Foto: Kléber A. Gonçalves, em 10/02/2011 |
O compositor e trovador Evaldo Gouveia morreu na noite desta sexta-feira, 29 de maio, aos 91 anos. O artista, que há alguns anos convivia com as consequências de um acidente vascular cerebral, foi contaminado pela Covid-19 e não resistiu às complicações. O cearense deixa um legado robusto e apaixonado.
Do menino de oito anos que cantava na radiadora da Praça da Estação de Iguatu ao trovador que conquistou o Brasil com palavras e melodias. Evaldo Gouveia de Oliveira nasceu em 8 de agosto de 1928 no município de Orós e desde cedo sentia que, eventualmente, conquistaria o País. “Eu ia pro pezinho do rádio e pegava a letra, o tom. Eu já nasci artista”, dividiu em entrevista às Páginas Azuis do O Povo, publicada em 16 de agosto de 2010. A partir de “Deixe que Ela se Vá” (1957), primeira composição de sua autoria, escreveu sentimentos e melodias intensas que reverberam até hoje no cancioneiro nacional popular e nos corações dos românticos. Entre elas, despontam “Tango de Teresa”, “Sentimental”, “Brigas”, “Bloco da Solidão e “O Trovador” - para citar somente algumas, pois entre as mais de mil composições acumulam-se sucessos.
A mudança de Iguatu para Fortaleza se deu mais para o fim da infância de Evaldo, lá para os 11 anos. Na Capital, participou de um concurso de calouros cantando “Caminhemos”, de Herivelto Martins, onde ganhou o prêmio principal. Era um prelúdio da atuação que viria alguns anos depois junto ao Trio Nagô, o começo da carreira profissional do artista. Seguiu no contato com a arte e, na certeza de que seria artista, acabou sendo contratado pela Ceará Rádio Clube, onde uniu-se a Mário Alves e Epaminondas de Souza para formar o conjunto. Foi a partir daí que alçou maiores voos e desbravou Rio de Janeiro e São Paulo. Acabaram contratados pela Rádio Nacional.
Até então, a face compositor de Evaldo Gouveia ainda não havia dado as caras. Mas em 1957, surgiu “Deixe que ela se vá”, escrita em parceria com Gilberto Ferraz. A canção chegou ao seu primeiro intérprete, Nelson Gonçalves, tendo o ator Mário Lago como ponte. Lembrando das primeiras composições, afirmou ao O Povo, sem modéstia: “É perfeição! Eu já vim derrubando os outros”. A modéstia não se fazia necessária, de fato. Era a realidade. Os frutos financeiros da gravação levaram Evaldo à União Brasileira de Compositores e foi lá que ele conheceu Jair Amorim, com quem travaria parceria artística e pessoal - cantada, principalmente, por Altemar Dutra: "Que Queres Tu de Mim", "Somos Iguais" e “Serenata da Chuva”, além das já citadas "Sentimental Demais", "Brigas", "O Trovador" e "Bloco da Solidão, entrou inúmeras outras”. Na avaliação de Evaldo, Altemar tinha uma voz que “se adaptava e ele cantava a dupla com amor”.
Além de Jair Amorim, outros parceiros de composições também se somaram à sensibilidade melódica de Evaldo. Entre eles, Fausto Nilo, com quem criou “Esquina do Brasil” e “Nada Mudou”. Além de Altemar Dutra, outros intérpretes de composições de Evaldo Gouveia foram, também, nomes que vão do clássico ao contemporâneo: Angela Maria, Jair Rodrigues, Anísio Silva, Maysa, Gal Costa, Elba Ramalho, Cauby Peixoto, Ney Matogrosso, Wilson Simonal, Fafá de Belém, Maria Bethânia, Zizi Possi, Emílio Santiago, Dalva de Oliveira, Agnaldo Timóteo, Jamelão, Ana Caroline, Simone. A lista é longa, não termina aí e é mais uma das provas da grandeza de Evaldo Gouveia, que pôs em palavras e melodias emoções cantadas até hoje pelo Brasil: “Romântico é sonhar / E eu sonho assim / Cantando estas canções / Prá quem ama igual a mim”.
Homenagem
Com 12 composições interpretadas na voz de artistas cearenses, Evaldo Gouveia ganhou homenagem em docudrama que condecora sua obra e carreira. Em noite especial para convidados, a nova temporada do projeto “Os Cearenses” teve lançamento em julho de 2019, durante evento no restaurante Cantinho do Frango. Produzido pela Fundação Demócrito Rocha com apoio do Governo do Ceará e da Assembleia Legislativa, os episódios têm cerca de 25 minutos.
O Povo
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