sábado, 1 de agosto de 2020

Jovem de Ibicuitinga constrói robô caseiro com material reciclável e sucata

Segundo robô construído por Lucas, o Colossus (foto)
utilizou conceitos de pressão hidráulica e pulsos
magnéticos para ser montado. (Foto: Jefferson Maia)
O talento para robótica do jovem Lucas Ferreira, 20, está chamando atenção no município de Ibicuitinga, interior do Ceará, a 197 km de Fortaleza. Autodidata, o estudante ficou conhecido como “Gênio de Ibicuitinga” após vídeo das construções viralizarem nas redes sociais. As estruturas projetadas por Lucas são feitas de material reciclado, como tampas de garrafa, e sucatas de eletrodomésticos. Até agora três robôs foram construídos pelo inventor. Cada projeto, diz Lucas, leva em torno de uma semana para ser concluído.

De acordo com o jovem, ele aprendeu sozinho a montar as estruturas e, os protótipos, ‘surgem da imaginação’. Ele busca inspiração em vídeos de empresas de tecnologia e aplica a técnica da engenharia reversa para montar os projetos. “Eu assisto muito os trabalhos da Boston Dynamics. Quando eu gosto de algo tento replicar”, explica o jovem. A engenharia reversa é uma técnica usada por engenheiros para entender o funcionamento de dispositivos.

Porém, é necessário desmontar e remontar a peça para aplicar o processo reverso, inviável para Lucas, já que ele não tem acesso à tecnologia estrangeira. Talentoso, o jovem conta como contornou o problema.

“Eu assisto o vídeo, desmonto o robô deles na minha cabeça, e tento fazer as peças que eu acho legal com os materiais que eu tenho”, indica o jovem.

Neste sábado, (1º), ele concluiu outro trabalho: um aparelho para auxiliar deficientes visuais. As únicas peças usadas pelo inventor foram um boné e sensor de mouse. “Serve como um aviso para proximidade de obstáculos. Quando o deficiente chegar perto de alguma estrutura, o aparelho apita”, elabora o jovem.

Apoio 
A diarista Cícera Ferreira, 38, mãe de Lucas, descobriu o interesse do filho enquanto o rapaz procurava por eletrodomésticos com defeito em casa. “Um dia ele chegou com um ventilador quebrado e perguntou: ‘mãe, se a senhora não quiser mais isso, eu posso usar? E fui deixando. Isso foi para outras coisas, tampa de panela, tampa de pote. Quando fui ver ele estava era construindo uma mão mecânica”, se diverte Cícera. 

Impressionada com os projetos de Lucas, a mãe procurou o analista de sistemas Jefferson Maia, filho de uma das famílias para qual a diarista presta serviços. “A Cícera me pediu para filmar os brinquedos que ele fazia. Fui despretensiosamente e quando cheguei lá fiquei surpreso. Não eram brinquedos comuns. O menino, que acabou de sair do ensino médio, movimentava uma mão biônica com tampinha de garrafa presa na testa”, conta Maia, admirado. 

Para dar visibilidade aos trabalhos do rapaz Jefferson publicou vídeo dos robôs em uma rede social. A postagem viralizou entre os amigos do analista. “Acho que passamos dos 100 compartilhamentos. As pessoas ficaram impressionadas. Mandei o vídeo também para uma comunidade de tecnologia daqui, a Arduino Ceará. Eles replicaram no perfil deles e está tendo muito alcance lá também”. 

Fundador da Arduino Ceará, o engenheiro mecatrônico e professor de escolas profissionalizantes Sandro Mesquita, 38, vê nos trabalhos de Lucas uma sofisticação tecnológica difícil de ser atingida. “Não é como se o que ele faz estivesse disponível em tutoriais na Internet”, explica Sandro. 

“Ele descobriu, sozinho, como aplicar conceitos sofisticados de mecânica sem ter um conhecimento prévio. Ele pega parte de um secador, parte de um DVD, e vai conseguindo fazer a conexão e a automação de outro. Não tem como pesquisar esse processo É complicado até para engenheiro formado”, ressalta o professor. 

Campanha
Sensibilizados pela dedicação do rapaz, conhecidos costumam contribuir com materiais para para as invenções. “Geralmente, ele pede algumas coisas, como placa de aparelho DVD, motor de liquidificador. Se eu não tenho, eu peço para lojas de conserto. Mas alguns conhecidos já chegaram a doar também os aparelhos que não tão usando. Ele fica morto de feliz”, diz Cícera.

Nem sempre as partes procuradas pelo jovem são de fácil acesso. Por isso, alguns robôs tiveram que ser desmontados à espera da peça certa.Para não ficar parado, a saída encontrada pelo inventor é sempre começar outro projeto. “Às vezes não conseguimos o que ele pede. Então ele desmancha e faz outro robô. Diz ele que sai tudo da imaginação”, atribui Cícera. 

A empreitada por novos circuitos não poupa nada na casa da diarista. “Uma vez quase que o meu liquidificador entra no meio. Eu fiquei ‘Lucas, pelo amor de Deus, meu filho! Então fui atrás da peça que ele queria, que era o motor. Além disso, ele precisava de um monte de fio. Comprei mais de R$ 40 e não deu vencimento, ele ainda precisou de mais”, brinca a mãe. 

Com o objetivo de incentivar os processos criativos de Lucas os integrantes da Arduino Ceará finalizam campanha virtual para arrecadar materiais e ajuda financeira. “Estamos nos preparando para oferecer peças mais profissionais para ele e juntar dinheiro para comprar um notebook, já que tudo o que ele tem é um celular emprestado”, aponta Sandro. 

A arrecadação já está online em uma plataforma de financiamento coletivo. A equipe deve manter o processo o mais transparente possível. “Não queremos que as pessoas pensem que esse dinheiro vai pra outro lugar que não para o Lucas. Nosso objetivo na Arduino Ceará é exatamente esse, de ser uma vitrine para novos talentos. Estamos formalizando contatos com contadores para deixar tudo certo para ele e para a família”, garante Sandro. 

O grupo também recebe doação de peças. O ponto de entrega é na sede da Arduino Ceará, em Fortaleza. O endereço é: Rua Aspirante Mendes, 296, no bairro Aerolândia. As dúvidas podem ser retiradas o Sandro a partir do Instagram pessoal do professor, @profsandromesquita, na página da Arduino Ceará, @arduinoceara, ou nos telefones (88) 99407-1614 e (85) 99139-0220.                       Diário do Nordeste

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