Caroline e Clara criaram o projeto, que terá sequência pós-pandemia. (Foto: Divulgação) |
A palavra “sororidade” pode ainda não ter sido incluída em muitos dicionários da língua portuguesa, mas seu significado, que diz respeito à união entre as mulheres, ganha cada vez mais forma no Cariri. A região acaba de ganhar um novo projeto, criado por duas psicólogas recém-formadas que atuam no campo da Psicologia Social e Educacional. Ao perceber que inúmeras mulheres perderam os empregos durante a pandemia de covid-19, e que as formas de trabalho tiveram de ser reinventadas, Caroline Brito e Clara Oliveira criaram o Uiaras Cariri. Junto a outras mulheres, a ideia é trabalhar e estimular essa independência financeira, além dos sentidos que estão por trás dessas produções.
O projeto dá os primeiros passos e já alcançou grandes proporções. Pelo perfil @uiarascariri, no Instagram, as psicólogas recebem o apoio de um círculo cada vez maior de pessoas. Por enquanto, as ações acontecem virtualmente e contribuem para a saúde mental das participantes. Após o momento de pandemia, encontros presenciais serão realizados na ONG Beatos, em Crato. Lá, serão desenvolvidas oficinas em que, a cada encontro, serão elaborados sentidos diante do que foi produzido nas rodas de conversa. É esperado que, a cada três meses, um evento ligado à economia solidária aconteça. A intenção é incentivar uma independência financeira e uma melhoria da qualidade de vida.
Como explicaram as criadoras do projeto, a escolha do nome faz referência a uma lenda do Cariri, em que, de uma mulher, surgiram várias outras. A do princípio, que se transformara na Mãe D’agua (Iara ou Uiara), asseguraria a fertilidade da terra e a abundância das coisas, habitando as fontes do sopé da Chapada do Araripe. “Para nós, é triste pensar nas histórias em volta dessas lendas permeadas pela violência e o uso da mulher, mas optamos enxergar pelo viés simbólico da abundância de todas as coisas e do crescimento de tantas outras mulheres que passaram a habitar e a gerar novas vidas e um futuro nas tribos Kariris”, explicam Caroline e Clara. Assim como na lenda, que a partir de uma mulher surgiram outras, elas acreditam que o contato, as trocas e as reflexões das realidades podem gerar um movimento de união, luta e conscientização coletiva e individual.
Os homens, inclusive, podem contribuir no processo, abrindo espaços de fala para as mulheres, escutar o que elas têm para falar, respeitar suas vivências e, dentro do Projeto Uiaras, contribuir com troca de produções e construções de sentidos. No Uiaras, assim como vem acontecendo em ações pelo país, todas as mulheres são bem vindas, sejam elas cis ou trans, mulheres que, respectivamente, se identificam, ou não, com o sexo que nasceram. A escolha do projeto em abraçar todas, segundo as psicólogas, se dá pelo fato de acreditarem “na importância dessas ações como um movimento de luta que agrega os indivíduos e contribui para amenizar as desigualdades e diferenças que geram sofrimento e danos para a nossa sociedade, principalmente para as mulheres cis e trans, que são mais afetadas por estarem inseridas nessa estrutura machista e patriarcal que a gente vive”.
Fonte: Jornal do Cariri
Nenhum comentário:
Postar um comentário