A chegada das águas da transposição do rio São Francisco ao Ceará iniciou polêmica nas redes sociais sobre a paternidade da obra. Ela foi prometida pelos cinco últimos presidentes. Essa é a 11ª tentativa de realizar a transposição, e finalmente saiu do papel. As obras começaram no governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), passaram por Dilma Rousseff (PT), que entregou um pedacinho. Por Michel Temer (MDB), quando o eixo leste foi entregue, e agora Bolsonaro. Todos deram sua contribuição. E todos atrasaram a entrega. Inclusive o governo Bolsonaro previa a chegada da água no ano passado.
Nesse debate sobre paternidade, é justo retornar ao século XIX. O primeiro projeto conhecido da transposição foi o mapa topográfico do Crato, impresso em 1843 no Rio de Janeiro. O autor foi Marcos Antonio de Macedo. Ele apontava a possibilidade de um canal a partir do rio São Francisco para levar água ao Riacho dos Porcos e ao rio Salgado e de lá ao rio Jaguaribe.
Macedo nasceu na vila de Jaicós, comarca de Oeiras, Piauí, em 18 de junho de 1808. A mãe dele, Maria de Macedo Pimentel, era sobrinha de Bárbara de Alencar. Maria era irmã de Ana Porcina de Alencar, casada com Tristão Gonçalves e que, após a morte do marido, ficou conhecida como Ana Triste.
Macedo formou-se em Direito em Olinda. Em 1834, assumiu como presidente da província do Ceará Martiniano de Alencar, primo da mãe de Marcos. O jovem foi então enviado à Europa para estudar Ciências Naturais. Retornou em 1838 e foi encarregado de explorar florestas e formar uma coleção mineralógica do Ceará. Foi nesse período que produziu o mapa topográfico, com a pioneira ideia da transposição. A proposta foi levada ao imperador dom Pedro II.
Em 1847, foi nomeado juiz de direito do Crato. Foi colaborador do Grande Dicionário Larousse. Chegou a ser presidente da Província do Piauí entre 1847 e 1848.
O mapa topográfico do Crato foi reimpresso em 1871 na Alemanha e foi ainda usado na Carta Topográfica do Ceará de 1886.
As informações são da revista A Província, nº 1, 1953, páginas 38 a 40, citadas por José Italo Bezerra Viana em sua dissertação de mestrado em História Social pela Universidade Federal do Ceará.
Adendo:
Após a conclusão deste texto, encontrei referência ainda anterior, e também caririense. A ideia teria surgido ainda antes da independência, apresentada em 1818 por José Raimundo de Passos Barbosa, primeiro ouvidor do Crato, durante o reinado de dom João VI. Já estava presente o plano de levar água do São Francisco para o Jaguaribe.
A informação é do artigo "O mito da prosperidade na transposição das águas do rio São Francisco", assinado por José Gomes Ferreira e Ivaneide Fontes da Penha e publicado em julho de 2018 nas Memórias do 56º Congresso Internacional de Americanistas, da Universidade de Salamanca. Por Érico Firmo - Jornal O Povo
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