Foto: Fabiane de Paula |
O movimento de transmissão da Covid-19 de Fortaleza a outras cidades do Ceará foi uma das maiores preocupações do início da pandemia, em março de 2020, e o cenário se repete na segunda onda, iniciada em outubro. Até a manhã desta segunda-feira (22), 83 municípios cearenses já têm taxa de incidência de casos maior do que a Capital, e 3 a cada 4 casos confirmados da doença são registrados no interior.
Os dados são do IntegraSUS, plataforma da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), e mostram a proporção entre o número de pessoas infectadas e a população residente de cada município. A taxa, por fim, é calculada a cada 100 mil habitantes, indicando, atualmente, um cenário de alto risco de disseminação da doença nos municípios.
Em Fortaleza, a atual taxa de incidência de Covid é de 4.280 casos a cada 100 mil habitantes. A capital cearense somava, até a manhã de hoje, 114.248 pacientes com infecção pelo coronavírus confirmada, segundo a Sesa.
Municípios do Ceará com maiores taxas de incidência de Covid
Acarape – 13.483
Frecheirinha – 12.393
Crateús – 9.465
Iracema – 9.295
Moraújo – 9.124
Groaíras – 8.104
Redenção – 8.104
Quixelô – 7.559
Tabuleiro do Norte – 7.554
Varjota – 7.394
As taxas são superiores às registradas no Brasil, que tem, hoje, 4.838 casos a cada 100 mil habitantes; e em cada uma das regiões do País. Conforme levantamento do Ministério da Saúde, a incidência da doença no Centro-Oeste é de 6.663 casos/100 mil hab.; no Sul, 6.199; no Norte, 6.128; no Sudeste, 4.193; e no Nordeste, 4.184.
As menores taxas de incidência de Covid-19 são calculadas em Aiuaba, 150 casos e incidência de 862; Pedra Branca, 443 casos e taxa de 1.024/100 mil habitantes; Arneiroz, 87 infectados e 1.109 de incidência; Antonina do Norte, 107 confirmações e 1.455 de incidência; e Trairi, 866 casos e 1.548 de taxa de incidência.
Segunda onda afoga interior
Em se tratando de mortalidade, contudo, é o município de Orós que apresenta o cenário mais grave, considerando a proporção populacional: com 50 óbitos por Covid, a taxa na cidade do Centro-Sul cearense chega a 233 mortes por 100 mil moradores. Fortaleza aparece em segundo lugar, com acúmulo de 4.602 óbitos desde o início da pandemia, cerca de 172 a cada 100 mil pessoas.
Comparando ao cenário nacional, os índices, assim como os de incidência, também são superiores ao País, cuja taxa de mortalidade atual é de 117 óbitos por 100 mil habitantes. Nas cinco regiões brasileiras, a taxa gira em torno de, em média, 199 habitantes mortos por coronavírus a cada 100 mil que habitam no território.
Municípios do Ceará com maiores taxas de mortalidade por Covid
Orós – 233
Fortaleza – 172
Redenção – 165
Sobral – 160
Crateús – 154
São Gonçalo do Amarante – 150
Massapê – 149
Groaíras – 144
Paracuru – 142
Umirim – 141
Magda Almeida, secretária executiva de Vigilância e Regulação da Sesa, reconhece que a crescente de casos e mortes nos municípios do interior é uma “característica peculiar” dessa nova onda pandêmica na qual o Ceará mergulha.
“A situação epidemiológica da Covid mostra que a gente continua tendo aumento crescente de casos confirmados e óbitos. Diferente daquele momento em que tivemos aumento somente na Capital pra depois haver no interior, agora estamos com epidemia simultânea. Todas as regiões apresentaram aumento de casos, internações e óbitos”, lamenta a secretária.
A gestora aponta, ainda, que à exceção da Região do Cariri, que “ainda tem alguns locais com alerta moderado”, o restante do território cearense está com níveis alto e altíssimo de alerta para disseminação do coronavírus. De acordo com o Integra SUS, 167 dos 184 municípios cearenses têm alerta máximo ou quase máximo para incidência da Covid. Os outros 17 aparecem com alerta “moderado”.
Sobrecarga às unidades de saúde
O biomédico e microbiologista Samuel Arruda, especialista na epidemiologia de vírus respiratórios, avalia que o espalhamento do coronavírus pelo interior do Estado nesse segundo momento de pandemia reflete justamente um efeito da primeira onda, em 2020, quando a maior parte dos casos se concentrava nas cidades.
“O que temos no interior agora é uma população que teve menos contato com o vírus. Então, a velocidade de disseminação lá será, de fato, maior do que nas cidades, já que a população é imunologicamente menos forte, tem menos proteção contra o vírus”, explica Samuel. A implicação disso, segundo o biomédico alerta, é a sobrecarga nas estruturas de saúde: tanto as municipais, que têm menor capacidade do que as de Fortaleza; quanto as da própria Capital, que deve começar a receber um número cada vez maior de transferências.
O efeito disso, complementa Samuel, é uma bola de neve que cresce em direção ao agravamento de casos.
“Vai haver redução na procura por atendimentos, exatamente pela dificuldade de acesso aos serviços de saúde; e, com isso, a necessidade de deslocar pacientes à Capital, o que também vai sobrecarregar o sistema. Teremos um sério problema tanto para lidar com pacientes clinicamente como no manejo dos deslocamentos a unidades hospitalares de referência”, projeta.
A secretária de Vigilância e Regulação da Sesa aponta que, neste momento de avanço da pandemia, além da ampliação de leitos, é imprescindível que a população seja testada. “No caso de sintomas, é preciso procurar as unidades básicas de saúde (postos de saúde) e as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) para fazer o teste, o exame molecular, que é o RT-PCR. Em Fortaleza, temos os centros de testagem na Praça do Ferreira e drive-thrus do HGF e do RMK (agendado).
Fonte: Diário do Nordeste
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