Bolsonaro usa fotos de banco de imagens para representar nordestinos em peça publicitária. Cearense da campanha que seria de Penaforte, é na verdade senhora do interior de São Paulo |
As fotos utilizadas para representarem brasileiros na última peça publicitária estrelada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (Sem Partido), foram retiradas de bancos de imagens profissionais. De modo que os personagens que foram associados a elas, assim como os diálogos apresentados no vídeo da propaganda não são reais. A peça, intitulada “Alô, presidente”, tinha o propósito de divulgar obras de desenvolvimento inauguradas durante a gestão de Bolsonaro no Nordeste brasileiro.
O vídeo da campanha foi publicado por Bolsonaro em seu Twitter na noite desta quarta-feira, 1º, e rapidamente viralizou nas redes sociais, após internautas perceberem o uso de imagens genéricas para representar os nordestinos. O molde utilizado para a peça é similar ao utilizado pelo ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez para transmitir seus ideais e ações do governo até 1999. Chávez detinha um programa de rádio e TV que também se chamava “Alô, presidente”.
A primeira nordestina retratada na campanha é apresentada como “dona Maria Euliana”, descrita como sendo cearense de Penaforte e indaga Bolsonaro sobre a chegada das águas da transposição do Rio São Francisco ao Estado. “Maria Euliana”, porém, é na verdade Célia Rossin, 81, moradora de Sertãozinho em São Paulo. Conforme apuraram colunistas da Painel, da Folha de S.Paulo, a foto de Célia foi registrada pelo seu neto, Mailson, e colocada a venda no site iStock no valor de R$ 45 para não assinantes.
À Folha de S.Paulo, Célia chegou ainda a criticar as atuações do presidente diante da crise do coronavírus e afirmou que não gostaria de receber, de fato, uma ligação de Bolsonaro. “Tem deixado muito a desejar”, afirmou sobre a gestão do atual governo. Mailson, autor da foto, porém, pontuou que o uso das imagens é feito por empresas diversas, nacionais e internacionais, e que não vê problema no uso pela campanha. "A partir do momento que a pessoa coloca a fotografia em um banco de imagens, ela está sujeita a qualquer coisa. É como uma atriz. Aceita qualquer papel", justificou seu pensamento aos colunistas do jornal.
O vídeo publicitário, porém, contém incentivos aos espectadores para o compartilharem pelo aplicativo de mensagens WhatsApp e outras redes sociais. “Governo Federal: Milhares de obras e ações por todo o país. Você fala com o governo, o governo fala com o Brasil", afirma um trecho do áudio reforçando a ideia de que as pessoas apresentadas nos vídeos são reais e existem da forma como são retratadas.
Em posicionamento, também no Twitter, a Secretaria da Comunicação Social (Secom) do governo justificou que a peça era um “piloto inacabado que não deverá ser veiculada, não possuindo portanto caráter oficial”. O post foi apagado após a emissão da nota por parte da pasta para “evitar distorções dos fatos”, segundo a Secom. A mesma justificativa foi apresentada quando a campanha “O Brasil não pode parar” foi divulgada por Bolsonaro e duramente criticada por ir contra o isolamento social, apontado pelas instituições científicas, como forma mais eficaz de enfrentar a pandemia de coronavírus.
A segunda foto usada na peça divulgada nesta quarta, 1º, inclusive já havia sido usada na campanha contra o isolamento social. A foto retrata um homem negro de meia-idade, apresentado na peça mais recente como sendo "Francisco Valmar", ele é apresentado como um morador de Parnamirim (RN) e questiona o presidente quanto às obras da malha ferroviária no estado. No banco de imagem Sutterstock, porém, a imagem é descrita como "retrato de trabalhador na fábrica no fundo", sendo de uso público e gratuito.
O jornalista Samuel Pancher chegou a fazer uma montagem com o vídeo divulgado por Bolsonaro para incluir a verdadeira origem das imagens usadas para representar nordestinos no informe publicitário. CONFIRA
O Povo
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