Situação de bares e restaurantes no Ceará após meses com atividades paralisadas complica mais sem crédito, aponta Abrasel. (Foto: Helene Santos) |
Apesar das iniciativas do governo para facilitar a concessão de crédito ao setor produtivo, pequenas e médias empresas ainda têm enfrentado dificuldades para obter financiamentos nos bancos. Segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), quase dois terços (63,2%) das empresas cearenses que buscaram empréstimos durante a pandemia tiveram o pedido negado, considerando instituições financeiras públicas e privadas. Apenas 12% dos negócios tiveram os pedidos aceitos.
Os outros 24,8% afirmaram que as solicitações por crédito estavam em análise. A pesquisa foi realizada entre os dias 29 de maio e 2 de junho deste ano. Ao todo, foram ouvidas 7.403 empresas no Brasil e 172 no Ceará.
As respostas dos bancos para negar os pedidos incluem o empresário estar com o CPF negativado (25,5%); pouco tempo de funcionamento da empresa (12,8%); não aprovação do cadastro (6,3%); e falta de garantias (3,2%). Outros 26,7% informaram não ter recebido uma justificativa do banco. Conforme empresários ouvidos pela reportagem, as principais queixas são relacionadas às exigências feitas pelos bancos que, segundo eles, estariam ignorando os efeitos da quarentena sobre o caixa das empresas.
Em geral, os pedidos de crédito são voltados para capital de giro e rolagem de dívidas. Entretanto, sem acesso a esses recursos, muitas empresas que conseguiram passar pelo período do isolamento social poderão ser obrigadas a fechar as portas justamente no momento da reabertura.
"Mesmo conseguindo uma linha de crédito, esse dinheiro não chega rápido, podendo demorar cerca de 90 dias. Essas empresas não estão conseguindo capital para arcar com despesas fixas. E não está entrando dinheiro", diz o consultor empresarial Heitor Viana.
Segundo Rodolphe Trindade, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel/CE), mesmo com os programas do Governo Federal para destravar crédito, os bancos não estão liberando recursos. "Temos aí o Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte) com linhas de crédito e garantia de até 80% pelo próprio Governo Federal e os bancos simplesmente só estão liberando para quem está com a empresa toda bonitinha, sem dívidas", ele diz.
Exigências
Além de exigirem que o cliente esteja adimplente, os bancos priorizam as empresas com histórico de relacionamento, o que acabou deixando de fora muitas que buscaram recursos nas últimas semanas. "Os bancos não estavam preparados para um momento como este. Fizeram as mesmas exigências que faziam antes, sendo a principal delas que o cliente não tivesse devendo nada justamente no momento em que as empresas pararam e não conseguiram quitar dívidas tributárias, dentre outras", diz Alci Porto, diretor técnico do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Ceará (Sebrae-CE).
Alci Porto diz que o Pronampe, que desde junho passou a dar 100% de aval para os empréstimos, deverá agilizar as operações de crédito, no entanto, a palavra final será do banco. "O programa retirou a exigência de que os empresários não tivessem dívidas tributárias. E a taxa de juros é acessível (Selic + 1,5%). Então, se os bancos resolveram dar agilidade, podemos salvar muitas empresas que por razões alheias não conseguiram arcar com suas dívidas nesses últimos meses".
Rodolphe Trindade diz que a situação de bares e restaurantes no Ceará, que só poderão operar com capacidade máxima em meados de julho, é "muito séria". "Quem está hoje querendo empréstimo é para manter a sua empresa viva. É simplesmente para pagar dívidas e manter seus funcionários. É porque quer trabalhar. Quem resistiu por mais de três meses nessa pandemia quer manter sua empresa aberta, mas os bancos estão em outra realidade".
Financiamentos
Curiosamente, os valores requisitados pelas empresas, segundo o Sebrae são majoritariamente baixos. A pesquisa indicou que 28,4% das empresas que buscaram empréstimos, solicitaram valores entre R$ 10 mil e R$ 20 mil. A faixa entre R$ 30 mil e R$ 40 mil vem logo atrás, com 17,7% dos pedidos.
O ranking segue com 14,4% entre R$ 75 mil e R$ 100 mil; 10,6% ente R$ 5 mil e R$ 10 mil; 7,3% até R$ 5mil; 3,2 entre R$ 20 mil e R$ 30 mil. Os empréstimos acima de R$ 100 mil representaram 4,1%.
Bancos
Segundo o BNB, até o início de junho, apenas a linha Crediamigo desembolsou mais de R$ 4 bilhões por meio de 1,6 milhão de operações realizadas em todo o Nordeste e norte de Minas Gerais. Deste total, R$ 1,2 milhão foi aplicado no Ceará, atendendo cerca de 750 mil clientes. O Crediamigo oferece capital de giro e investimento para micros e pequenos empreendedores, com financiamentos que variam de R$ 100 a R$ 21 mil e contemplam empreendedores individuais ou em grupo.
Questionada sobre o acesso a crédito durante a pandemia, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) afirmou que as concessões de crédito para o período - considerando o intervalo entre 01 de março a 19 de junho de 2020 - "já somam R$ 1,116 trilhão, incluindo contratações, renovações e suspensão de parcelas".
Além disso, a Federação afirmou que, entre 16 de março e 19 de junho, os bancos privados já renegociaram 11,3 milhões de contratos com operações em dia, que têm um saldo devedor total de R$ 666,4 bilhões. "Essas operações repactuadas totalizam R$ 80,9 bilhões. Esses valores trazem alívio financeiro imediato para empresas", disse em nota.
Porém, apesar do volume, o recurso destinado à pequena e média empresa vem enfrentando, desde o início da pandemia, dificuldades para chegar na ponta.
Pronampe
Em vigor desde o dia 19 de maio, o Pronampe, criado pela Lei Federal 13.999, abriu crédito especial no valor de R$ 15,9 bilhões buscando garantir recursos para os pequenos negócios e manter os empregos durante a pandemia do novo coronavírus no País. A linha de crédito para micro e pequenas empresas tem garantia do Fundo de Garantia de Operações (FGO), administrado pelo Banco do Brasil.
Antes desse programa, o governo já havia lançado outras iniciativas para os pequenos negócios, mas os resultados ficaram aquém do esperado. Diário do Nordeste
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