Fátima Pinho se reuniu com diversos amigos durante a campanha de Lula na corrida eleitoral. Foto: Arquivo pessoal |
Ser uma "partícipe da história". Essa é a intenção da professora Fátima Pinho, 56 anos, e de outros cearenses para o dia 1º de janeiro de 2023. Ela e outros eleitores saíram do Ceará rumo a Brasília (DF) para assistir à posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O evento, tradicionalmente realizado no primeiro dia do ano seguinte às eleições presidenciais, marca o retorno do petista ao maior cargo do Poder Executivo do país. Lula já governou o Brasil por dois mandatos, entre 2003 e 2006 e 2007 e 2010.
Na perspectiva da docente do curso de história da Universidade Regional do Cariri (Urca), a terceira vez de Lula na presidência da República é motivo de uma "grande festa". "Acho que o Lula é um grande estadista, um grande político. Ele merecia, o Brasil merece", afirmou.
Em razão disso, ela e um grupo de amigos se anteciparam ao pleito e fizeram uma brincadeira no começo do ano. Num jantar com outros sete professores, fizeram um brinde com uma predisposição: trabalhar para Lula ganhar e ir para a eventual posse, caso ele fosse eleito.
Logo após 30 de outubro, data em que Lula saiu vitorioso sobre Jair Bolsonaro (PL), o grupo já iniciou os preparativos para a viagem. Desse modo, ela e outros cinco amigos compraram ida no mesmo voo, saído de Fortaleza no dia 30 de dezembro, e hospedagem no mesmo local. Os outros dois não vão juntos, mas ficarão nas proximidades.
"Assim que se confirmou, na mesma semana da eleição, a gente já marcou hotel e voo [...] Na semana seguinte fechamos; já estamos é terminando de pagar", disse aos risos.
Além disso, Fátima criou um grupo no WhatsApp para combinar um encontro na capital federal. "A nossa ideia é a gente se encontrar lá e combinar uma atividade", apontou a professora, situando que o grupo começou com cerca de 12 pessoas, a maioria colegas da Urca, mas já reúne "muito mais".
"A ideia é essa: quanto mais gente daqui do Crato, do Cariri, se encontrar lá, melhor."
Sonho
A professora aposentada Vera Lúcia Cardoso, 67 anos, já ansiava pela viagem havia muito tempo — desde 2016, após o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), ela mantinha a expectativa de acompanhar a posse do petista numa eventual volta dele ao poder.
"Eu quero ser um número a mais a dar sustentabilidade a essa posse de Lula. Quero dizer pro mundo que estou na contagem das pessoas que foram dar força pra ele. Ele não vai saber que estou lá, mas vai saber da força que estou dando."
Com as condenações de Lula na Justiça do Paraná (PR), a intenção da aposentada foi postergada. No entanto, após anulação dos processos contra Lula na operação Lava Jato e parcialidade do ex-juiz Sergio Moro, o ex-presidente voltou a ser elegível, e Vera Lúcia passou a nutrir a esperança de vê-lo chefiar o Executivo novamente.
"É uma expectativa muito grande de estar nesse momento, que representa muito pra mim, essa reeleição, e principalmente por conta das pessoas mais fragilizadas."
Por encarar a nova eleição de Lula como "excepcional", a idosa decidiu iniciar a empreitada rumo a Brasília. Assim, usou parte de economias guardadas para necessidades para concretizar a viagem, que ainda não tem data certa de partida.
Conforme contou ao g1, Vera Lúcia deve partir de Crato entre os dias 28 ou 29 de dezembro, em ônibus fretado para levar uma caravana especificamente para o destino. Até lá, deve passar pelo menos dois dias em trânsito, devendo retornar ao Ceará ainda no mesmo dia da solenidade de posse.
Apesar das dúvidas sobre as datas e o trajeto a ser percorrido, a aposentada mantém uma certeza: a estada na capital federal se dará num acampamento com outros eleitores. E o petista não será a única estrela a ser assistida — a aposentada terá, como comentou, "o céu como teto do hotel."
Silvio e amigos |
"Se for de avião, não tem essa experiência, de conhecer pessoas que têm os mesmos interesses, defendem o mesmo que a gente. É muito enriquecedor", afirmou. Segundo Vera Lúcia, a virada do ano assumirá um ar distinto, dado que, geralmente, passa o momento em casa, ao lado de familiares e sem muitas festas.
"Meu réveillon possivelmente vai ser dentro de ônibus, é possível que eu ainda esteja dentro do ônibus. Mas esse réveillon vai ser o melhor da minha vida."
Momento histórico
Embora as duas mulheres tenham programações diferenciadas para a viagem, ambas convergem na percepção do que o ato representará: um momento histórico.
"Acho que é um momento histórico pro Brasil, que agora volta a ter a democracia em sua plenitude. Porque a democracia estava ameaçada; agora, vamos voltar à normalidade", afirmou a professora da Urca, que se distanciará da família para contemplar a posse.
Conforme a docente, ela abrirá mão da companhia dos três irmãos, que vivem em Fortaleza e com quem buscou se reunir nos últimos anos, dado o contexto da pandemia da Covid-19. A escolha, porém, será usada como mote para outros momentos em família: ela pretende contar a viagem para os netos futuramente.
Para Vera Lúcia, assistir à posse simboliza vivenciar uma reiteração da democracia, a qual estava "em xeque" desde o impedimento de Dilma, na perspectiva dela. Após ler diversas obras sobre a ditadura militar, ocorrida entre 1964 e 1985, ela vislumbrou que o regime político no Brasil estava "indo pelo ralo".
"Eu quero dizer que estou muito esperançosa. Minha esperança aflorou com essa eleição. A gente não pode viver sem democracia. Se a gente vive sem, a maioria tem tudo e a minoria tem nada. A gente tá no caos, e sei que não vai pro paraíso, mas vai dar os primeiros passos pra melhorar a situação."
Fonte: g1 CE
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