Em meio ao cenário da pandemia, o Ceará registrou o maior número de divórcios no Nordeste no ano de 2020, com 2.060 casos, ficando na frente da Bahia (1.606), do Maranhão (1.300) e de Pernambuco (1.339). Apesar disso, apresentou queda de 14,7% em relação à 2019, quando foram contabilizados 2.416 divórcios, segundo o Colégio Notarial do Brasil – Conselho Federal (CNB-CF).
Em relação aos casamentos, o Estado apresentou queda de 10,5% em 2020 comparado ao ano anterior. Em 2019, foram registrados 26.266 uniões em cartórios, enquanto 2020 contabilizou somente 23.486, com 2.780 mil casos a menos, conforme dados do Portal da Transparência do Registro Civil, mantido pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (ARPEN).
Os meses no auge da pandemia concentraram as maiores reduções na quantidade de divórcios no Ceará. Em abril, as ocorrências saíram de 206 para 43, com queda de 163, enquanto em maio a redução foi de 225 para 60, 165 a menos. Já os meses de julho e agosto apresentaram os maiores crescimentos, de respectivamente 65 e 54 casos, registrando 275 e 236 casos.
De acordo com o diretor da ARPEN-CE, Vitor Moraes, o isolamento social devido à pandemia foi um dos maiores fatores contribuintes para o aumento do número de divórcios. “A gente teve uma drástica mudança no estilo de vida de toda a população e as pessoas que conviviam por tais horas por dia dentro de casa tiveram que passar 24 horas juntas em um ambiente, muitas vezes, de insegurança. Então, somado a isso, temos o medo do desemprego, do que vai acontecer no futuro, e isso gera um abalo emocional que acaba sendo descontado no parceiro (a)”, pontua.
O alto registro de separações no Estado em 2020, no entanto, ainda não reflete a realidade completamente, segundo Vitor. “Mais pessoas se separaram mesmo, ou seja, deixaram de compartilhar a mesma casa. Porém, essas pessoas vão levar essa demanda de divórcio ao cartório ou ao Judiciário posteriormente. Os dados que temos hoje de 2020 já são altos, mas a realidade é um pouco pior”, coloca.
Casamentos no Civil
Os registros de casamento voltaram a subir nos meses de setembro a dezembro de 2020, após sete meses de queda. O crescimento das uniões durante o cenário de redução de casos da Covid-19, não foi suficiente para evitar a queda anual. No mês de janeiro, o Ceará apresentou crescimento de 4,7%, saindo de 2.123 em 2019 para 2.224. Porém, de fevereiro a agosto, o Estado começou a ter quedas no número de casamentos.
Em fevereiro, foram apenas 25 casos a menos, mas em março, mês em que houve a confirmação dos primeiros casos da Covid-19 no Ceará, a queda já foi de 597 ocorrências, registrando 1.215 em 2020.
A redução se torna ainda mais expressiva nos meses de abril e maio, auge da pandemia no Ceará, quando o lockdown foi decretado e o nível de isolamento ainda estava alto, com queda de respectivamente 1.348 e 1.577. Foram somente 439 casamentos em abril e 604, em maio. Os registros só aumentaram em comparação a 2019 somente em setembro, com 2.534, alcançando 4.107 em dezembro.
Conforme o diretor da ARPEN-CE, o isolamento também foi o grande responsável pela queda de matrimônios. “A gente teve menos interação física entre as pessoas, já que elas estão isoladas umas das outras. Também tivemos muitos casais que planejavam o casamento adiando a data sempre que há um aumento no número de casos de Covid-19 ou alguma proibição nos decretos que reforçam o isolamento. Todo mundo achou que já no início de 2021 já iria normalizar as coisas, mas já estamos com um número crescente de adiamentos novamente”, comenta Vitor.
Vitor afirma que para os números retornarem ao estágio de pré-pandemia ainda em 2021, a vacinação em massa teria que acontecer rapidamente e já mostrar os efeitos ainda neste ano, “o que não é o que a realidade fática nos mostra”. “Com o evidente efeito da vacinação, nós teremos o possível fim do isolamento social e da sobrecarga nos hospitais. E então, a gente vai ter um ‘boom’ inicial com os casamentos em demanda reprimida e depois seguimos com números no patamar de 2019”, diz.
Celebração durante a pandemia
A publicitária Ágda Sarah Sombra, 29, e o engenheiro mecânico João Paulo da Costa Santos, 30, fazem parte do grupo que se casou em 2020. Tendo organizado o casamento civil e religioso para 31 de outubro do ano passado, Ágda conta que precisou adiar a data após a chegada do novo coronavírus no Ceará. “Adiamos o casamento, mas achamos por bem fazer a oficialização em dezembro”, detalha. Realizaram a celebração no civil no dia 18 do último mês, data que marca o aniversário de namoro e agora, de casamento.
A festa e a entrada na igreja seguem suspensas. O primeiro adiamento foi feito para abril deste ano, mas a nova prorrogação para outubro de 2021 foi realizada em decorrência da 2ª do novo coronavírus e da chegada da nova cepa no Ceará.
“É tudo muito incerto e a gente quer fazer isso da maneira que a gente sempre sonhou. é um sonho, e é muito dinheiro investido. Prefere fazer com segurança. Celebrar com abraços, com as pessoas que gostam. Celebrar um período de saúde, de vida e de amor”, compartilha.
Apesar da frustração, a maior preocupação da publicitária é com a responsabilidade coletiva. “Preciso adiar um pouco esse meu sonho hoje, para que a gente não seja um foco de difusão e transmissão do vírus. Entendo que é por um bem maior, não posso pensar só no meu sonho, quando tem gente morrendo nos hospitais”, finaliza.
3º lugar do Nordeste
No ano passado, o Ceará contabilizou 23.486 casamentos, quantidade superada somente por Pernambuco (31.367) e Bahia (42.708), conforme dados do Portal da Transparência do Registro Civil, mantido pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (ARPEN). A posição em terceiro lugar do Nordeste segue sendo mantida em 2021, entre janeiro até a data de ontem (19).
Foram 6.127 casamentos ocorridos na Bahia, 3.365 em Pernambuco e 2.923 no Ceará. Neste ano, o Estado é seguido pela Paraíba (1.524), Rio Grande do Norte (1.296) e Maranhão (1.228). Em 2020, o quarto estado do Nordeste com maior quantidade de casamentos registrados foi Maranhão, com 12.282, seguido por Paraíba (11.308) e Alagoas (7.411).
Fonte: Diário do Nordeste
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