sábado, 27 de julho de 2024

6 mil cearenses morrem por ano por complicações relacionadas ao colesterol alto; veja cuidados

Foto: Natinho Rodrigues


O descontrole do colesterol é uma das principais causas no agravamento de doenças cardiovasculares, que lideram a mortalidade no Brasil. Seu índice alto, pode levar ao infarto, à insuficiência cardíaca e ao Acidente Vascular Cerebral (AVC). Aproximadamente 14 milhões de brasileiros têm alguma doença no coração e mais de 380 mil morrem por ano em decorrência dessas enfermidades, o que corresponde a 30% de todas as mortes no País.


No Ceará, mais de 6 mil pessoas morrem anualmente, vítimas de condições de saúde relacionadas aos níveis altos de colesterol no organismo, segundo o Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde. É por essa preocupação que o mês de agosto, em especial o dia 8, é dedicado mundialmente ao Combate do Colesterol.


O colesterol é um composto orgânico complexo vital para o funcionamento do corpo humano, sendo produzido pelo próprio organismo, mas que também pode ser obtido em alimentos como ovos, carnes e leite integral. Presente no sangue e em todos os tecidos, ele contribui para a produção do hormônio cortisol e dos hormônios sexuais, de vitamina D, de ácidos envolvidos na digestão de gorduras e tem papel importante na estrutura e regeneração das células dos animais. “Ele é importante para diferentes funções, faz parte da composição de vários hormônios, da membrana celular, tem aplicações na fisiologia do organismo”, explica o cardiologista Ulysses Cabral, que alerta: “Em excesso, começa a acumular, formando placas de gordura, que causam problemas de circulação”.


As placas de gordura nas artérias levam, por exemplo, ao endurecimento e entupimento dos vasos sanguíneos, a denominada aterosclerose. Com a obstrução dos vasos, o coração recebe uma quantidade menor de oxigênio e nutrientes, tendo suas funções comprometidas e levando a doenças como angina, infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca e até a morte súbita. Quando acomete as artérias carótidas e cerebrais, pode levar até a acidentes vasculares cerebrais (AVC) ou derrames.


FATORES DE RISCO


Alimentação rica em gordura saturada, excesso de peso, sedentarismo, consumo abusivo de bebidas alcoólicas, estresse, hereditariedade, idade são alguns dos fatores que podem causar o desequilíbrio no colesterol. “A gente percebe que houve um aumento, porque o colesterol alto está muito relacionado aos hábitos de vida. Então, se tem uma população com maior sobrepeso, obesidade, sedentarismo, pior alimentação, percebe maiores taxas”, explica o médico.



Ulysses pontua que a população, em geral, está envelhecendo mais e, consequentemente, aparece um maior número de pacientes com descontrole de colesterol. Para se ter uma ideia, em 2022, o total de pessoas com 65 anos ou mais no País (22.169.101) chegou a 10,9% da população, com alta de 57,4% frente a 2010, quando esse contingente era de 14.081.477. “A gente também mede mais hoje. Antes, eram pedidos poucos exames. De uns anos para cá, faz parte da rotina do checkup, por exemplo”, enxerga.


O cardiologista também avalia o contexto local impacta no cuidado das pessoas com a saúde. Em um estado pobre como o Ceará, há relação direta entre, por exemplo, o sobrepeso, a obesidade com uma maior vulnerabilidade social. “Elas têm menos acesso a uma alimentação de qualidade, acabam consumindo alimentos muito calóricos, ultraprocessados, que vão levar ao acúmulo de colesterol, risco de diabetes”, avalia o médico.


CUIDADOS


Por não apresentar obrigatoriamente sintomas, o colesterol alto é mais percebido a partir de exames. Em raros casos, seu descontrole pode levar a formação de nódulos nos tendões (xantomas) e manchas amarelas em volta dos olhos (xantelasmas). Na maioria das vezes, os sinais aparecem em consequência da formação das placas de gordura nas artérias, quando a situação já pode estar avançada.


Quando atinge as artérias coronarianas, levando à angina do peito e infarto do miocárdio, os sintomas mais comuns são dores no peito (peso, aperto, queimação ou até pontadas), falta de ar, sudorese, palpitações e fadiga. Nas artérias cerebrais, os sintomas neurológicos que levam ao acidente vascular cerebral podem ser formigamentos, paralisias, perda da fala e sonolência.


Por isso, é fundamental avaliar os níveis de colesterol regularmente. Para aqueles que têm histórico familiar de doenças cardiovasculares precoces, ou seja, em familiares de primeiro grau do sexo masculino (pai e irmãos) e feminino (mãe e irmãs) que sofreram um evento cardiovascular respectivamente antes dos 55 e 65 anos, ou de colesterol alto na família, o acompanhamento deve ser feito desde a infância. A partir dos 20 anos, a medição deve ser de cinco em cinco anos.


O cardiologista enxerga que é necessário ter uma maior divulgação, mais campanhas e programas de encaminhamento dos pacientes para tratamento e medicações disponíveis. “Como é quase assintomático, as pessoas só vão saber como estão quando fazem exames, se passaram por uma rotina de avaliação e muitos não têm acesso a isso de uma forma corriqueira. Isso faz com que o número de pessoas em risco aumente”, acredita Ulysses.


TRATAMENTO


A intensidade do controle do colesterol com alimentação e ou medicamentos depende do risco cardiovascular do indivíduo. Em indivíduos de alto risco, principalmente aqueles que já sofreram um evento cardiovascular, por exemplo, recomenda-se controle intensivo do LDL-colesterol. Já em pessoas com graus menores, o controle pode ser menos intensivo, somado à prática de uma alimentação pobre em gorduras saturadas, com aumento no consumo e mono e poli-insaturados (óleos de oliva, canola e soja). Os médicos recomendam, ainda, mudanças no estilo de vida como cessação do tabagismo, atividade física regular e perda de peso se houver obesidade.


Existem medicamentos que atuam na diminuição dos níveis do LDL-colesterol, o colesterol ruim, e podem levar a um pequeno aumento nos índices do bom colesterol. Além das estatinas e ezetimiba, atualmente estão disponíveis no Brasil, potentes agentes biológicos que ajudam a reduzir o colesterol, estes últimos são denominados inibidores da PCSK9.


A medicação ajuda a reduzir, de forma significativa, o risco de infartos, derrames, necessidade de cirurgias cardíacas e angioplastias e até mesmo o risco de morte. “O tratamento está bem mais acessível. Além das medidas não-farmacológicas, que inclui prática de atividade física, evitar consumo de gorduras, óleos fritura e controle do peso, tem a medicação. A classe das estatinas, que está disponível na farmácia popular e nos postos de saúde, já diminui a produção de colesterol”, finaliza Ulysses.


Fonte: Opinião CE

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