Lula no JN com William Bonner e Renata Vasconcellos. Foto: Marcos Serra Lima/g1 |
O ex-presidente e candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, disse nesta quinta-feira (25) em entrevista ao Jornal Nacional que "não pode dizer que não houve corrupção" na Petrobras em governos petistas. Ele ainda admitiu erros da ex-presidente Dilma Rousseff na economia e disse que quer pacificar o país.
Lula é o terceiro candidato a ser entrevistado nesta semana pelo JN. Na segunda-feira (22), foi o presidente Jair Bolsonaro (PL); na terça (23), o candidato Ciro Gomes (PDT). Nesta sexta-feira (26) é a vez de Simone Tebet (MDB).
Foram convidados os cinco candidatos mais bem colocados na pesquisa divulgada pelo Datafolha em 28 de julho. André Janones (Avante), que estava entre os cinco, retirou a candidatura.
Um sorteio realizado em 1º de agosto com representantes dos partidos definiu as datas e a ordem das entrevistas.
Logo no início da entrevista, Lula foi questionado sobre casos de corrupção na Petrobras durante governos petistas, investigados pela Operação Lava Jato.
Ele lembrou que investigados que fizeram delação premiada confessaram a corrupção. Diante disso, segundo Lula, não há como dizer que não houve irregularidades.
"Deixa eu te falar uma coisa, você não pode dizer que não houve corrupção se as pessoas confessaram", disse Lula.
Na sequência, ele criticou o fato de delatores terem tido penas e sanções reduzidas.
"O que é mais grave é que as pessoas confessaram e, por conta das pessoas confessarem ficaram ricos por conta de confessar. Ou seja, foi uma espécie de uma delação premiada. Você não só ganhava liberdade, por falar o que queria o Ministério Público, como você ganhava metade do que você roubou. Ou seja, o roubo foi oficializado pelo Ministério Público", prosseguiu Lula.
Questionado sobre o que fará, caso eleito, para combater a corrupção, Lula disse que é preciso denunciar e punir os culpados.
"Punindo as pessoas, denunciando as pessoas. O que eu acho maravilhoso é denunciar a corrupção. O que é grave é quando a corrupção fica escondida. Por isso que eu acho importante uma imprensa livre. Por isso que eu acho importante uma justiça eficaz. Porque se tiver um problema de corrupção, tem que ser denunciado", declarou o candidato.
Erros da gestão de Dilma Rousseff
Outro tema da entrevista foi a economia. Lula foi questionado se, caso eleito, adotará políticas econômicas do seu governo ou as do governo da ex-presidente Dilma Rousseff, sua aliada e sucessora. Nos últimos anos da gestão de Dilma, o país viveu uma forte crise econômica.
Lula reconheceu erros do governo de sua aliada. Ele citou a "questão da gasolina", em referência ao fato de Dilma ter segurado artificialmente os preços. Ele também criticou as desonerações para o setor produtivo concedidas pela ex-presidente.
"Eu acho que a Dilma cometeu equívoco na questão da gasolina, ela sabe que eu penso isso. Acho que cometeram equívoco na hora que fizeram R$ 540 bilhões de desoneração e isenção fiscal de 2011 a 2014", refletiu Lula.
Novamente o ex-presidente foi questionado se implementaria as políticas econômicas de seus mandatos ou se basearia nas opiniões do PT que orientaram Dilma. O candidato não respondeu diretamente – mas afirmou que quer "fazer melhor do que fez".
"A minha obsessão, um homem de 76 anos que diz todo dia que tem energia de 30, de voltar a governar esse país, é porque eu acho que é possível recuperar esse país, a economia voltar a crescer, a gerar empregos, a gerar melhoria nas condições de vida da pessoa", declarou.
O candidato do PT foi confrontado com números da recessão que atingiu o Brasil no segundo governo Dilma – inflação de 10,6% e retração do PIB de 3,5% em 2015. Como resposta, lembrou que seu vice é o ex-governador Geraldo Alckmin, hoje no PSB, mas egresso do PSDB. A campanha usa a imagem de Alckmin como uma garantia de condução estável da economia.
"[Vou] Fazer uma gestão de acordo com aquilo que nós construímos. Eu hoje tenho 10 partidos junto comigo, e ainda tenho a experiência do ex-governador [Geraldo] Alckmin comigo. Muita gente pensava um ano atrás que era impossível o Lula se juntar com Alckmin. E eu me juntei para dar uma demonstração para a sociedade brasileira, que política não tem que ter ódio. Política é a coisa mais extraordinária para você estabelecer convivência entre os contrários", afirmou.
Pacificar o país
Lula falou sobre pacificar o país quando foi questionado sobre o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).
O candidato afirmou que o MST hoje é diferente de 30 anos atrás, quando invadia propriedades rurais.
Lula emendou com uma fala de que é preciso ter paz no campo e que fazendeiros apoiam Bolsonaro porque o presidente está facilitando acesso a armas de fogo. Mas, segundo Lula, arma não é a solução.
"O MST está fazendo uma coisa extraordinária, está cuidando de produzir, não sei se você sabe, o MST hoje tem várias cooperativas, o MST é o maior produtor de arroz do Brasil. Você tem que visitar uma cooperativa do MST, você vai ver que aquele MST de 30 anos atrás não existe mais", disse o ex-presidente.
"Agora, o Bolsonaro está ganhando o fazendeiro porque está liberando arma. Tem gente que acha que é bom ter arma em casa, que acha que é bom matar alguém. Não, o que nós queremos é pacificar esse país", continuou Lula.
Orçamento secreto
Outro tema tratado na entrevista foi o orçamento secreto. Lula chamou a prática de "escárnio".
