Foto: Fabiane de Paula |
Esta quinta-feira (23 de dezembro) marca a primeira semana de abertura do cadastro de crianças de 5 a 11 anos, no Ceará, para receber a vacina contra a Covid-19. No entanto, até a tarde desta sexta (24), isto é, 8 dias após o ínicio dos cadastros, apenas pouco mais 10% do público estimado em 900 mil meninos e meninas foram inscritos.
A projeção atualizada dessa população para 2021, em todo o Estado, é de 904 mil, segundo a Gerência de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Até as 15 horas desta sexta, porém, apenas 95.565 crianças (10,57%) estavam com cadastro confirmado, de acordo com dados da plataforma IntegraSUS, administrada pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). Desse total, 67 foram inscritas antes mesmo da autorização.
Neste mês, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou uma versão do imunizante da Pfizer para aplicar em crianças de 5 a 11 anos. Atualmente, a Agência também analisa estudos do Instituto Butantan sobre a permissão para a Coronavac.
90,7% é a eficácia na prevenção de infecções em crianças informada pela Pfizer. A dose equivale a 1/3 da formulação aplicada a partir dos 12 anos.
Apesar da liberação, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou publicamente que a autorização da Anvisa não é suficiente para viabilizar a vacinação, que o tema passará por consulta e audiência públicas, e que a liberação será decidida no dia 5 de janeiro de 2022.
O Governo Federal é responsável por adquirir os imunizantes e enviá-los aos Estados. Enquanto o debate ocorre no Brasil, mais de 15 países já começaram a vacinar menores de 12 anos, incluindo Argentina, Estados Unidos, Alemanha, Israel e França.
“Demora ajuda nas fake news”
A empreendedora Tamires Warick não perdeu tempo e já cadastrou Paulo Filipe, de seis anos, no sistema do Ceará. A maior preocupação dela é com o retorno às aulas presenciais em 2022, porque “muitas crianças ficam expostas ao vírus e não sabemos qual é a rotina dos pais delas”.
“Meu marido trabalha o dia todo fora e, quando chega em casa, se higieniza para falar com as crianças”, diz ela, que também é mãe de Ana Vitória, de dois anos, e Paulo Otávio, de nove meses.
Foi o filho mais novo, inclusive, com quem ela passou sufoco no início do ano. Mesmo sem sair de casa, durante o puerpério, o bebê pegou Covid-19 e desenvolveu um quadro sério de pneumonia. Hoje, ele está em casa, mas enfrenta as sequelas da doença.
“Por mais que a população adulta esteja quase toda vacinada, o público que pode estar fragilizado são as crianças. Elas não têm defesa. O período com meu filho internado foi muito triste, achei até que ia perdê-lo. Hoje, ele vive gripado, tosse muito e precisa de muitos cuidados, por isso ainda não voltei a trabalhar”, relata.
A analista de contas Cirliane Coelho também já cadastrou o filho Murilo, de 9 anos. Maria Laura, de dois, fica de fora da autorização. Para a mãe, a demora do Ministério da Saúde em reconhecer o uso da vacina estimula ainda mais a desinformação.
“Acredito que, quanto mais demora, mais tempo a doença tem pra acontecer, e as pessoas podem ir perdendo o interesse na vacina, devido a algumas espalharem fake news sobre ela”, opina.
As duas mães relatam que, em grupos de pais e responsáveis das escolas dos filhos, há integrantes que duvidam da capacidade de imunização das vacinas, alegando que a tecnologia ainda é nova demais ou que pode deixar sequelas.
“Nenhuma vacina é 100% eficaz, e todas têm algum tipo de reação. Independente do laboratório onde é produzida, acredito que os cientistas se prepararam bastante para criar a vacina”, acredita Cirliane.
“Se tivesse para o meu filho de nove meses, eu já daria. Não acho que a doença vai acabar de repente, mas a vacina vai ficar no calendário de rotina. Para mim é ótimo, porque bebê já nasce tomando vacina. Eu vejo como se os pais que questionam quisessem deixar o filho à mercê, sabe?”, questiona Tamires.
Vacinação é segura
A pediatra Olívia Bessa, diretora de Pós-Graduação da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE) e professora da Universidade de Fortaleza, reforça que a vacina recebeu uma análise “criteriosa” da Anvisa, inclusive com a consulta e o acompanhamento de um grupo de especialistas em pediatria e imunologia que teve acesso aos dados dos estudos.
“Esse olhar de especialistas externos foi essencial para que o uso da vacina por crianças fosse aprovado dentro dos mais rigorosos critérios, considerando para isso o conhecimento de profissionais médicos que atuam no dia a dia com crianças e imunização”, explica.
Para a especialista, é essencial implementar medidas efetivas de comunicação que disseminem conteúdos cientificamente comprovados para uma melhor percepção e adesão à vacinação, evitando uma “crise de confiança e os mitos” em torno dos riscos das vacinas.
Os estudos clínicos das vacinas da Covid nas crianças mostram um excelente perfil de segurança e também uma capacidade de resposta imunológica muito boa, igual ou superior a dos adultos, mesmo utilizando doses menores dos antígenos vacinais.
ROBÉRIO LEITE
Infectologista pediátrico
O médico lembra do risco que o coronavírus representa para a saúde das crianças, o que comprova a relevância da vacina. “Nós tivemos mais mortes por Covid do que qualquer doença que seja prevenível por imunização, de modo que a gente não pode deixar de oferecer essa possibilidade de proteção para nossas crianças”.
A volta segura para as salas de aulas exige vacina e os protocolos já conhecidos para evitar o contágio pela doença, recomenda Robério.
“Nós certamente estaremos encurtando o caminho para o retorno presencial de 100% dos estudantes nas salas de aula. Então a gente vai ter que ainda caminhar com a utilização das máscaras por algum tempo e as vacinas são essenciais para que a gente alcance esse objetivo do retorno à normalidade”, conclui o médico.
Riscos da Covid
A pediatra Olívia Bessa alerta ainda que, embora apresentem, na sua maioria, formas clínicas leves ou assintomáticas, crianças e adolescentes não estão isentos da ocorrência de formas graves da Covid-19. Os principais riscos que podem levar a óbito são:
a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG): doença respiratória causada por infecções (de vírus, bactérias ou outros agentes) que afetam os pulmões. Neste ano, a Sesa registrou 718 internações de crianças de 0 a 9 anos, até o dia 8 de dezembro;
a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P) associada à Covid: condição identificada durante a pandemia, apresenta sinais inflamatórios que acometem vários órgãos e aparelhos do corpo, com predominância do coração.
Fonte: Diário do Nordeste
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