Acordar às 3h30 horas da manhã, de segunda a sexta-feira, durante dois anos, para cruzar os 53 quilômetros de distância entre Horizonte e Fortaleza não foram empecilho para que Lucas Ribeiro de Sousa, de 20 anos, pudesse alcançar o seu objetivo: cursar medicina na Universidade Federal do Ceará (UFC). O jovem, morador do distrito rural de Horizonte, Queimados, atingiu a média de 742,14 no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2019 e ficou na 21º posição na lista de aprovados do Sistema de Seleção Unificada (SiSU).
Sendo o primeiro da família a ingressar no ensino superior, Lucas estudou em uma escola estadual técnica em Horizonte até concluir o ensino médio, em 2016. Ele passou o ano de 2017 estudando sozinho e, após o resultado do Enem do mesmo ano, conseguiu uma bolsa integral para estudar em um curso preparatório em Fortaleza. “A Prefeitura [de Horizonte] disponibiliza uma condução que sai às 4h40. Eu ainda pegava um mototáxi para conseguir chegar ao centro [de Horizonte], já que eu moro em um distrito longe”, diz.
Depois de chegar na Capital, já às 6 horas, Lucas percorria alguns quarteirões para comer e esperar a abertura dos portões do curso. No final da aula, o estudante saía antes de acabar, ao meio-dia, para não perder o ônibus de volta ao interior. “Eu tive muito apoio, tanto familiar quanto do curso, porém eu não tinha o material necessário para estudar em casa, só consegui através de uma amiga que já tinha estudado no mesmo local”, disse, acrescentando que sua rotina ainda inclui dar aula de reforço escolar por R$ 70,00 mensais para ajudar nas despesas.
Com mãe autônoma e pai agricultor, a situação foi mais difícil no começo do cursinho, segundo Lucas. “Era muito gasto para nossa família. Era tirar dinheiro de onde não tinha para pagar a condução até o centro de Horizonte, além dos gastos diários com alimentação. Já aos sábado, quando havia aula, eu não podia ir. Era financeiramente inviável”, relata.
Medicina
Apesar da renúncia de um cotidiano tranquilo, Lucas reforça que sempre almejou ingressar em medicina e diz não dar tanta atenção quando outras pessoas falavam para trocar o foco para um curso ‘mais fácil de passar’. “Eu quero ser grande. Medicina é um curso superestimado, então quando uma pessoa como eu, da zona rural e pobre, decide por ele, tem que persistir, apesar de tudo”.
Após a matrícula, o estudante afirma já ter onde ficar em Fortaleza. “Uma amiga da minha mãe ofereceu a moradia. Com isso, já ajuda, mas eu espero receber o auxílio da UFC, além de trabalhar nos laboratórios para, então, conseguir me estabilizar de verdade”, comenta.
“Eu fiquei muito feliz com a conquista. Todos da família. Nós vamos comemorar hoje (29) com um jantar especial”, disse, com orgulho de ter conseguido não só a vaga, mas uma outra perspectiva para toda a família.
Sobre os erros durante a correção do Enem, o estudante afirma ter ficado preocupado em relação à nota final, mas que logo soube que não foi afetado. “Apesar de não ter sido diretamente atingido na nota, eu senti um peso grande e fez com que eu não tivesse tanta certeza se eu conseguiria ou não a vaga. É de uma irresponsabilidade enorme”, considera. Diário do Nordeste
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