(Foto: Fabiane de Paula) |
A
notícia veio como um baque forte: logo após a realização do sonho de se formar
em contabilidade, a hoje aposentada cearense Rita de Cássia Bezerra, 60, foi
diagnosticada com câncer de mama em abril de 2008. Era apenas o início de uma
das guerras que ela enfrentaria contra a doença, que retornou outras duas
vezes.
O
câncer de mama, cujo mês de prevenção é o "Outubro Rosa", é o que
mais atinge mulheres no Ceará. Segundo estimativa do Instituto Nacional do
Câncer (Inca), 11.420 cearenses tiveram câncer em 2018, e para 2.200 delas o
carcinoma foi mamário. O número efetivo de novos diagnósticos, contudo, não é
informado pelo Inca, nem pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).
Rita
de Cássia foi parte das estatísticas em três anos distintos: 2008, quando
perdeu a primeira mama; 2011, quando a doença reapareceu e levou o segundo
seio; e 2013, ano em que um linfonodo mamário surgiu no braço, sendo necessário
novo tratamento e o “esvaziamento” da axila. “Na primeira vez, percebi uma mama
maior do que a outra, fui à ginecologista e já saí de lá arrasada, com o
mastologista marcado pro mesmo dia. Passei o fim de semana inteiro chorando. Na
segunda-feira fiz a biópsia e logo iniciei a quimioterapia”, relembra.
Otimismo
O
tratamento doloroso, que incluiu ainda sessões de radioterapia, e a perda do
cabelo abalaram a autoestima da aposentada – renovada em janeiro de 2009,
quando Rita realizou o sonho de ter uma “festa de 15 anos em plenos 50!”. Daí
em diante, a fé a fortaleceu, e nas vezes seguintes em que foi diagnosticada,
“já dava a cura como certa”.
“Nunca
faltou apoio da minha família, dos amigos, dos vizinhos. Me sinto muito
querida. E sempre que tenho uma dor, lembro que Deus não dá cruz que você não
tenha força pra carregar”, reflete a contadora, que apesar de aposentada, se
orgulha de “nunca ter deixado de trabalhar” e continua em exercício num
escritório próprio.
De
todo o processo, não só o corpo (as mamas foram reconstruídas por músculos de
outras partes), mas a mente saiu transformada. “Antes eu só cuidava dos outros,
hoje olho pra mim – e enxergo outra pessoa. Tomo decisões com mais facilidade,
continuo trabalhando, mesmo aposentada, e não perco oportunidade de viajar...
Quero conhecer o Brasil inteiro. O futuro é hoje!”, exclama a aposentada, que
tem acompanhamento médico periódico e toma medicação de forma permanente, para
evitar que a “doença maldita” reapareça.
A
história de crença, autocuidado e força de Rita de Cássia inspira, hoje, outras
mulheres cearenses e de todo o país que passam ou passaram pela dura trajetória
imposta pelo câncer. Ela faz parte da Associação Rosa Viva, que apoia mulheres
que têm ou tiveram carcinoma mamário. “É minha segunda família, lá encontrei
muita força. A gente divide as dores, multiplica as alegrias, dá suporte uma à
outra e vê que é mais do que essa doença”, sentencia.
Casos
No
Ceará, em 2019, até a primeira quinzena de setembro, 3.070 mulheres já morreram
em consequência de câncer de vários tipos. O número representa 66% dos 4.624
óbitos pela doença contabilizados no ano passado.
O
câncer que mais mata mulheres no estado é o de mama: em 2017, foram 674 óbitos;
ano passado, 720; e, neste ano, 453. A neoplasia maligna dos brônquios e
pulmões aparece em segundo lugar, com 1.178 mortes somadas nos dois anos
anteriores e 416 em 2019. O terceiro mais letal é o carcinoma uterino: foram
631 óbitos em 2017 e 2018, e a soma deste ano já chega a 197 (ultrapassada,
porém, pelo câncer de estômago, que já levou 202 mulheres à morte no estado só
até 16 de setembro). Os dados são da Secretaria Estadual da Saúde.
De
acordo com o Inca, dez unidades de saúde ofertam tratamento para câncer pelo
Sistema Único de Saúde (SUS) no território cearense, sendo apenas duas delas no
interior: o Hospital e Maternidade São Vicente de Paulo, em Barbalha, no Sul do
Ceará; e a Santa Casa de Misericórdia de Sobral, município do Norte cearense.
Em
Fortaleza, são oito unidades: Centro Regional Integrado de Oncologia (Crio),
Instituto do Câncer do Ceará (ICC), e Hospitais Cura D'ars, Distrital Dr.
Fernandes Távora, Geral de Fortaleza (HGF), Infantil Albert Sabin, Santa Casa
de Misericórdia e Universitário Walter Cantídio. G1 CE
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