Maria acorda todos os dias sonhando em ter um lar, com uma família e envolta a amor. Assim como esta personagem fictícia, milhares de crianças e adolescentes aguardam, na vida real, serem adotadas. Somente na Casa Abrigo de Juazeiro do Norte, há, atualmente, 20 delas, sendo duas aptas à adoção. No Ceará, são mais de 240. Enquanto isso, no município juazeirense, 44 pretendentes, devidamente cadastrados na comarca, estão aptos a adotar. Um dos entraves que se repete é a busca por crianças que se “encaixem” em um perfil: crianças com até três anos de idade, de cor branca e do sexo feminino.
A Defensora Pública do Estado do Ceará, Aline Marinho, conta que, através do Projeto “Abrigo não é Família”, da Defensoria Pública, um grupo de defensoras atua em prol das crianças e adolescentes acolhidos na Casa Abrigo de Juazeiro do Norte, acompanhando os processos. “Nesse projeto, buscamos fazer com que essas crianças e adolescentes passem o menor tempo possível acolhidas, pois em que pese serem muito boas as condições da nossa casa de acolhimento, o abrigo não é um lar”, explica.
Muitas das crianças, por não se encaixarem no perfil priorizado, prosseguem residindo na casa abrigo, sem uma família. “Ademais, verdadeiramente, havia uma morosidade no sistema judiciário no processo de cadastramento, mas acreditamos que atualmente o processo de cadastro à adoção está prosseguindo de forma mais célere, desde a abertura da Vara Única da Infância e Juventude na comarca de Juazeiro do Norte, pois há um compromisso e empenho dedicados exclusivamente às crianças e adolescentes de toda a equipe da vara”, relata a Defensora.
Conforme ela explica, entre os trâmites necessários para a adoção legal estão o contato com a vara da infância e juventude da cidade, para solicitar a lista dos documentos, além do informe à Defensoria Pública para que o órgão ingresse com pedido de adoção e audiência de instrução. O pretendente deve estar incluído no cadastro nacional de adoção, como preconiza o Estatuto da Criança e Adolescente. Sobre a burocracia no percurso, Aline Marinho conta que ocorre devido ao ato envolver um cuidado para com a criança ou adolescente, que necessita ser devidamente acompanhado. A adoção sob a lei, como aponta a defensora, pode ser de forma segura, tranquila e pacífica, diferentemente de uma “adoção irregular”, em que podem surgir problemas como, por exemplo, os genitores quererem tomar a criança ou haver dificuldades para matrícula em escola, consultas médicas etc.
“Adoção é doação... Doação de amor, doação de cuidado, doação de carinho, doação de trabalho. É um fazer sem saber o que vai receber em troca, em nada diferenciando de um filho de sangue, pois quando Deus nos presenteia com um filho, não escolhemos cor, sexo, ou qualquer outra característica, apenas recebemos o presente e cuidamos da melhor forma possível. Sei que tem inúmeras pessoas que têm o desejo de adotar e que sonham com a maternidade ou paternidade. Aconselho a não desistir desse sonho, apesar de ser um pouco trabalhoso no início, disponibilizando-me a auxiliar no que for possível durante o processo”, enfatiza Aline Marinho.
Fonte: Jornal do Cariri
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