Pesquisa financiada pela Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP) resulta em publicação de uma nova espécie de planta para a Bacia do Araripe, Ceará, que representa a mais completa madeira fóssil de conífera do Cretáceo Brasileiro.
A nova espécie de planta, denominada Cratoxylon placidoi, foi publicada em uma importante revista internacional especializada em Paleobotânica (Review of Palaeobotany and Palynology).
A pesquisa foi liderada pela paleobotânica Dra. Domingas Maria da Conceição, pesquisadora visitante do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens (MPPCN-URCA), em colaboração com a paleobotânica e professora da URCA, Dra. Maria Edenilce Peixoto Batista, e Dra. Naiara Cipriano Oliveira, também pesquisadora visitante do MPPCN. Além disso, o estudo conta com a parceria e colaboração de renomados pesquisadores brasileiros, como Dr. Roberto Iannuzzi, Dra.Alexandra Mastroberti e Dr. William Vieira Gobo (UFRGS) e paleobotânicos estrangeiros, como Marion Bamford (University of the Witwatersrand, Johannesburg, África do Sul) e Lutz Kunzmann (Abteilung Museum für Mineralogie und Geologie, Senckenberg, Alemanha).
O nome do gênero, Cratoxylon, faz referência à unidade geológica (Formação Crato) onde o espécime fóssil foi encontrado. Já o epíteto específico “placidoi” é em homenagem a Plácido Cidade Nuvens, sociólogo e professor da URCA, que trabalhou intensamente para a criação do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens.
Segundo a coordenadora da pesquisa, Domingas Conceição, a nova espécie representa uma importante descoberta para a Paleobotânica brasileira e mundial, e representa o mais completo registro de madeira fóssil do Cretáceo brasileiro. Para a descrição desse novo componente da paleoflora da Bacia do Araripe, foram investigadas as microestruturas da planta que não são observáveis a olho nu. As análises foram feitas com auxílio de Microscopia Eletrônica de Varredura e Microscopia ótica. No espécime analisado, há presença de tecidos que comumente não se preservam no registro fóssil, como células crivadas do floema, tecido responsável por conduzir substâncias orgânicas pelo interior do corpo vegetal. As células crivadas são células vivas e com uma delicada parede celular, que normalmente são decompostas antes do processo de fossilização. Diferentemente, as traqueídes, que são as principais células do xilema secundário (madeira), são mais resistentes, motivo pelo qual fragmentos de madeiras são encontrados em abundância no registro geológico. As traqueídes são células de sustentação e condução de água das gimnospermas, e a sua resistência se deve à presença de substâncias químicas, como a lignina, que compõe suas paredes celulares, favorecendo a sua preservação no registro fóssil.
Cratoxylon placidoi representa uma planta pertencente às gimnospermas (plantas sem flores e que apresentam sementes nuas, ou seja, sementes que não estão no interior de frutos), especificamente ao grande grupo de coníferas. As coníferas são assim chamadas por carregarem as sementes em ramos reprodutivos com folhas modificadas, conhecidas como “cones”. Essas plantas apresentam uma longa história geológica de aproximadamente 300 milhões de anos.
Atualmente, as coníferas são um grupo pouco diverso quando comparado às angiospermas. No Brasil, há poucas espécies nativas, com destaque para o pinheiro-brasileiro ou pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia), que ocorre no Sul e Sudeste do país, e umas poucas espécies de pinheiro-bravo (Podocarpus spp.). Todavia, durante o início do Cretáceo (aprox. 121-115 milhões de anos atrás), a região do Araripe apresentava uma cobertura vegetal onde as coníferas eram um dos principais representantes, configurando assim uma paisagem completamente distinta do que observamos atualmente.
Para os pesquisadores, a descoberta dessa nova espécie vegetal revela o potencial da Formação Crato para os estudos anatômicos de madeiras fósseis e abre novas perspectivas para ampliação das investigações nessa área que ainda é pouco explorada na paleontologia brasileira, especialmente na Bacia do Araripe. Além disso, a colaboração científica entre diferentes instituições brasileiras (URCA e UFRGS) e estrangeiras (University of the Witwatersrand – África do Sul; Senckenberg, Alemanha) ressalta o especial interesse de pesquisadores em investigar um dos principais locais de relevância paleontológica, a fim de colaborar na compreensão da evolução da vida na Terra.
Os pesquisadores ressaltam que tal colaboração fomenta o compartilhamento do conhecimento e também a formação de recursos humanos altamente qualificados, visando um objetivo comum: a produção de novos conhecimentos científicos que nos impulsionam como sociedade. Cabe ressaltar que o próprio avanço nas pesquisas, bem como a colaboração de cientistas estrangeiros, contribui para a repressão da prática de tráfico de fósseis, estreitando laços entre instituições nacionais e internacionais portadoras de material fóssil expatriado.
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