O Ministério Público do Ceará (MPCE) denunciou, na última sexta-feira (24), o estudante de Filosofia, guru espiritual e criador da Comunidade Afago, Pedro Ícaro de Medeiros, conhecido como 'Ikky', pelos crimes de violação sexual mediante fraude, por crime sexual para controlar o comportamento social ou sexual da vítima combinado com charlatanismo e curandeirismo.
A promotora de Justiça Grecianny Carvalho Cordeiro elaborou a denúncia após receber o inquérito concluído do 26º DP (Edson Queiroz), da Polícia Civil. O processo tramita sob sigilo na 15ª Vara Criminal de Fortaleza e aguarda decisão do juiz.
O MPCE confirmou a acusação e ressaltou que as vítimas do guru espiritual estão se apresentando e prestando depoimentos junto ao Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência (Nuavv), coordenado pela promotora de Justiça Joseana França.
A Polícia Civil informou que 18 pessoas prestaram depoimento sobre o caso. Pedro Ícaro também compareceu à Delegacia, na última quarta-feira (22), para prestar esclarecimentos. Outras pessoas devem ser ouvidas nos próximos dias.
A Instituição reforçou "a necessidade daqueles que se sentirem vítimas comparecerem à delegacia para formalizar o procedimento, no intuito de subsidiar as investigações que estão dentro do prazo processual".
As denúncias de abusos sexuais, físicos e psicológicos contra 'Ikky' foram reveladas em reportagem do programa Fantástico, da TV Globo, exibida no último dia 19 de julho. Os crimes teriam ocorrido entre 2018 e 2019, contra jovens que seguiam a Comunidade Afago, em Fortaleza.
Os depoimentos das vítimas começaram a ser coletados na Polícia Civil no dia 16 deste mês, segundo a advogada Thayná Silveira, que acompanhou os jovens. “Ele (Ícaro) pegou esses jovens que estavam querendo pertencer a alguma coisa, que estavam em busca de cura de traumas sexuais, de traumas familiares e as manipulou”, afirmou.
Vítimas relatam crimes sexuais e até estelionato
“Não só pra mim, mas para uma roda de pessoas, ele dizia muitas vezes que o p... (órgão sexual) dele era mágico”, disse uma vítima do sexo masculino. Outro homem afirmou que Ikky o obrigou a ter relações sexuais. “Eu estava chorando, sangrando e eu esperava dele um pouco de humanidade. O que ele fez foi tirar minha blusa e colocar minha blusa na minha boca para que parasse de chorar e ele pudesse continuar”.
Já uma mulher, também de identidade preservada, comentou os impactos negativos em sua saúde mental após as vivências no lugar. “Eu entrei na Afago já num momento frágil psicologicamente. E fui ficando cada vez mais frágil e culminou numa crise de depressão muito intensa”.
As acusações também miram a prática de estelionato. Segundo a recepcionista Pamela Magalhães, a única a mostrar o rosto em entrevista ao Fantástico, “a cada semestre ele aumentava o valor desses cursos, tanto que quando eu entrei era R$50 e quando eu saí um determinado curso já era R$ 1.500”.
Outro aluno disse que ao fim do ciclo de aulas, não houve a entrega do certificado. A gente não teve nenhum tipo de certificado, mesmo tendo sido prometido que nós seríamos certificados e poderíamos atuar como terapeutas”.
Acusado nega os crimes
Ao Fantástico, Ícaro disse que no começo deste ano registrou Boletim de Ocorrência alegando ser vítima de calúnia e difamação por parte de pessoas que deixaram a comunidade. O suspeito negou as acusações de estupro, segundo ele, houve relações sexuais com alguns homens, mas elas eram consentidas.
“Muitas das acusações foram racistas, para ser honesto. Não me chamavam só de mago negro, de magia negra. Eles falavam realmente que eu era um fascista. Houve crimes com relação a isso: a eu ser homem, ser negro e ser gay", contou Ícaro ao telefone acrescentando que só participavam dos rituais pessoas que se apresentavam espontaneamente, contestou Ícaro.
O advogado de defesa, Klaus Borges, afirmou que se preparam para protocolar ação em breve contra as pessoas que supostamente estariam caluniando Pedro. Ele também afirmou que seu cliente nega ter cometido qualquer crime. Diário do Nordeste
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