS, porém, revelam uma queda nas apreensões. De janeiro e julho de
2018, cerca de 271 kg de cocaína entraram nas estatísticas da pasta. Já em
igual período deste ano, o total ficou em 224 kg, o que representa um
decréscimo de 17,34%.
O
delegado Pedro Viana, titular da Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas
(DCTD), justifica que a baixa nos valores tem ligação com o trabalho
desenvolvido pelos agentes federais nas rodovias, que impedem a entrada de
drogas no estado. Segundo Viana, as novas regras impostas pela gestão de Luís
Mauro Albuquerque, titular da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP),
colaboraram de forma decisiva para criar dificuldade e impedir o repasse de
cocaína dentro do Estado.
“Sem
dúvida alguma, a retirada de algumas lideranças, a apreensão de telefones e o
isolamento de alguns deles fizeram com que esses cabeças do crime organizado
perdessem o contato direto com o fornecedor. E se eles não têm contato com o
mundo externo, os que estão aqui fora também perderam a comunicação com os
produtores da droga em países vizinhos, como Colômbia, Bolívia e Peru”, frisa.
Apesar
da diminuição, o delegado Pedro Viana considera que o resultado obtido não
reflete uma menor atuação das polícias Civil e Militar no Estado. “Isso não
expressa de forma alguma que os policiais do Ceará estejam trabalhando menos,
até mesmo porque os números mostram que as apreensões de maconha superaram e
muito o mesmo período do ano passado”, argumenta o delegado, se referindo ao
salto de 1,6 tonelada da droga para 3,179 no primeiro semestre de 2019. Fonte:
G1 CE
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