quinta-feira, 3 de março de 2022

88% dos fósseis da Bacia do Araripe estão no exterior, denuncia estudo

Foto: Reprodução dos autores no artigo Digging

Nesta quarta-feira (2), um estudo publicado no jornal da entidade britânica Royal Society analisou as últimas três décadas de estudos paleontológicos no México e no Brasil. De acordo com o estudo, entre 1990 e 2020, 88% dos macrofósseis do período Cretáceo, provenientes da Bacia do Araripe, estão em coleções estrangeiras. Os pesquisadores apontam que as práticas colonialistas aprofundam as desigualdades globais na pesquisa paleontológica.


O levantamento foi realizado pelos autores Juan Carlos Cisneros, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), e Emma M. Dunne, paleobiologista da Universidade Birmingham no Reino Unido. O estudo teve, ainda, a contribuição de autores dos dois países abordados no levantamento. No Cariri, um dos pesquisadores envolvidos foi Renan Bantim, do Laboratório de Paleontologia, Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Regional do Cariri (URCA) e Marcos Sales, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), Campus Acopiara.


“A Bacia do Araripe tem sido uma fonte para o mercado ilícito de fósseis”

 

Desde 1942, os fósseis são considerados patrimônio da União e são protegidos por lei, sendo proibida a retirada e exportação desses materiais do país, sem a autorização da Agência Nacional de Mineração (ANM). Além dessa lei, em 1990, o governo brasileiro publicou um decreto que regulamenta expedições científicas estrangeiras que coletam material biológico ou paleontológico no país, sendo autorizadas desde que haja coparticipação e co-responsabilidade de instituição brasileira reconhecida.

 

O estudo aponta ainda, que 59,15% das publicações analisadas foram lideradas por pesquisadores estrangeiros, e mais da metade dessas publicações, 57,14%, não mostraram evidências de colaboração com pesquisadores brasileiros locais.

 

O levantamento aponta que a compra de fósseis é considerada uma válida possibilidade nos casos em que: os fósseis são mantidos em instituições estrangeiras; licenças de exportação não são mencionadas; o trabalho de campo é mencionado, mas não está claro se os próprios autores coletaram o fóssil; os dados de proveniência são vagos e/ou o trabalho de campo não é mencionado (ou seja, o fóssil “aparece” de repente em coleção estrangeira); ou compra é reconhecida diretamente nas publicações.

 

Sugestões dos autores

 

“A história extrativista da paleontologia colonialista não pode ser reescrita, mas podemos traçar um novo caminho com base em uma cooperação respeitosa que beneficia mutuamente tanto as instituições locais como estrangeiras, bem como as comunidades locais que permanecem como os guardiões de seu patrimônio paleontológico”, finaliza o estudo.

 

Fonte: Site Miséria

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