A construção da nova usina de hidrogênio verde no Ceará terá um impacto substancial no mercado de energias renováveis do Estado. Segundo Wesley Cooke, CEO da Enegix, empresa australiana que investirá US$ 5,4 bilhões na planta de produção a ser instalada no Pecém, o empreendimento deverá gerar cerca de mil empregos na fase de construção e "centenas de oportunidades" na fase de operação. As informações foram repassadas ao Diário do Nordeste em entrevista exclusiva.
Além disso, o CEO da Enegix e o diretor de operações da empresa, Marco Stacke, destacaram que os empregos gerados na "Base One", como é chamada a usina de hidrogênio verde, terão um alto padrão salarial por conta do alto perfil tecnológico da operação dos sistemas.
"O projeto de construção deve ser um processo contínuo e acreditamos que devemos empregar cerca de mil pessoas nessa etapa, mas o mais importante é que, na fase de operação, nós iremos criar centenas de empregos com altos níveis de salário. Não é como as vagas de emprego que não precisam de treinamento, então no processo de construção nós poderemos treinar muitas pessoas e dar capacidade para que uma parte da mão-de-obra na fase de construção possa ser integrada à fase de operação", disse Marco Stacke.
"Estaremos criando 'cientistas de foguete' no Ceará a partir desse mercado de hidrogênio", completou.
Mercado em desenvolvimento
A perspectiva foi confirmada pelo consultor da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) e presidente da Câmara Setorial de Energias Renováveis do Governo do Estado, Jurandir Picanço. Ele destacou que ainda não é possível prever a média salarial das vagas que serão criadas porque o mercado de hidrogênio verde é "muito novo".
Contudo, Picanço ressaltou que o projeto deverá ter impactos em toda a cadeia de energias renováveis no Ceará, com empregos sendo criados na usina e nos setores de energias eólica e solar.
"Há pouquíssimas informações sobre o mercado porque ele ainda está se formando no mundo. É uma cadeia produtiva muito extensa. O hidrogênio verde precisa de água e energia renovável em larga escala, então esse investimento terá impacto em todo o nosso mercado. Para se ter uma ideia, toda a produção de energia eólica no Ceará tem um potencial de 2 GW e eles estão buscando contratar mais de 3,5 GW para operar essa usina de hidrogênio", explicou o consultor.
Contato com as universidades
Segundo o CEO da Enegix, por conta do caráter de desenvolvimento do mercado de hidrogênio, a empresa deverá organizar diversos treinamentos com parte das pessoas envolvidas na equipe de construção para preparar funcionários para integrar a operação da usina.
Além disso, Wesley Cooke afirmou que a Enegix deverá manter um contato direto com as universidades cearenses para impulsionar a preparação e desenvolvimento de mão-de-obra qualificada a partir da academia.
"Realmente, teremos vários tipos de funções por ser um projeto gigantesco. Mas o ponto é que precisaremos de treinamentos específicos e protocolos e, para isso, queremos fechar uma parceria com as universidades nos próximos anos, enquanto estaremos na fase de construção, pensando até em parcerias com universidades estrangeiras. Isso é tudo muito novo, mas até aqui podemos perceber que o Ceará está preparado para oferecer todas as capacidades de que precisaremos no projeto", disse o CEO da Enegix.
Pesquisa cearense
Jurandir Picanço ainda ressaltou que já existem pesquisadores no Ceará que trabalham o tema do hidrogênio verde e isso poderá facilitar a preparação de profissionais cearenses para o mercado de hidrogênio verde.
Ele também comentou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deverá lançar um novo edital de pesquisa baseado em projetos de hidrogênio verde, algo que poderá ajudar a impulsionar o setor no Ceará.
"O que ocorre é que são atividades de tecnologia alta que exigem qualificação. Vamos precisar ter cursos específicos e pesquisas próprias para o assunto. Já temos vários pesquisadores e devemos ter mais recursos direcionados para isso. O próprio BNDES vai abrir um edital para possibilidade de pesquisa para o hidrogênio verde. Temos de fazer um esforço para que todo esforço dê certo", disse.
Atualizações no mercado local
Contudo, o mercado cearense já deve começar a ser atualizado a partir da perspectiva do hidrogênio verde. Jurandir Picanço afirmou que já existem projetos para que, no futuro, parte da fonte energética usada na Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) seja trocada para utilizar hidrogênio verde.
"No futuro, a nossa siderúrgica vai usar o hidrogênio no lugar do carvão. Já há estudos para que se faça essa substituição. Você criar uma atividade econômica nova é muito importante, pois ela não concorre com outros setores e o Ceará pode estar na vanguarda", disse Picanço.
O que é o hidrogênio verde?
Hidrogênio verde é o hidrogênio obtido a partir de fontes renováveis, sem a emissão de carbono. Diferentemente dos combustíveis fósseis, o aproveitamento energético do hidrogênio raramente se dá por sua combustão, e sim por meio de uma transformação eletroquímica, realizada em células conhecidas como "células a combustível".
O oxigênio presente na atmosfera se combina com o hidrogênio, produzindo energia elétrica e água. Assim, a geração de energia por meio de células a combustível em si não causa danos ao meio ambiente.
Fonte: Diário do Nordeste
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