Um estudo publicado por cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Cruz) aponta relação direta entre os casos de suicídio registrados no Brasil em 2020, primeiro ano da pandemia, e fatores como desigualdades regionais e sociais. De acordo com a pesquisa, houve alta expressiva de ocorrências nas regiões Norte e Nordeste, que são as duas socialmente mais vulneráveis do Brasil. O levantamento utilizou dados oficiais de mortalidade fornecidos pelo Ministério da Saúde.
Publicado na revista internacional Journal of Social Psychiatry, o estudo foi elaborado pelo epidemiologista Jesem Orellana, do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), e o médico psiquiatra Maximiliano Ponte, da Fiocruz Ceará. Os resultados mostram aumento de 26% nos casos de suicídios entre homens com mais de 60 anos, na região Norte. Já no Nordeste, o crescimento chegou a 40% entre as mulheres, na mesma faixa etária.
Apesar das estatísticas preocupantes verificadas nas duas regiões, os autores ressaltam que, na média nacional, houve queda de 13% nos casos de suicídio em 2020. “Nosso trabalho evidencia a importância de tratar o suicídio para além de um problema de saúde individual, pois trata-se de uma questão com profunda relação com as desigualdades econômicas e de acessos aos serviços sociais e de saúde pública”, explica Maximiliano Ponte.
Para o psiquiatra, a ciência deve apostar cada vez mais em estudos que correlacionem o suicídio com variáveis sociais e regionais. "Essas questões têm que ser sempre levantadas em estudos sobre suicídio, particularmente em países em desenvolvimento com grandes desigualdades regionais e econômicas como o Brasil”, acrescentou.
Jesem Orellana ressalta que o suicídio é um problema de saúde pública que figura como importante causa de morte prematura em todo o mundo, mas especialmente na América Latina. “Por isso, é fundamental conhecer a sua magnitude, distribuição e possíveis razões, visando a sua prevenção”, explica. De acordo com o pesquisador, a ocorrência de um suicídio pode estar ligada a muitos fatores. “Questões biológicos como sexo ou idade, bem como fatores sociais e transtornos mentais, especialmente ansiedade e depressão”, cita.
De acordo com Orellana, os resultados do estudo apontam para a necessidade de se compreender a atual crise sanitária de forma mais ampla ou como um fenômeno decorrente da interação entre a Covid-19 e os demais desafios sanitários existentes. “Nosso estudo também alerta para a possibilidade de efeitos indiretos ainda mais fortes sobre os suicídios a partir de 2021, uma vez que o impacto direto pandêmico (mortes por Covid-19) foi ainda mais severo em 2021”, justifica.
Com a pesquisa, os cientistas esperam contribuir para a formulação de novas políticas públicas voltadas à mitigação dos fatores diretamente associados a casos de suicídio. Ao mesmo tempo, alertam para os impactos da pandemia de Covid-19 na saúde mental da população e como o quadro tem contribuído para o aumento de mortes prematuras em regiões mais pobres.
Fonte: O Povo
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