(Foto: José Leomar) |
Se no início de 2020 a pauta da Segurança Pública já foi uma das mais tratadas no noticiário em razão da realização de um motim, promovido por parte da Polícia Militar, é no fim dele que se criam expectativas e é montada uma estrutura a fim de reduzir os gargalos observados na área. Chega-se ao fim deste ano com aumento no número de homicídios; o retorno de eventos de mortes múltiplas, como as chacinas; o frequente desmantelamento de organizações criminosas e o investimento da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) na Inteligência. Há pouco mais de três meses à frente do cargo, o policial federal Sandro Caron aponta o que deve ser feito na Pasta.
Qual é o balanço que o senhor faz desse período à frente da SSPDS?
Logo na chegada, foram feitas algumas trocas nos cargos de direção das vinculadas, algumas coordenadorias também da Secretaria tiveram o comando alterado, justamente porque cada gestão é uma nova gestão. Encontrei aqui uma estrutura muito bem montada, um trabalho extremamente profissional feito pelos órgãos de segurança do Ceará, uma boa integração com os órgãos federais e municipais. Agora, é seguir implementando uma diretriz própria que foi trazida, uma ideia de planejamento, uma estratégia própria pra gente conseguir garantir o máximo de segurança para a sociedade e reduzir os índices de criminalidade.
Na posse, uma das suas bandeiras foi o uso da inteligência em segurança pública. Como o senhor vai implementar essas ações a partir do ano que vem?
Uma das estratégias é melhorar aquilo que já existe, como no sistema de videomonitoramento e possível ampliação, sempre tendo como foco a busca de resultados concretos. Temos algumas ferramentas para serem lançadas no ano que vem. Uma das principais é uma que vai dar em tempo real para todos os comandos das polícias os pontos de maior criminalidade do Estado, por tipo de crime, e, a partir desta ferramenta, o comando daquela região vai poder dispor da melhor forma o seu efetivo policial.
Houve aumento de 81% no número de homicídios em 2020. O que pode ser feito para que o índice seja reduzido a partir do ano que vem?
Tivemos a situação do motim, com números muito grandes nos primeiros meses do ano. E aí sim, quando você pega o somatório do ano, os números naturalmente vão ser elevados. Temos também a questão da pandemia, em que ao logo deste período, já tivemos mais de 8.500 policiais que, em algum momento, foram afastados em razão de confirmação ou suspeita da doença - isso leva a uma redução do efetivo policial nas ruas. Para o ano que vem, já temos o dado que 90% dos homicídios ocorridos em Fortaleza e Região Metropolitana são ligados a disputa de territórios entre facções, que tem por motivação envolvimento de pessoas com o crime. Nossa principal estratégia para redução é um trabalho cada vez mais eficiente buscando desestruturar essa facções que agem no Ceará. Já fizemos, ao longo dos últimos meses, as prisões de diversas lideranças. A estratégia é também atacar o patrimônio delas pra que elas percam força.
E a integração entre as polícias vai continuar?
Também pretendemos promover uma integração cada vez maior com as forças de combate ao crime, com um novo patamar de maior integração nacional, mas já se partir para um patamar de operações policiais em conjunto, uma vez que esses grupos são nacionais. Fica muito difícil reprimir um grupo desses só com operações no Ceará. É uma expectativa muito provável de que se tenham essas investigações em conjunto (com outros estados).
Duas chacinas foram registradas durante a sua gestão, em Quiterianópolis e em Ibaretama. O que será feito para isso não acontecer em 2021?
Quanto mais nós tivermos de investigação e trabalhos qualificados que atinjam a estrutura desses grupos, menor é a probabilidade de ter esse tipo de chacina. Outra coisa que vem se buscando fazer nos últimos meses é cumprir todos os mandados de prisão que estejam pendentes com relação a autores de homicídio e foco nos inquéritos. A diretriz passada para a Polícia Civil e, felizmente, ela vem conseguindo cumprir, é dar uma resposta rápida, imediata. Tivemos vários casos muito graves e que a Polícia Civil conseguiu dar uma resposta rápida. Quanto mais prisão e indiciamento for feito, levando essas pessoas a responderem processo criminal, menor será a impunidade.
Em 2020, houve um alto número de homicídios de pessoas LGBTs, especialmente pessoas trans. Há alguma ideia pensada para que esses números sejam computados?
Temos uma comissão e estamos acompanhando exatamente para implementar várias melhorias no Sistema de Informação Policial (SIP) para que nos permitam ter a estatística. Para você fazer gestão de segurança pública, tem que ter a estatística. Essa é uma das alterações (inclusão de orientação sexual e identidade de gênero como campos obrigatórios) que será implementada, junto com outras pra que a gente possa identificar mais rápido, ter mapeamento e uma melhor estratégia. Nos próximos meses, um pacote de melhorias ao SIP vai ser implementado.
Fonte: Diário do Nordeste
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