Orçamento secreto é como ficaram conhecidas as emendas parlamentares chamadas de emendas de relator. Elas obedecem a filtros menos transparentes que outras emendas e são distribuídas com base em critérios arbitrários.
Para Lula, o poder Executivo ficou refém do Congresso em razão do orçamento secreto.
"Hoje, não é só o presidente da República, não. Os governadores dos estados estão reféns dessas emendas secretas também. Porque antigamente o deputado ia conversar com o governador para fazer a aplicação de verba. Hoje, os deputados não conversam mais. Tem deputado liberando R$ 200 milhões, R$ 150 milhões, R$ 100 milhões. Isso é um escárnio. Isso não é democracia", argumentou Lula.
Para o ex-presidente, o orçamento secreto é uma “usurpação do poder”. Lula disse ainda que a prática fere o modelo presidencialismo. Ele argumentou que não pode haver um “semipresidencialismo” ou “semiparlamentarismo” dentro do regime presidencial.
"Isso aqui é usurpação do poder. Ou seja, acabou o presidencialismo. Bolsonaro não manda nada. O Bolsonaro é refém do Congresso Nacional. O Bolsonaro sequer cuida do orçamento", argumentou o ex-presidente.
“Acabar com essa história de semipresidencialismo, de semiparlamentarismo no regime presidencial. O Bolsonaro parece o bobo da corte, ele não coordena o orçamento”, completou.
Na entrevista, o petista ainda se comprometeu a acabar com a prática em dois passos. O primeiro é a eleição de deputados e senadores “com outra cabeça”. O segundo, convencer os parlamentares a abandonar as emendas.
Polarização x estímulo ao ódio
Lula foi questionado sobre o discurso do "nós contra eles" que, ao longo dos governos do PT, alimentou uma forte polarização entre direita e esquerda e resultou em episódios de violência entre militantes dos dois grupos. Como resposta, Lula disse que a polarização é saudável e que nunca tratou os opositores do PSDB, à época, como inimigos.
Ele afirmou ainda que polarização é diferente de "estímulo ao ódio".
"Feliz era o Brasil e a democracia brasileira quando a polarização nesse país era entre PT e PSDB. A gente era adversário político, a gente trocava farpas, mas a gente se encontrava num restaurante e eu não tinha nenhum problema de tomar uma cerveja com o Fernando Henrique Cardoso, com o José Serra ou com o Alckmin. Porque a gente não se tratava como inimigo, a gente se tratava como adversário", disse.
O candidato do PT comparou a militância política com "torcidas organizadas" para dizer que os episódios de violência foram isolados, e que o discurso de "nós contra eles" não estimulava a agressão.
"Quando você tem democracia e quando você tem mais que um disputando, a polarização é saudável. Ela é importante, ela é estimulante, ela faz a militância ir pra rua, carregar bandeira. O que é importante é que a gente não confunda a polarização com o estímulo ao ódio. Eu me dou muito bem com o PSDB, que foi meu principal adversário durante tanto tempo", disse.
"Tem uma frase do Paulo Freire que é fantástica, que eu utilizei para mostrar aos militantes do PT a entrada de Alckmin no PT. 'De vez em quando, a gente precisa estar junto com os divergentes para vencer os antagônicos'. E agora, nós precisamos vencer o antagonismo do fascismo, da ultradireita", prosseguiu.
Alckmin como vice
Ao ser questionado sobre a recusa de parte da militância petista em aceitar a escolha do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB) como candidato a vice-presidente, Lula disse que o paulista foi aceito de “corpo e alma” pelo PT.
“O que eu não quero é que o PT peça pra ele se filiar, porque a gente não quer brigar com o PSB”, afirmou.
“Eu estou até com ciúmes do Alckmin. Você tem que ver que sujeito esperto. Ele fez um discurso no dia 7 de maio, sabe, quando ele foi apresentado oficialmente ao PT, que eu fiquei com inveja. Ele foi aplaudido de pé. Pergunta pra esposa dele pra dona Lu, que anda com a Janja, para ver o como ela está gostando da coisa. O Alckmin já foi aceito pelo PT de corpo e alma”, declarou.
Segundo ele, se eleito, Geraldo Alckmin vai “ajudar”. “Eu tenho 100% de confiança que a experiência dele como governador de São Paulo e depois de mais seis anos como vice do Mário Covas vai me ajudar a consertar esse país”, disse.
Lista tríplice para a PGR
Questionado se seguiria a lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) para escolha do procurador-geral da República, Lula disse que ainda não definiu como vai proceder.
“Eu não quero definir agora o que é que eu vou fazer. Primeiro eu preciso ganhar as eleições. Esse negócio de a gente ficar prometendo fazer as coisas antes de a gente ganhar, a gente comete um erro”, disse.
Cabe ao presidente da República escolher o procurador-geral. A ANPR elabora uma lista com os três nomes mais votados pela categoria. O presidente não é obrigado a escolher alguém da lista tríplice, mas esse vinha sendo o costume nos últimos anos.
Até que em 2019 o presidente Jair Bolsonaro escolheu Augusto Aras para comandar a PGR e repetiu a escolha em 2021, ignorando a lista tríplice da associação nas duas ocasiões.
Se eleito, Lula afirmou que terá “várias reuniões com o Ministério Público para discutir os critérios”. O candidato afirmou também que não quer um procurador-geral da República “amigo”.
“Eu não quero amigo no Ministério Público. Eu não quero amigo na Polícia Federal. Eu não quero amigo no Itamaraty, não quero amigo em nenhuma instituição. Eu quero pessoas competentes, pessoas ilibadas, pessoas republicanas e pessoas que pensem sobretudo no povo brasileiro”, disse o candidato.
Fonte: g1
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