quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Casos de gestantes com HIV no Ceará crescem 62% em dez anos

(FOTO: NACHO DOCE/REUTERS)

Um vírus que atravessa gerações de brasileiros desde os anos 1980, envolto em tabus e preconceitos, segue em ascensão no Ceará, inclusive entre mulheres grávidas: entre 2010 e 2019, casos de gestantes infectadas anualmente pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) aumentaram 62,5%, passando de 171 para 278. Em todo o período, foram 2.305 cearenses diagnosticadas com HIV durante a gravidez, dígitos que, para especialistas, resultam da ampliação histórica das testagens.


No Ceará, somente de janeiro a junho deste ano, 174 mulheres soropositivas já identificaram a presença do HIV durante a gestação: é uma média de quase 30 diagnósticos por mês. Os dados são do mais recente boletim epidemiológico do Ministério da Saúde (MS) sobre o assunto, divulgado na última terça-feira (1º), em alusão ao Dezembro Vermelho, mês voltado à conscientização para o tratamento precoce da síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids).


A taxa de infecção a cada mil nascidos vivos também teve um salto entre 2010 e 2019, crescendo de 1,3 para 2,1 infecções, segundo o levantamento. A infecção de gestantes pelo HIV tem notificação compulsória desde 2000, ou seja, os serviços de atendimento devem obrigatoriamente notificar as autoridades de saúde sobre novos casos. O aumento registrado nos últimos anos, porém, como argumenta o MS, "pode ser explicado, em parte, pela ampliação do diagnóstico no pré-natal e pela melhoria da vigilância na prevenção da transmissão vertical".


Melissa Medeiros, médica infectologista do Hospital São José (HSJ), referência no acompanhamento de pessoas que vivem com HIV no Estado, reforça que "o aumento, há vários anos, não é da quantidade de infecções, e sim dos diagnósticos". "Hoje, o exame de identificação do HIV faz parte da sorologia do pré-natal. Às vezes a mulher já vivia com o vírus, mas não sabia até ser testada na atenção primária", pontua. 

 

Após testarem positivo para HIV na atenção primária, porta de entrada para realização de acompanhamento pré-natal, as grávidas soropositivas são encaminhadas ao HSJ para prosseguirem com o tratamento. Melissa alerta que realizar exames periodicamente e buscar tratamento é importante para todos, mas reforça que, no caso das gestantes, "não se pode perder tempo". "Quanto antes ela tomar a medicação, maior a chance de a carga viral dela se tornar indetectável até o parto. Ou seja, a probabilidade de transmissão para o bebê é bem reduzida", explica. 

 

Pelo menos 369 crianças com menos de cinco anos de idade já foram diagnosticadas com aids, entre 1980, quando os primeiros casos da síndrome foram detectados no Ceará, e 2019. Só nos últimos dez anos, foram 145 meninos e meninas infectados, conforme o boletim epidemiológico federal. O levantamento, que abrange 2020 até o mês de junho, não detectou nenhum caso neste ano. 

 

A transmissão vertical no parto, quando o vírus passa de mãe para filho, é uma das maiores preocupações dos profissionais de saúde. Em Fortaleza, a Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac/UFC) e o Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC) adotam protocolos específicos para o parto de gestantes soropositivas, como informa a Dra. Melissa. "Quando a mãe tem carga viral muito baixa, indetectável, pode fazer normal. Mas aquelas que não identificaram nem trataram de forma precoce fazem cesárea, para evitar o contato do bebê com o sangue".

Fonte: Diário do Nordeste

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