domingo, 17 de março de 2024

No interior do Ceará, menino de 11 anos escreve para juíza pedindo que padrasto seja seu pai


Na cidade de Quixeramobim, no Sertão Central do Ceará, um caso envolvendo o parentesco de uma criança de 11 anos ganhou repercussão nacional. A história é do garoto Ângelo Ravel, que entregou uma carta para a juíza do município pedindo para registrar seu padrasto, o agricultor José Adilton, como pai.


Na última semana, a Defensoria Pública do Estado do Ceará divulgou em seu portal informativo que a Justiça reconheceu o vínculo afetivo da criança com seu padrasto. Dessa forma, Ravel passa a assumir o duplo parentesco jurídico, incluindo o sobrenome “Moraes” em seu nome e passando a ter os direitos de herdeiro legítimo.


Além disso, na certidão de nascimento de Ravel, constará o nome dos dois pais, o biológico, com quem não possui contato, e o afetivo, que convive há 7 anos.


Ravel insistiu para escrever carta, ganhou pai e carinho da cidade

Teresa Cristina Nunes, mãe da criança, explica que, no começo, a família não esperava que fosse possível incluir o sobrenome do pai afetivo. “A gente não sabia que existia essa possibilidade (de incluir o duplo parentesco), a gente achava que só quando ele tivesse 18 anos, provavelmente, ele pudesse mudar”, informa a mãe.


Teresa explica que Ravel, teve conhecimento de que uma juíza estaria “distribuindo cestas básicas no interior” e logo perguntou se poderia escrever uma carta, pedindo para ser filho de José Adilton, e entregar à juíza. A mãe, de início, não acreditou que a estratégia pudesse funcionar, mas o menino insistiu e a carta foi escrita e entregue.


"Quando ele escreveu a carta eu pensei que não deveria entregar, porque ele ia se decepcionar, porque não ia dar certo... e foi totalmente diferente, né?", reflete Teresa.


Atualmente, caso se tornou popular entre as pessoas da cidade e os colegas da escola de Ravel. “Ele diz que quando chega na escola os colegas falam, ‘olha o menino que passou no Fantástico’, ‘o menino da carta da juíza’”, conta.


“Quando eu fui matricular o Ravel aqui na escola nova, a moça chamou o nome dele, disse que era muito bonito e a já conhecia a história”, lembra de uma ocasião. E o carinho da cidade prossegue: “Hoje mesmo, eu fui para a cidade e uma mulher na loja me perguntou sobre ele (Ravel), perguntou como é que tava a situação da audiência e eu disse que tinha dado certo”, conta Teresa.


Parentesco afetivo: o parecer jurídico do caso

Sobre as formas que poderiam ter sido adotadas para incluir José Adilton como pai da criança, o defensor público Jefferson Leite explica: “O processo de inserção do sobrenome do padrasto na certidão da criança poderia se dar tanto por meio da adoção quanto por meio do reconhecimento de paternidade socioafetiva, que ainda é um instituto novo no direito brasileiro.”


Ele destaca a representatividade do parecer jurídico para que Adilton tenha a representatividade paterna junto à Ravel. “Agora não vai ter mais problemas para se matricular, em representá-lo em entidades públicas, hospitais, instituições de ensino…”, informa o defensor. “Ravel para a ter os direitos sucessórios, direitos patrimoniais, direito a afeto.”


Jefferson também explica que qualquer pessoa pode fazer a solicitação de inclusão do parentesco, “desde que fiquem bem caracterizadas as provas de que essa relação é uma relação duradoura e permanente, de que se tratam como pai e filho, de que esses requisitos já são realizados na prática”.


Fonte: O Povo

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