Foto: Antônio Rodrigues |
A cidade de Barbalha é notabilizada pela festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio, reconhecida como Patrimônio Cultural Brasileiro. No entanto, as ladeiras do bairro do Rosário revelam outra tradição forte na terra dos Verdes Canaviais: o Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos do Morro, a mais antiga escola de samba da região do Cariri, que completa, em 2023, 60 anos de história.
Nas cores verde e brando, a Unidos do Morro nasce num território que ainda é tido como um dos maiores berços do samba no Sul do Ceará. Mas para se tornar uma escola de samba, uma pessoa teve papel fundamental: Francisco Pereira de Oliveira, o Fanequim. Após passar uma temporada no Rio de Janeiro, Fanequim retornou à Barbalha em 1961 e notou a segregação da sociedade local. De família humilde, enxergou que havia um único clube da cidade, o Cetama, que era frequentado pela elite.
Com alguns amigos, em 1962 alugou um prédio e fundou o Clube Maguary, que também possuía um bloco homônimo. A brincadeira cresceu e, em outubro daquele ano, ao lado de figuras marcantes como Rolinha e Chico Gurema, Fanequim deu início ao projeto de escola de samba. Com dois taróis, dois surdos e um bumbo o grupo iniciou os ensaios. O trabalho foi crescendo e, em fevereiro de 1963, já agregava 20 ritmistas e um casal de passistas.
O carnaval de 1963, o primeiro que a Unidos do Morro tomou as ruas, ainda reproduzia alguns sambas de sucesso do rádio, como músicas do carioca Roberto Silva. Até que advertiram Chico Gurema: era preciso uma letra própria. Um samba original. Então, ele escreveu o primeiro samba-enredo da Unidos do Morro, de versos simples e fáceis de decorar: “A nossa escola tem muita presença. Todos unidos com muita cadência. A nossa escola é um estouro. Todos aplaudem a Unidos do Morro”.
Como pioneira no carnaval, a Unidos do Morro se tornou um ícone para toda a região. Outras escolas foram surgindo na própria Barbalha e, em 1991, foi criada a Liga Independente das Escolas de Samba de Barbalha que, entre idas e vindas, já chegou a ter seis agremiações filiadas. A Verde e Branca é a maior campeã com sete títulos. “Ela é a mãe de todas as escolas”, acredita o mecânico Nilo Veloso Júnior, ex-presidente da escola e atual diretor de Carnaval.
Neste carnaval que celebra suas seis décadas, o samba-enredo não poderia ser diferente. “60 Anos de Amor: Construindo a Magia do Carnaval Barbalhense” vai relembrar os ícones dessa trajetória, como os próprios Fanequim, Rolinha e Chico Gurema. “A gente teve uma oportunidade única de conviver até o fim da vida desses três baluartes. No samba, a gente faz uma menção à história da escola, como foi fundada. É uma louvação a todos”, explica Nilo Júnior.
Os trabalhos no barracão da escola começam em agosto. Até entrar na Rua do Vidéo para cumprir mais um dia de desfile, neste sábado (18), a partir das 23h, a rotina é incessante. Máquina de costura, cola, tecido, manequim. Ao todo, cerca de 15 pessoas se dedicam diariamente para deixar todas as fantasias prontas. “A gente chega cedo não tem hora para sair, admite a passista Kerlly Gomes.
O envolvimento com a agremiação, na maior parte dos integrantes, é herança de familiares. Não foi diferente para Nilo Júnior, que frequenta a Unidos do Morro desde os 12 anos, por influência do seu pai, Nilo Costa. Seu filho, Salomão Veloso, além de instrumentista, se tornou vice-presidente da escola. Por isso, após dois anos de pandemia, se sente orgulhoso de retornar aos desfiles. “A gente faz essa festa para o povo”, resume o mecânico.
Fonte: Jornal Opinião CE
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