sábado, 23 de julho de 2022

Há quase 30 anos, biblioteca feita por moradores muda vidas em Lavras da Mangabeira, no Cariri


No final de uma tarde, em julho de 1995, um marco cultural iluminava o Distrito de Mangabeira. Nascia naquele momento a primeira biblioteca da região e o sonho do professor Francisco lvonildo Dias da Silva tornava-se uma realidade.

 

Hoje, com 15 mil obras no acervo, a Sala de leitura José Cândido Dias preserva a missão de atender o público estudantil e a comunidade de uma maneira geral. Sem aporte público, o espaço vê essa trajetória render frutos no campo da leitura.

 

Com aproximadamente cinco mil habitantes, o distrito fincado no município de Lavras da Mangabeira, na região do Cariri cearense, foi palco recentemente da primeira Feira Literária de Mangabeira (Fliman). Ao comentar a história da biblioteca comunitária, o professor Dias da Silva ressalta a força coletiva que ergueu o lugar.


“Papai cedeu um terreno encostado na casa dele. Ficou alegre com a ideia. E com a ajuda do povo, um dava telha, um tijolo, construímos o prédio para abrigar estes livros”, relembra. Nestes quase 30 anos de atividade, não só o distrito, como os estudantes de cidades vizinhas também foram beneficiadas.

 

Ofertar o acesso ao universo das letras permitiu mudanças significativas naquele território, reflete o idealizador. “Você nota, pelo entusiasmo, sobretudo de pais de família, com filho na escola. Notamos o valor que eles dão naturalmente ao livro e a Sala, pois, realmente, eles sentem o filho pesquisar na biblioteca”.


Professor Dias da Silva (ao centro) e frequentadores da biblioteca

ENCONTRO COM OS LIVROS

O nome da Sala de Leitura José Cândido Dias homenageia o pai do fundador. Afinal, a partir da doação paterna o equipamento pode ser efetivado. Curiosamente, enfatiza Dias da Silva, o ambiente em sua família não era de livro, não havia isso.

 

Por compreender essa realidade, o escritor, editor e crítico literário percebeu a urgência de criar a biblioteca. “Àquela altura, a localidade contava com duas escolas públicas. Alunos e professores não tinham onde pesquisar para fazer um texto, um estudo qualquer, não tinham fontes”, situa.


Hoje, a comunidade de Mangabeira têm a sua disposição uma sala de leitura com mais de 15 mil livros

Dias da Silva bancou as despesas de funcionamento e manutenção do equipamento. Reconhecido nas letras cearenses, sua contribuição com o ensino em Mangabeiras é motivo de orgulho para os moradores. “Vamos ter que expandir, pois não comporta os livros que recebemos de doações, é uma biblioteca para o povo”, defende.

 

A realização da Feira Literária de Mangabeira (Fliman) representa, em certo ponto, a luta da Sala de Leitura José Cândido Dias. Professor Dias da Silva parabeniza o evento e comemora o fato da iniciativa ser realizada a cada dois anos.

 

Do início nos anos 1990 ao momento hoje com bienal de literatura, a pequena comunidade respira os benefícios do acesso ao saber. “A maneira de prolongar a existência do livro é abrindo livro, a leitura é quem faz e prolonga a existência. O livro guardado na gaveta, sem que alguém pegue e leia, ele não existe. O livro é sagrado”, compartilha Dias da Silva.



É HORA DA FLIMAN

Para o escritor e um dos nomes à frente da Fliman, Pedro Luiz Oliveira, a Sala de Leitura José Cândido Dias permitiu a atmosfera cultural e o sentimento para que a feira acontecesse. Realizada entre os dias 15 e 16 de julho, a atividade reverberou na região sul do Ceará (Cariri, Lavras da Mangabeira, Cedro, Várzea Alegre, Aurora, entre outros municípios).

 

Gratuita, a primeira edição da Fliman apresentou caráter plural. Reuniu várias atividades, como apresentações literárias, lançamentos de livros (com oito obras apresentadas), palestras, além de shows com artistas locais e convidados.

 

“Mangabeira é um distrito, comunidade pequena, cinco mil habitantes, mas que tem tradição literária. Catalogamos 40 escritores de vários gêneros: poesias, crônicas, contos e historiografias. Essa Feira estava latente para acontecer, de fato, agora concretizou-se", comemora Pedro Luiz Oliveira.

 

O objetivo para o futuro é organizar uma edição a cada dois anos, demarcando assim espaço no calendário cultural do Ceará. Com o tema “Mangabeira, história e afeto”, a primeira edição da Fliman foi considerada um sucesso pela organização.

 

Para Pedro Luiz Oliveira, acontece em um momento decisivo para os jovens do lugar. “É fundamental para a comunidade, sobretudo agora que tivemos a pandemia e cresceu a distância entre alunos e a sala de aula”, finaliza.

 

Fonte: Diário do Nordeste

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