sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Família ganha direito de receber remédio à base de cannabis por efeitos da Covid-19 em bebê


A dona de casa Edijane dos Santos conseguiu na Justiça o direito de receber gratuitamente um medicamento à base de canabidiol para o filho pequeno, após a criança desenvolver um quadro de encefalopatia crônica e epilepsia refratária por conta da Covid-19 que pegou aos 2 meses de vida. O canabidiol é uma substância extraída da Cannabis sativa, nome científico da maconha.

 

Para garantir o remédio, Edijane procurou a Defensoria Pública do Estado do Ceará (DPCE) para dar entrada na ação, por não ter condições de dar continuidade ao tratamento do filho, que necessita da medicação para não atrapalhar o seu desenvolvimento.


“Foi um período de muito sofrimento pra gente, ele ficou 43 dias internados, sendo que ele ficou 20 dias entubado, depois de pegar Covid-19 com 2 meses. Ainda no hospital, ele desenvolveu uma série de complicações por conta da doença. Teve hemorragia nos rins, coagulação no sangue e um AVC. Mas graças a Deus ele foi guerreiro e conseguiu vencer todas essas complicações”, relembrou a mãe.

 

Após um mês da alta hospitalar, o pequeno Gaell desenvolveu mais uma complicação decorrente da doença e passou a ter frequentes crises de convulsão, deixando a família, natural de Sergipe, ainda mais aflita.

 

"Quando fizemos o exame que a neurologista pediu, descobrimos que tinha um coágulo de sangue no cérebro do Gaell e logo depois foi feita uma cirurgia, para que todo o líquido fosse drenado, mas mesmo assim ele não teve melhora das crises de convulsão. A partir daí foi indicado o tratamento com medicamentos. Foram receitados vários, mas nenhum tinha efeito sob as crises", disse Edijane.

 

As sequelas da Covid são muito recentes e vêm sendo estudadas por especialistas. O que se sabe é que cada organismo reage de uma maneira após a infecção e no caso de Gaell foi com as crises convulsivas.

 

Após esgotar todos os tratamentos possíveis, a família recebeu recomendação médica para começar um tratamento com o canabidiol. O objetivo do uso era reduzir a intensidade e frequência das convulsões. No entanto, o medicamento não está disponível na rede pública e tem um alto custo.

 

R$ 12 mil em medicação

Como a criança precisa de quatro frascos do medicamento por mês, a família não tinha condições de arcar com o valor do tratamento e procurou a Defensoria.

 

"Depois que o Gaell começou a tomar a medicação à base do canabidiol, ele teve uma grande melhora. Isso foi um alívio pra gente, pois ele também estava sofrendo muito com essas crises e isso vinha atrapalhando o desenvolvimento dele. Mas essa é uma medicação muito cara. Os 4 frascos que ele precisa, por mês, dá cerca de 12 mil reais, o que é inviável pra gente. Foi aí que eu tive a ideia de procurar a Defensoria", relatou a mãe da criança.

 

O defensor público titular da 3° Defensoria da Infância e Juventude, Adriano Leitinho atuou no caso. Para ele, essa decisão tem uma grande importância, uma vez que certos problemas de saúde não vem mais respondendo da maneira adequada aos tratamentos convencionais, sendo o canabidiol uma saída alternativa que vem melhorando o estado de saúde de muitas crianças e jovens.

 

"Cabe ressaltar que o CFM já vem autorizando o uso do canabidiol no tratamento de crianças e adolescentes. Assim sendo, decisões como a deste processo vão ao encontro do princípio da proteção integral previsto no ECA", comentou o defensor Adriano Leitinho.

 

A defensora pública Karinne Matos, titular do Núcleo de Saúde da Defensoria (Nudesa), que também atuou no caso, vê essa decisão como um passo importante e reforçou a importância da medicação.

 

"Como hoje você já pode comprar em farmácia a medicação, mas não é barata, as pessoas recorrem à Defensoria para ter acesso. Faz-se necessário um relatório médico com todas as informações, inclusive a de que outros medicamentos foram usados para o tratamento, mas não tiveram êxito", explicou a defensora.

 

Fonte: g1 CE

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