Um condomínio de kitnetes feito de contêineres surgiu, “do dia para noite” aos olhos da vizinhança, na Rua Jaime Benévolo, em Fortaleza, e deve receber os primeiros moradores na próxima semana. Com menor tempo de execução, a obra também teve redução de 40% dos custos.
São 20 moradias divididas em 3 tamanhos diferentes: 15m², 18m² e 30m². Os kitnetes, com isolamento térmico e pintura para proteger os efeitos do sol, são inaugurados em um contexto de poucas construções feitas nessa modalidade. O condomínio tem 2 andares.
“Os moradores estão encantados, eu recebo WhatsApp (com curiosidades) de tanta gente, e já veio uma pessoa querendo que a gente faça para ele”, conta o proprietário, David Rodrigues, de 40 anos.
O Residencial Gerardo Campos, nome dado em homenagem ao avô de David, está nos últimos acabamentos de pintura e reforma da calçada. Em meio a esse processo, já chegam os primeiros objetos das mudanças e plantas que devem enfeitar o local.
Mas, todo esse movimento para morar “em casas de ferro”, no calor do Ceará? “Todos os contêineres têm isolamento térmico, que pode ser de isopor largo e lã de vidro, mais a estrutura que pode ser drywall ou PVC, que eu coloquei nos quitinetes”, explica.
O projeto do condomínio foi feito por engenheiro, arquiteto e com apoio de uma empresa para adaptação dos contêineres de 2x12m. Os blocos de metal foram adquiridos no Porto do Pecém, mas não com facilidade.
Estrutura recebeu pintura para evitar desgaste com o sol. Fotos: Kid Júnior
“Não foi tão simples, porque a escassez dos contêineres está grande e também deu um boom no valor. Quando eu comprei um ano atrás era um preço, hoje já é bem mais caro”, contextualiza David.
Depois do projeto e ajuste das peças de container, a etapa seguinte foi levar os blocos para o local. “Eu tive que pedir a solicitação para fechar a rua, porque o guindaste teve que parar no local e ficamos uma madrugada inteira, de 23h às 7h, de sábado para domingo”, lembra.
Daí, como o proprietário associa, o processo funciona como brinquedos de montar. Os contêineres são encaixados e no início da manhã já estavam montados. Na sequência, começam as instalações elétricas, hidráulicas, colocação de piso e PVC nas paredes.
“Quando eu fui fazer, o meu medo era esse: não tinha nenhum projeto além do meu, pelo menos eu não achei. Tem motéis, escritórios, lanchonetes, pousadas, mas moradia assim em condomínio não tem”, frisa.
O Diário do Nordeste solicitou o número de registro de construções feitas com container ao Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará (Crea-CE). No entanto, não há esse tipo de levantamento. Com isso, não há informações oficiais sobre outros condomínios do tipo.
PESQUISA PARA A CONSTRUÇÃO
Apesar de parecer ter surgido rapidamente no local, a construção começou depois de cerca de um ano de estudos do proprietário, que passou a entender o funcionamento dos imóveis de container no Sul do País, Estados Unidos e Europa.
David começou a buscar pela alternativa quando se deparou com o aumento expressivo no preço dos materiais de construção no início da pandemia de Covid. Até então, a ideia era ampliar o número de kitnetes para alugar feitos da forma mais comum.
“Fiz o projeto para fazer um outro prédio de alvenaria, peguei o orçamento com a construtora e infelizmente ficou muito caro, porque quando a pandemia chegou o material de construção deu um salto absurdo”, lembra.
Eu estava dentro do meu quarto quando eu recebi o orçamento da construtora e comecei pesquisar outros tipos de construção e descobri o contêiner. Fui estudar, saber onde fazia e buscar informações
DAVID RODRIGUES
Proprietário
Depois disso, a obra levou cerca de um ano para a conclusão com alguns momentos de pausa. Até a próxima semana, como estima o proprietário, serão concluídos os últimos acabamentos.
CONSTRUÇÃO COM CONTAINER
Como as obras tradicionais, edificações com contêineres devem ser registradas no Crea-CE e na Prefeitura. São exigidos alvará, registro em cartório, cadastro de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), por exemplo.
“Está começando a ter projetos arquitetônicos específicos para isso, porque há pouco tempo eram utilizadas apenas para instalações provisórias, como escritórios de obras e depósitos de materiais. De uns anos para cá, isso foi ficando mais sofisticado”, explica o engenheiro Emanuel Mota, que já foi presidente do Crea.
Com isso, a equipe deve ser formada por arquiteto, engenheiro civil e engenheiro mecânico. Não há a classificação "container” para o registro nos órgãos competentes, mas pode ser feita a inscrição geral. “É um projeto geral usando materiais mistos, porque vai ter concreto, container, revestimento acústico e térmico”, exemplifica.
Os custos são relativos e os preços dos contêineres são definidos em dólar, além da escassez em alguns períodos. O uso desse material torna a obra mais ambientalmente sustentável, porque são blocos descartados. Outra vantagem está no tempo de execução.
“Você leva menos tempo para ter o bem no tempo de uso do que em métodos tradicionais, porque estão prontos e basta uma adaptação. Diminui o tempo da obra, em alguns casos, na metade do tempo”, completa Emanuel.
Temos que ficar atento às novas tecnologias e associá-las ao nosso dia a dia, porque a tendência é que os materiais de construção tradicionais entrem em escassez por serem recursos naturais
EMANUEL MOTA
Engenheiro civil
A técnica começa a ser utilizada no Ceará para levantar espaços comerciais e as primeiras residências também são levantadas.
“Já vemos construções nesse sentido, principalmente, de lojas e pontos comerciais. Residências ainda não tanto, mas até alguns shoppings, como no Guararapes, foram construídos somente com container", acrescenta.
Fonte: Diário do Nordeste
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