Neste ano, 34.988 casos de dengue foram confirmados no Ceará. Atualmente, os sorotipos da dengue 1 e 2 circulam no Estado, com predominância do segundo, presente em 35 municípios. Esse cenário é preocupante porque esta linhagem não circula de forma relevante no Estado há cerca de oito anos. Dessa forma, parte da população está mais suscetível à infecção. Os dados são da Secretaria da Saúde do Estado, estando atualizados até 26 de setembro.
O pico no número de diagnósticos foi registrado entre as semanas epidemiológicas (SE) 18 a 26, que correspondem aos meses de maio e junho. O primeiro semestre tradicionalmente apresenta maior número de casos de arboviroses devido ao período chuvoso, concentrado nos meses de fevereiro a maio, com maior recorrência em março e abril, o que interfere na reprodução do mosquito Aedes aegypti, transmissor do vírus.
Boletim epidemiológico de arboviroses da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), publicado nessa terça-feira, 1º, aponta cenário de transmissão sustentada e epidemia de dengue naquele período, com pico 65,5 casos por 100 mil habitantes.
O biólogo epidemiologista Luciano Pamplona, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que a situação é mais preocupante quando há a circulação de mais de um sorotipo da dengue ao mesmo tempo, pois "tem mais chance de infectar mais gente".
Enquanto o "DENV 2" está circulando em 35 municípios, o "DENV 1" foi registrado em 13. Ambos circulam concomitantemente em duas cidades cearenses: Forquilha e Bela Cruz.
"O que está preocupando agora é a circulação do dois, com alta infestação", alerta. Ele explica que esse sorotipo da dengue não é mais grave em si. Mas como não circula há algum tempo na população, existe maior contingente populacional suscetível a ele. Este ano, 24 pacientes tiveram quadro de dengue grave no Ceará, segundo balanço da Sesa.
"Todos [os sorotipos] podem causar a dengue hemorrágica, que é chamada agora de dengue grave", afirma. Existem quatro vírus do tipo dengue. "Podemos ter dengue quatro vezes na vida. Se for infectado com um deles, não pega o mesmo vírus pelo resto da vida. Se pegou outro vírus, aumenta a chance de ter de forma mais grave", detalha Pamplona.
Os quadros de dengue podem ser mais graves em crianças e idosos. Dos casos confirmados de dengue este ano, 40,4% (14.145) dos enfermos estavam com entre 20 e 39 anos; e 57,1% (20.001) eram do sexo feminino. O boletim epidemiológico ressalta que 26,6% (9.312) dos casos confirmados ocorreram em menores de 19 anos.
A maior parte dos casos, entretanto, não precisa de internação e é tratada a nível ambulatorial. "Quando um médico atende, deve classificar em três níveis: dengue, dengue com sinais de alarme ou dengue grave. Normalmente, apenas o nível três precisa de internação. Em alguns casos, pacientes no nível dois também", diz.
Foram confirmados 230 casos de dengue com sinais de alarme e 24 casos de dengue grave, dos quais 15 (68,1%) evoluíram para óbito. O epidemiologista detalha que o principal mecanismo da doença é a perda de líquido, que evolui nos casos graves.
"Quando a gente fala hemorragia, é perder líquido também para dentro do corpo, o que é chamado de extravasamento plasmático. Por isso, alguns pacientes ficam inchados. Não é apenas quando perde líquido externamente. Por isso, o principal manejo é a hidratação", pormenoriza.
Luciano Pamplona frisa que o alerta agora é para lembrar as pessoas que esse problema continua e que "agora é a hora fundamental para preparar a casa, tomar os cuidados, antes do período chuvoso". No Ceará, a pré-estação chuvosa é observada nos meses de dezembro e janeiro, seguida da quadra chuvosa propriamente dita. Entre 2021 e 2022, a pré-estação foi a de maior nível de precipitação desde 2021, enquanto a quadra chuvosa em si foi a terceira melhor em 10 anos.
Com as precipitações, há maior acúmulo de água e, consequentemente, proliferação do Aedes aegypti, transmissor das arboviroses.
Fonte: O Povo
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