sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Número de detentos no Ceará dobra em 2019

(Foto: José Leomar)

Sonhar para o futuro em liberdade. O lema ecoado pelas paredes da Unidade Prisional Sobreira Amorim, em Itaitinga, é dito por cerca de 350 internos que, por quatro horas diárias, transformam-se em alunos de Alfabetização, Ensino Fundamental e Médio. O número chega a 3.450 pessoas privadas de liberdade estudando em presídios no Ceará, distribuídos pela Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) e mais oito municípios do interior do Estado. No ano passado, segundo a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), eram 1.693 estudantes.

A Pasta afirma que 20 Unidades Prisionais são atendidas, abrigando 2.390 detentos estudando em Fortaleza e RMF, além de 1.060 em cidades no interior do Ceará.

Uma dessas histórias é a de Kelton Soares, de 19 anos. No presídio, ele cursa o Ensino Fundamental 1 para, quando alcançar a liberdade, tentar voltar para o mercado de trabalho. Preso há um ano e um mês, o cearense conta que está há três meses se dedicando aos estudos. A experiência com as aulas tem sido transformadora. “Estar na sala de aula conforta, né? Deixa tranquilo. A professora ensina a gente e melhora muito nossa escrita e a leitura. É uma oportunidade que não tive lá fora”, confessa o jovem.

Entre as matérias preferidas de Kelton está Matemática. Os números encantam, mas os planos de uma vida fora das grades, com um retorno ao mercado de trabalho é seu impulso. Ele nem arrisca qual profissão vai seguir. Como tem experiência em metalúrgica, reage com felicidade ao perguntar se a profissão envolve sua disciplina preferida e ver a resposta assertiva da professora. Para ele, sonho mesmo é ver o filho Kevin, de apenas dois anos, se tornar um médico.

O coordenador escolar de educação em prisões da Secretaria da Educação do Ceará (Seduc), Emanuel Barreto, discorre sobre a importância do ensino para os presidiários, classificando as aulas como oportunidade que eles não tiveram fora da prisão. “A educação, por si só, tem um viés transformador. É o que a gente tenta explorar aqui nos presídios. Os alunos se interessam, querem estar na aula”.

Esforço dos alunos
Dedicação não falta para os alunos do presídio Sobreira Amorim. É o que garante a professora Eliane Souza, de 46 anos. Ela ensina para a população penitenciária desde julho deste ano e afirma que se surpreendeu com o interesse dos estudantes. “Sou mais feliz dando aula aqui. Eles são mais dedicados que os alunos lá de fora. Os outros precisam ‘do pai ficar puxando a orelha’, aqui não, eles vêm porque enxergam a oportunidade”, conta a educadora.

Eliane reforça, ainda, que não teve medo de assumir as turmas no presídio quando a oportunidade apareceu. Segundo ela, uma prima já trabalhava no local e a tranquilizou quanto à experiência. “Eles (detentos) me perguntam muito ‘professora, a senhora tem medo da gente?’, eu digo que não, nunca tive. Eles estão aqui querendo aprender”.

A dedicação dos presidiários é recompensada. Segundo Rodrigo Moraes, coordenador educacional da SAP, a cada 12 horas de aula, os presos têm um dia de remissão de pena. Rodrigo completa, ainda, dizendo que a seleção dos detentos é feita por critérios de disciplina e de bom comportamento. “O interesse dos internos é grande, praticamente todos têm interesse no projeto educacional”.

Fonte: Diário do Nordeste

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