quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Cientistas tentam repatriar outro fóssil retirado do Cariri

FOTO: REPRODUÇÃO/TWITTER/OLOF MOLEMAN

Um estudo científico divulgado em abril reacendeu as discussões sobre ética na ciência diretamente relacionadas ao Cariri. A pesquisa descreve um fóssil, que muito provavelmente, foi retirado da Bacia do Araripe e contrabandeado para a Alemanha, onde está exposto em um museu.


Trata-se de um crânio de um dinossauro que tinha “entre 7 e 8 metros de comprimento, caminhava sobre as duas patas traseiras, o focinho longo como o de um crocodilo e se alimentava principalmente de peixes”, como detalha a paleontóloga Aline Ghilardi.


Aline é professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e iniciou uma campanha para que o fóssil tenha o mesmo destino do Ubirajara Jubatus, recentemente devolvido ao Cariri. Ela situa a Bacia do Araripe como “uma das cinco localidades mais importantes do mundo em termos de fósseis do Período Cretáceo”, a chamada Era dos Dinossauros.


“Ela é considerada um depósito do tipo ‘lagerstätte’, um termo empregado na paleontologia para se referir a depósitos fossilíferos de qualidade excepcional”.


O crânio aparentava estar completo e preservado, quando foi contrabandeado. Mas, ao ser examinado, percebeu-se que parte de sua estrutura era falsa, o que levou a ser denominado como “Irritator Challengeri”, uma alusão à palavra “irritante”.


A remoção ilegal de fósseis, além de ser um crime, impacta negativamente a ciência e setores socioculturais e econômicos. “Remover esses itens afasta a população local de sua própria história e a impede de desenvolver vínculos com o seu próprio patrimônio e território”, explica Aline. Além disso, a manutenção de fósseis na região de origem contribui para o fomento ao turismo e à conservação das peças encontradas localmente. A pesquisadora ressalta a necessidade de detectar outros fósseis possivelmente contrabandeados.


“Quando eles estão em museus e foram publicados artigos sobre eles, é mais fácil. Mas vários encontram-se ainda não-descritos, em prateleiras de instituições estrangeiras; outros estão em mãos de particulares, o que os torna praticamente irrastreáveis”, explica.


Dentre outras saídas para conter o contrabando, a paleontóloga destaca a divulgação do patrimônio existente na Bacia do Araripe, que se estende do Cariri aos estados de Pernambuco e Piauí. “O povo não tem como amar e proteger aquilo que não conhece. Ações de divulgação locais são muito importantes, principalmente ações que aproximem a população local do seu próprio patrimônio. As pessoas têm que ver e tocar os fósseis, interagir com eles e se maravilhar”, conclui.


Fonte: Jornal do Cariri

Nenhum comentário:

Postar um comentário