"Digam a meus filhos que amo eles": estas foram as últimas palavras pronunciadas pela brasileira Simone Barreto Silva, de 44 anos, antes de falecer na quinta-feira (29) no ataque com uma faca cometido em uma igreja de Nice.
Simone, mãe de três filhos e nascida em Salvador (Bahia), é uma das três vítimas fatais de um tunisiano de 21 anos que atacou na quarta-feira (28) os fiéis que rezavam na basílica Notre-Dame de Nice, sudeste da França.
"Ela estava lá rezando, entrou esse cara que detesta cristãos. A gente fala em 'cristofobia'. Ele esfaqueou essa senhora lá dentro. A gente lamenta a morte das três pessoas", declarou o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, em sua transmissão semanal pelo Facebook.
A vítima ficou gravemente ferida no ataque, mas conseguiu fugir para um restaurante ao lado da igreja, informaram fontes policiais.
"Ela atravessou a rua, coberta de sangue (...). Ainda conseguia falar, afirmava que havia alguém dentro (da igreja)", afirmou Brahim Jelloule, dono do estabelecimento, à rádio France Info.
O irmão de Jelloule e um funcionário do restaurante tentaram entrar na igreja, mas viram o agressor, armado com uma faca. De acordo com Brahim Jelloule, Simone faleceu uma hora e meia depois do ataque.
"Digam a meus filhos que eu amo eles", teria conseguido dizer pouco antes de morrer, segundo depoimentos de testemunhas divulgados pelo canal BFMTV.
De acordo com a emissora, Simone Barreto Silva trabalhava como cuidadora de idosos, mas sua paixão era a cozinha. Ela sonhava com abrir um restaurante de comida brasileira nesta cidade da Costa Azul francesa, onde morava há muitos anos.
O governo brasileiro publicou um comunicado oficial, no qual expressou "seu firme repúdio a toda e qualquer forma de terrorismo, independentemente de sua motivação", e manifestou "em especial sua solidariedade aos cristãos e pessoas de outras confissões que sofrem perseguição e violência em razão de sua crença".
Também informou que, por meio do consulado geral em Paris, "proporciona assistência consular à família da brasileira vítima do atentado terrorista".
As outras duas vítimas foram assassinadas dentro da basílica: uma mulher de 60 anos, degolada pelo agressor; e o sacristão da basílica, um laico de 55 anos, casado e pai de duas filhas.
A França elevou o nível de alerta de segurança em todo o país para "urgência atentado" após o ataque, anunciou o primeiro-ministro Jean Castex. Este nível corresponde a um estado de máxima vigilância e proteção. O primeiro-ministro francês condenou "um ataque tão covarde quanto selvagem que põe todo o país de luto"
Histórico de ataques
Este é o segundo ataque com faca registrado em Paris neste ano. O primeiro ocorreu no mês passado, em uma região próxima à redação da revista satírica Charlie Hebdo, onde, em 2015, um massacre deixou 12 jornalistas mortos e 11 feridos.
Desde 2015, a França sofre com sucessivos atentados. Além do ataque à revista Charlie Hebdo, em novembro do mesmo ano, a casa de shows Bataclan, em Paris, foi alvo de um atentado terrorista com cerca de 90 mortos. A ação aconteceu simultaneamente a outros atentados na capital da França, dentre eles explosões nas proximidades de um estádio onde ocorria um jogo entre as seleções francesa e alemã. O grupo jihadista Estado Islâmico (EI) reivindicou a autoria dos massacres, que totalizaram 130 vítimas.
A cidade de Nice também já foi alvo de um atentado, em 2016. Dezenas de pessoas morreram atropeladas por um caminhão enquanto celebravam o Dia da Bastilha.
Em 2018, três pessoas foram vítimas de um ataque terrorista a um supermercado no sul da França, mais uma vez reivindicado pelo EI.
Fonte: AFP
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