Com os pés calçados com sandálias de couro, os familiares de Espedito reverenciam a sabedoria do patriarca (FOTO: THIAGO GADELHA) |
Quando
vieram os filhos, o processo de assimilação do artesanato em couro foi
semelhante ao do próprio Espedito com o pai Raimundo e o avô Gonçalo.
"Comecei novinho. Ele trabalhando e eu já tava em cima de uma mesa,
mexendo", conta Maninho,
aos 42. Wellington,
cinco anos mais velho, também desfrutou dessa experiência. "Tô aqui desde
que comecei a me entender por gente. De uma maneira ou de outra, ajudando ou
dando trabalho, mas sempre lá", recorda.
O
processo, como fica perceptível, é gradual na família de seleiros, e as filhas
de Wellington, Rayssa,
13 anos, e Mayssa,
4, são provas vivas disso. "A gente começa aos poucos, nos pontinhos, que
é mais fácil, depois pega na lâmina, corta o couro, e aí vai desenvolvendo,
criando, aprendendo mais, pegando a prática", destaca o pai.
Espedito Seleiro com o filho Wellington e as netas Rayssa e Mayssa, no ateliê em Nova Olinda. (FOTO: THIAGO GADELHA) |
REVERÊNCIA
O
mérito de ter um trabalho que agrega a família de forma harmoniosa é
reconhecido por todos. "Nesses 80 anos, acho que isso é um privilégio
tanto para ele quanto para nós, que permanecemos unidos", observa Maninho.
E
o irmão Wellington complementa, ressaltando a humildade do pai frente a toda a
comunidade, mesmo com o sucesso.
“Aqui
não importa a pessoa, quem chega é bem-vindo. O que eu mais admiro nele é
exatamente essa simplicidade. Qualquer um que vier, ele dá a maior atenção. É
isso que importa", reconhece.
INSPIRAÇÃO
Mesmo
quem não tem o sangue de seleiro correndo nas veias, é tratado como se fosse da
família. É o caso de Alan
Cordeiro, 18 anos, que atua como guia do Museu do Ciclo do
Couro e inspira-se na história do artesão para construir a sua própria.
"Os 80 anos dele significam muito crescimento, tanto das pessoas que
trabalham com ele como da própria cidade. Toda essa trajetória significa isso,
de quanto um homem daqui do interior, do Cariri, humilde, que começou um
trabalho simples, torna-se um ícone cultural e econômico", evidencia.
O
mestre realmente é referência, seja para quem está começando ou quem tem um
caminho traçado, a exemplo do amigo e designer paulista Marcelo Rosenbaum. "Espedito
é inspiração para mim em todos os sentidos. Fico muito feliz quando estou ao
lado dele, ouvindo causos, conversas cheias de humor; e o acabamento dele é uma
loucura mesmo, a criatividade, a noção estética de equilíbrio, de proporção.
Ele é um mestre, na dimensão toda do uso, do fazer, da manufatura, da
criatividade". Diário do Nordeste
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