Um dos últimos registros de onça pintada no Cariri foi ainda na década de 1980. Hoje, cerca de 10 espécies de mamíferos da fauna caririense integram a lista estadual de animais ameaçados de extinção, como é o caso da jaguatirica, do gato-mourisco e da onça parda.
Estima-se que 1 milhão de espécies da fauna e da flora correm risco de extinção e muitas delas devem desaparecer nas próximas décadas, como aponta um dos relatórios da ONU, ainda em 2019. Os principais fatores por trás do declínio das espécies se concentram na conversão de terras, incluindo o desmatamento; a pesca predatória; a caça e o tráfico de carne de animais silvestres; as mudanças climáticas; a poluição; e as espécies exóticas invasoras.
Desde o ano passado, o número de alertas para essas atividades só aumentou na região do Cariri, especialmente na Chapada do Araripe. Além da perda de mais de 2 mil hectares para o desmatamento, os animais silvestres são alvos de ações diretas dos humanos.
Em novembro de 2021, uma onça parda foi assassinada e exposta como troféu na zona rural de Tarrafas, os participantes do crime ambiental divulgaram as imagens na internet. A ocupação urbana desordenada e a destruição do meio ambiente são os principais fatores pelo declínio populacional da espécie, e atrelados à caça, o cenário piora.
Com o desmatamento, as espécies precisam se deslocar em busca de comida, no meio do caminho, as estradas são ainda mais perigosas para os animais, especialmente no período noturno. Em junho de 2022, um tamanduá-mirim foi atropelado na CE-292, entre os municípios de Crato e Nova Olinda, e ficou em estado grave. O motorista não prestou socorro ao animal e acabou fugindo, o que se configura como crime ambiental.
Entre tantos casos como estes, pode-se perceber que apesar de sabermos do impacto das nossas ações como humanos, não temos interesse em pensar um desenvolvimento moderno com respeito ao meio ambiente. Muitas das práticas e ideias colonialistas, que já destruíram metade do planeta, ainda são discutidas como verdades inquestionáveis em países em desenvolvimento.
O crescimento desordenado e invasivo em espaços como a Chapada do Araripe vai trazer prejuízos em todos os setores considerados importantes e essenciais, para os que pensam de forma econômica, para não dizer capitalista, em pouco tempo o solo vai ser degradado e pode até mesmo se tornar improdutivo, a falta de vegetação nativa e ações bruscas de mudanças do solo podem ocasionar deslizamentos de terra, erosões e até mesmo causar danos à saúde, com o aparecimento de espécies invasoras e doenças contagiosas.
Além da completa e indiscutível dependência que temos do meio ambiente e isso inclui a biodiversidade, não somos capazes de exercer o mínimo: o respeito. Quando crianças aprendemos que as árvores nos mantém respirando, na adolescência entendemos que cada animalzinho, por menor que seja, tem sua importância no equilíbrio do planeta, e na vida adulta parece que tudo se perde, fica escondido e é lembrado esporadicamente, talvez até com um pouco de peso na consciência, mas, por via das dúvidas, devo lembrar-lhe que nós também somos espécies.
Fonte: Site Miséria
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