sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Reajuste da Cagece indica alta da mesma ordem em outros serviços, diz economista

(Foto: José Leomar)


O aumento de 12,25% na conta de água anunciado pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) na noite de quarta-feira (30) deve pesar no bolso dos consumidores, principalmente quando as tarifas de outros serviços, como energia e transportes, também forem reajustados. A alta ainda pode prejudicar o desempenho do comércio e a recuperação econômica, segundo representante do setor.


O percentual de elevação é baseado no resultado do Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) entre julho de 2018 e abril deste ano. O indicador vem apresentando fortes acréscimos ao longo de 2020, tendo acumulado variação de 23,14% entre janeiro e dezembro. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), instituição que calcula o índice, a taxa ficou bem acima dos 7,30% registrados no fim de 2019 e é a maior desde 2002 (25,31%).


O economista Alex Araújo afirma que o impacto é sentido mais diretamente pelo consumidor final por ficar bem acima da projeção para a inflação oficial - medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - deste ano de 3,5%. "O que justifica esse forte impacto é a diferença de entre o IGP-M e o IPCA. A Cagece possui uma série de custos no atacado, de forma que a matriz termina sendo mais impactada pelo IGP-M", explica.


Ainda assim, a maior preocupação está na provável série de reajustes com patamares semelhantes ao da Cagece no primeiro semestre de 2021. Araújo detalha que alguns serviços, chamados de preços administrados, também utilizam o IGP-M como base para atualização de valores a serem cobrados. 

 

"Isso deve se repetir bastante em outros serviços, como energia, transportes, combustível, o que preocupa, porque a alta do IGP-M vai sendo transmitida para o IPCA. Tudo em uma combinação negativa de baixa atividade econômica, elevado desemprego e preços ascendentes", alerta. 

 

Negociação 

O IGP-M também é o indicador utilizado para basear o reajuste nos contratos de aluguel. Com a disparada do índice, locadores e locatários têm negociado diretamente uma variação mais justa, incluindo a troca do indicador. 

 

A possibilidade de negociação, no entanto, é remota no caso dos preços administrados, segundo Araújo. Isso porque as empresas que detém os monopólios desses serviços apresentam planilhas relatando o aumento dos custos ao longo do período em questão. 

 

"Quando envolve grandes empresas, com monopólios naturais, como energia, água e transporte, fica mais difícil acontecer essa negociação, porque elas apresentam planilhas de custos. No caso da Cagece, não discutiu índice, mas o aumento dos custos para o tratamento da água e esgoto. Para continuar em equilíbrio econômico e executando a atividade, ela argumenta que precisa de correção dessa ordem", esclarece. 

 

De acordo com o economista, o que poderia acontecer é um novo adiamento do reajuste. Este ano, a atualização dos valores foi prorrogada por conta da pandemia do novo coronavírus. 

 

"Esse movimento mostra que vamos ter pressão sobre o IPCA independente da recessão. No caso da água, não tem alternativa, é uma despesa que o consumidor não tem como fugir dela", ressalta. 

 

Comércio 

Araújo ainda explica que o setor produtivo adquire água bruta através de contratos diretos com a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), de forma que não serão tão impactados pelo reajuste da Cagece. 

 

Ainda assim, o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Ceará (FCDL-CE), Freitas Cordeiro, avalia o momento como ruim para se ter um aumento dessa magnitude na distribuição de água e esgoto. 

 

Segundo ele, a elevação irá pesar no bolso das famílias, que podem ficar retraídas ao consumo novamente, comprometendo o desempenho do setor. "É ruim, não é o preço em si que pesa, mas o aspecto psicológico. As pessoas vão desacreditando e recomeça o ciclo negativo, todo mundo tentando corrigir", afirma. 

 

Para Cordeiro, o reajuste deveria ser absorvido pela companhia, uma vez que o governo do Estado tem buscado alternativas para reduzir os impactos econômicos da pandemia. "Ele (Executivo estadual) busca tanto dinheiro para ajudar, deveria segurar isso aí, estaria beneficiando a todo o universo de pessoas de maneira segura. É uma ducha de água fria (a alta)", destaca.

Fonte: Diário do Nordeste

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