(Foto: Gustavo Pelizzon) |
Três pessoas foram indiciadas pelo desabamento do Edifício Andrea. Segundo laudo da Polícia Civil e da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), divulgado na manhã desta quinta-feira (30), dois engenheiros e um pedreiro atuaram de forma "determinante" para a queda do prédio. Entre sobreviventes e testemunhas, 40 pessoas foram ouvidas no inquérito.
Os engenheiros José Andreson Gonzaga dos Santos e Carlos Alberto Loss de Oliveira, além do pedreiro Amauri Pereira de Souza, foram indiciados pelo artigo 29 da Lei das Contravenções Penais, que consiste em provocar o desabamento de construção, ou por erro na execução. E também pelo artigo 256 combinado com o artigo 258 do Código Penal Brasileiro, por causar desabamento ou desmoronamento.
Detalhamento das falhas
O laudo técnico, que aponta detalhadamente todos os fatores que contribuiram para o colapso da estrutura, foi entregue ao delegado José Munguba Neto, que investiga o caso no 4º Distrito Policial. Entre algumas constatações detalhadas no documento estão as seguintes:
falha da empresa responsável pela reforma e dos seus profissionais prestadores de serviços;
técnica equivocada durante a obra, o que prejudicou a estabilidade da estrutura; ausência de relatório da reforma e de escoramento das estruturas dos pilares de sustentação, conforme determina na Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT);
acréscimo de carga (sobcarga) inserida sobre o pavimento da cobertura, que foi erguida após a construção da edificação, o que provocou a redução do coeficiente de segurança (no local foi realizada a construção de cômodos -quartos e banheiro- em um espaço de 60 m²);
falta de manutenção adequada da estrutura ao longo de sua existência.
Todas estas ações e omissões, segundo os investigadores, levaram ao colapso da estrutura. O "gatilho" para o desabamento, ainda de acordo com eles, foi a intervenção dos engenheiros e do pedreiro nos dias 14 e 15 de outubro.
Procurado pelo Diário do Nordeste, o advogado Brenno Almeida, que representa os três indiciados, afirmou que vai se inteirar sobre as informações do laudo e não vai se manisfestar, neste primeiro momento, sobre o caso.
Segundo a SSPDS, os três devem responder em liberdade, pelo menos até que até que o Ministério Público ou a Justiça se manifestem.
9 pessoas mortas
O Edifício Andrea, de sete andares, ficava localizado no cruzamento da Rua Tomás Acioli com Rua Tibúrcio Cavalcante, no Bairro Dionísio Torres. Ele desabou na manhã do dia 15 de outubro de 2019 e deixou 9 pessoas mortas. Uma operação do Corpo de Bombeiros foi montada para procurar por pessoas que estavam desaparecidas. As buscas aconteceram ao longo de cinco dias.
A operação de resgate foi encerrada pelo Corpo de Bombeiros no dia 19 de outubro. Os agentes, moradores, voluntários e sobreviventes acompanharam as 103 horas de buscas pelas vítimas nos escombros.
Cerca de duas horas antes do fim da ação, o corpo da síndica Maria das Graças Rodrigues, de 70 anos, também foi retirado do local. Ela era a última vítima que constava na lista de pessoas reclamadas.
Imagens de câmeras de segurança internas do Edifício Andrea, mostram operário da empresa contratada para realizar a reforma, quebrando as colunas de sustentação momentos antes da queda.
O vídeo mostra dois engenheiros, a síndica do prédio, o porteiro e um operário quebrando uma das colunas. As imagens contradizem o depoimento do engenheiro, que citou à polícia que as obras ainda iriam começar.
Já em outro vídeo registrado do lado de fora do prédio é possível ver o instante em que o Edifício Andrea desaba.
Prédio passou por reforma em coluna meses antes do desabamento
Um recibo e um orçamento de serviços de recuperação predial encontrados nos escombros do Edifício Andrea confirmaram a realização de uma reforma em uma das colunas do condomínio cerca de oito meses antes, em 28 de fevereiro de 2019.
Visita técnica apontou 135 falhas estruturais um mês antes da tragédia
Trinta dias antes de o Edifício Andrea ruir, a síndica Maria das Graças Rodrigues, de 53 anos, solicitou um orçamento para recuperação estrutural do prédio por meio de ligação telefônica. Uma vistoria técnica realizada no dia 19 de setembro, às 11h30, atendeu à demanda. Na ocasião, pelo menos 135 pontos no pilotis - conhecido popularmente como pavimento térreo- e na casa de bomba apresentavam falhas na armação física. Diário do Nordeste
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