Quando
a lâmpada de um poste público queima, a quem o morador deve recorrer? E quando
falta energia em uma rua ou bairro? As respostas para estas perguntas, embora
devessem ser uniformes, na prática ainda não são. Isto porque, mesmo diante da
normativa da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que determinou, em 2013,
a transferência dos serviços de manutenção do parque de iluminação pública para
as prefeituras, quatro municípios do Estado, onde vivem mais de 180 mil pessoas, ainda resistem
à normativa federal.
Os
gestores alegam que a medida onera as receitas municipais. O presidente da
Associação dos Municípios do Ceará (Aprece),
Nilson Diniz, concorda. Segundo ele, para as pequenas cidades o serviço de
manutenção do parque de iluminação pública é mais um ônus que traz dificuldades
para as gestões. "As receitas não cobrem as despesas", frisou.
"As
leis trazem novas responsabilidades sem os devidos recursos", avaliou
Diniz. Ele recorda, ainda, que muitos parques foram entregues em estado de
degradação, o que gera um custo ainda maior aos municípios com menos de 20 mil
habitantes cuja arrecadação com tributos já é limitada para demandas básicas,
como saúde, segurança e educação.
JUDICIALIZAÇÃO
Numa
tentativa de fugir da obrigatoriedade de assumir os parques de iluminação -
isto é, a composição que engloba postes, fiações e lâmpadas - os gestores
entraram na justiça para manter a iluminação pública sob responsabilidade da
Enel.
As
cidades de Icó, Arneiroz, Catarina e Boa Viagem tiveram decisão favorável nas
instâncias superiores - Superior Tribunal de Justiça (STJ) e Supremo Tribunal Federal
(STF). A lista
foi fornecida pelo Tribunal Federal 5, em Recife. A Enel se negou a informar
quais os municípios estão em litígio judicial, confirmando apenas que "3%
das prefeituras ainda não estão responsáveis pelo serviço".
No
caso de Arneiroz, o STJ negou em 25 de julho passado recurso da Enel. Os
recursos da Coelce e da Enel para Catarina foram negados em 2017. Já o processo
de Boa Viagem está sob agravo de instrumento cujo recurso foi apresentado pela
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A ação judicial de Icó está em
andamento.
Em
Catarina quando houve a edição da resolução da Aneel não havia sequer
instituição da Contribuição de Iluminação Pública (CIP). "O Município não
tinha como arcar com esse ônus", explicou o ex-prefeito Rafael Rufino.
"Por isso, ganhamos em todas as instâncias judiciais", pontuou.
POSICIONAMENTO
Embora
as decisões judiciais em todas as instâncias tenham sido favoráveis aos
municípios, na prática, algumas prefeituras já assumiram o serviço de troca e
expansão da rede de iluminação pública, ou seja, os gestores contrataram por
meio de licitação empresas para a realização dos serviços. A medida foi
adotada, conforme esclarecem os gestores, para garantir assistência mínima à
população.
"Faz
mais de um ano que o Município vem mantendo o serviço porque a Enel passa três
meses e não atende à reclamação dos moradores", frisou o secretário de
Infraestrutura de Jucás, Ademar Luna. Na semana passada, o Município decidiu
assinar com a Enel o termo de regularização do parque de iluminação pública. O
mesmo aconteceu com a cidade de Boa
Viagem que optou, mesmo amparada por liminar judicial,
assumir o serviço de reposição das lâmpadas nas vias públicas, conforme
informou o procurador geral do Município, Tiago Fragoso.
Entretanto,
nenhum termo foi assinado com a concessionária de energia elétrica do Ceará. Já
na cidade de Arneiroz,
na região dos Inhamuns, o impasse entre Prefeitura e Enel permanece, segundo
garantiu o vereador Airles Feitosa. "Os moradores reclamam porque há
muitas lâmpadas queimadas e pagam a CIP com valor que em alguns casos chega a
22% da conta de luz, mas a responsabilidade é da Enel", garantiu o
parlamentar.
Em
Catarina, atualmente o processo está em transição entre a Prefeitura e a Enel.
"Não temos obrigação legal, há um impasse porque a Enel ficou de entregar
todo o parque funcionando, mas até hoje isso não ocorreu", explicou o
secretário de Governo, Luís Amâncio. Apesar da briga judicial, o Município
instituiu, em 2017, a CPI e hoje realiza serviço de troca das lâmpadas dos
postes públicos.
A
postura dessas cidades, na avaliação do presidente da Aprece, já era esperada.
Diniz recorda que, no passado, quando a normativa foi constituída, a Associação
foi contra a resolução "e houve até mobilização", mas foi uma
"luta vencida". "Alguns municípios podem até protelar, mas
depois terão que assumir mais esse serviço", reconheceu com lamento Nilson
Diniz.
Por
nota, a Enel disse não "ter conhecimento das reclamações sobre iluminação
pública no município de Arneiroz e que irá entrar em contato com os gestores
municipais sobre o assunto". Quanto a Jucás, a companhia informou que o
processo de recebimento do parque de iluminação pública por parte da Prefeitura
está em andamento.
A
Enel não se manifestou, entretanto, quanto à alegação dos municípios de que a
mudança não teria viabilidade financeira. Nem tão pouco se essa normativa
federal traria benefícios para as cidades. Diário do
Nordeste
Nenhum comentário:
Postar um comentário