Uma vez por semana, o professor de História Manoel Ferreira Maciel vai ao ponto de reciclagem de papel no Centro da cidade de Iguatu, em busca de livros usados. O espaço foi transformado pelo reciclador Puskas Viana Diniz, de 57 anos, em um sebo – adquirindo e vendendo livros usados de diversos temas e autores.
Pais, alunos e outros professores também seguem o caminho de Maciel. Inicialmente, Puskas Diniz abriu o ponto para compra de papel, jornais e livros velhos com o objetivo de vender o material reciclado para empresas compradoras instaladas na cidade. “As pessoas vinham aqui vender papeis no peso e algumas começaram a trazer livros. Eu ia olhando, folheando, e vi que havia alguns bons”, contou. “Comecei a ler, separar e guardar”, completou.
Puskas Diniz, lembra que já se passaram dez anos desde que começou a atuar com livros usados. “Sempre gostei de ler, mas agora leio mais, estou interessado em história das cidades, em acontecimentos interessantes, genealogia das famílias”.
Já são três mil títulos no acervo. Não há organização no espaço, reduzido, apesar do esforço do comerciante. Há livros e papeis empilhados pelo chão, sobre prateleiras e guardados em sacos, na loja localizada na Rua 23 de novembro.
Além de venda, compra e troca, o reciclador também faz doações e empréstimos. “Se a pessoa interessada não tem condições de comprar e quer ler o livro, eu empresto ou dou”, contou. “Daqui, o leitor ou colecionador não sai de mãos vazias”.
Obras variadas
Os títulos são diversos e incluem literatura brasileira, francesa, obras de filosofia, genealogia, sociologia, autoajuda, geografia, história, romances policiais, ciências e até psiquiatria, além de publicações locais e regionais. Um dos livros mais antigos no sebo é do autor francês Pr. Gillet (L'éducácion du Caractère), edição de 24 de outubro de 1908.
Apenas a venda dos livros é insuficiente para dar renda de sobrevivência ao reciclador e livreiro. Os títulos variam entre R$ 5,00 e R$ 20,00. A reciclagem de papel traz maior movimentação financeira. “Aqui é um negócio pequeno, uma renda básica”, explicou Puskas Diniz. “Essa parte do livro, faço por amor, paixão à leitura e para contribuir com o aprendizado e divulgação do conhecimento”.
O professor Manuel Maciel evidencia que o trabalho realizado por Puskas Diniz contribui para preservar a cultura e valorizar a obra imprensa. “É uma fonte de pesquisa, de conhecimento, que guarda parte da história, embora hoje a moda seja a digitalização”, pontuou. “O catador que se tornou livreiro de obras usadas já me ajudou bastante e contribui com muitos alunos e professores. Todas as semanas venho aqui atrás de um livro para comprar”, relatou.
O livreiro diz que prefere as obras do autor norte americano Edgar Allan Poe, da escritora britânica Emile Brontê (autora de ‘Morro dos Ventos Uivantes') e do escritor russo Leon Tolstói.
Puskas revela que recebeu este nome por escolha do pai, Joaquim Sales, comerciante de Iguatu, inspirado no jogador de futebol da seleção da Hungria, Ferenc Puskás Biró, que também defendeu a seleção espanhola e o Real Madri. “Nunca fui craque na bola, mas quero ser na atividade de reciclador e livreiro, com o meu sebo simples, juntando e distribuindo conhecimento”, finalizou. G1 CE
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