"Minha filha, não brigue com a linha porque você perde. E eu trago isso pra vida. Quando ela dá um nó, você tem que desenrolar devagarinho. Se puxar tudo, arrebenta o fio."
A fala é da cantora Marisa Monte e está num desses recortes de vídeo que viralizam nas redes sociais. O conselho ela atribui a uma professora de tricô e crochê. Entrelaçar é um passatempo da artista.
No município de Jardim, na região do Cariri cearense, já na divisa com Pernambuco, adolescentes também estão aprendendo a tratar bem a linha e a vida. O projeto é da escola pública Napoleão Neves da Luz.
Ao menos três vezes por semana, a turma participa de oficinas de crochê. Tudo é colorido e caprichado. O pessoal tem dedicação a cada ponto. Agora, preparam um desfile para exibir produtos.
A renda extra é um objetivo, mas secundário. Existem pelo menos outros dois que, garantem, já estão sendo atingidos. O primeiro é a melhora no desempenho escolar
"A frequência melhorou. As pessoas se sentem bem aqui. Melhoraram rendimentos em matemática, português, porque o projeto tornou a escola mais acolhedora", diz o diretor Romeu dos Santos Sousa.
Outro resultado do projeto, que ganhou o nome de Entrelinhas, são os benefícios para a saúde mental. Reduziu a atenção desperdiçada em redes sociais, como conta a Mariana Leite:
"Eu passei muito menos tempo no celular. Porque fico ali entretida fazendo a peça."
Dona Martínia, mãe dela, diz que a filha parece outra pessoa:
"Mais criativa, mais produtiva, conversa melhor. Eu acredito muito em projetos sociais dentro das escolas. Porque você está lidando com pessoas. E, a partir do momento em que você interage, isso desperta."
Jânio Coelho, psicólogo e voluntário no projeto, afirma que os benefícios do crochê para a saúde mental já estão comprovados:
"Inclusive tem literatura falando, com o termo cunhado: crocheterapia. Os benefícios da própria concentração em fazer os pontos. As pessoas conseguem se concentrar ali, vão se acalmando, relaxando, diminuindo a ansiedade. Isso traz benefícios para a saúde mental."
Você que conseguiu concentração para encarar este textão, já pensou nos benefícios de deixar o celular de lado e viver um pouco aqui no mundo real?
Fonte: Diário do Nordeste
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